O Brasil não vai acabar

É próprio do momento dramático que vivemos magnificar as consequências funestas que traria ao país a vitória de sicrano ou de beltrano. Negar este truísmo é dar prova de certa ingenuidade, como se a pessoa não se desse devidamente conta de quão grave...
O Brasil não vai acabar

É próprio do momento dramático que vivemos magnificar as consequências funestas que traria ao país a vitória de sicrano ou de beltrano. Negar este truísmo é dar prova de certa ingenuidade, como se a pessoa não se desse devidamente conta de quão grave é a situação. Admitir, ainda por cima, que o Brasil é maior e mais forte do que um governo acuado e histriônico – como parece ser o caso das alternativas que o eleitorado nos servirá –,é fazer o jogo do adversário. Assim sendo, entre o fim da democracia e a venezuelização, até as pessoas mais serenas começam a se contaminar pelo negativismo mais atroz. Já vi pessoas cancelarem seus planos de férias, programarem demissões em massa e até se prepararem para viver fora. 

Pois bem, de sexta-feira para hoje, segunda-feira, resolvi dissipar essa nuvem negra que teima em pairar sobre nossas cabeças e pensar que, bem ou mal, temos uma sociedade civil minimamente organizada, uma imprensa madura e um padrão de inserção internacional que, embora tímido para o que poderíamos ter, nos compele a obedecer a um mínimo de decência. Assim sendo, embora estejamos confrontados com duas opções sumamente medíocres e algo vergonhosas, há de se levar em conta que, até por força disso, elas estarão o tempo todo tuteladas. Pois de um lado temos um partido que mesmo quando esteve no poder, jamais prescindiu da garimpagem de cabeças pensantes que dessem substância à insustentabilidade de seu discurso. 

Do outro lado, a tutela pode até nos levar à extrapolação de um Parlamentarismo de fato, simplesmente porque o Presidente seria uma entidade etérea e simbólica, sem qualquer organicidade partidária. Teria, ademais, que pedir de pés juntos aos quadros mais qualificados do Brasil para emprestar sua credibilidade a um governo onde o inquilino do Alvorada seria mero figurante de pífias funções de representatividade e que, como o tempo, até pelo desconforto que lhe inspirariam, seriam delegadas a outras instâncias, como fazia até pouco tempo a  primeira e última Presidente que tivemos. É claro que se não tivéssemos que optar entre o aparelhamento e o populismo raso, seria melhor. Mas é um pouco nossa sina de país imaturo. 

Tendo voltado do Nordeste depois de quatro dias intensos por lá, confesso que fiquei combalido de ver o estado de ânimo desolado das pessoas com a polarização que se anuncia. Não falo de militantes que tiram disso o ganha-pão e que esfregam as mãos à espera de reeditar os dias felizes em que se prevaleciam da licenciosidade dos compadres para viver em grande estilo. Tampouco dos raivosos que se viram do dia para a noite imantados de fobias dignas dos primórdios da Guerra Fria. Falo do homem e da mulher de boa vontade, educados em bons princípios e que julgaram um dia que podiam viver a vida à margem desses transbordamentos. A eles, é tempo de dizer que as pessoas passam e o país fica. E quem em 2022 teremos novas eleições. 

Que cada um cultive seu jardim de delícias para suportar melhor os baques. Estes virão, mas aqueles também existem.  

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Quinta, 28 Março 2024

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