Leite: um ícone em turbulência

Todos sabemos que numa guerra, a primeira vítima é a verdade. Na sexta-feira, 26 de abril, a imprensa pernambucana estampou comunicados de ambos os lados dos controladores do restaurante Leite, às voltas com a propriedade e gestão daquele que é consi...
Leite: um ícone em turbulência

Todos sabemos que numa guerra, a primeira vítima é a verdade. Na sexta-feira, 26 de abril, a imprensa pernambucana estampou comunicados de ambos os lados dos controladores do restaurante Leite, às voltas com a propriedade e gestão daquele que é considerado o mais antigo restaurante do Brasil. 

Méritos à parte, os "habitués" do almoço das sextas-feiras ficaram divididos. Deveriam tocar adiante a rotina de prestigiar seu local preferido, ali às margens do rio Capibaribe, em que ele pontifica como um oásis no meio de uma zona pauperizada? Ou deveriam comparecer a um almoço de desagravo ao mais conhecido dos donos, em Boa Viagem?

O litígio é, como sabemos, parte integrante da vida das sociedades. Quando tudo vai mal, a cisão é um alívio e pretexta uma batalha de desencargos em que uma parte culpa a outra pelo naufrágio. Mas tampouco é incomum que as empresas vitoriosas presenciem um cabo de guerra entre acionistas, cada um em busca dos louros e das compensações do sucesso. 

No caso do restaurante Leite, uma solução em família deverá ser encontrada em breve, já que se trata de "restaurateurs" de grande tradição no Estado, de uma família lusitana que capturou como poucas o paladar pernambucano, satisfazendo tanto o gosto pelos ingredientes locais como as incursões pela cozinha clássica portuguesa, dentro do disponível em nossos campos e mares. 

O Leite é antes de tudo um lugar garboso. Quem entra no ar refrigerado, logo esquece o calor saariano da rua e é embalado pelos acordes de um piano que executa as velhas árias de salão que mais lembram Pedrinho Mattar. A comida é boa, mas nada tem de excepcional. O cozinheiro Bigode dá conta do recado e a brigada é afiada, emocionalmente próxima da clientela. 

O que queremos? Queremos que o Leite repagine seu cardápio, já um pouco envelhecido e, até fisicamente, mal impresso. Que sacuda a poeira da acomodação e que afugente a pecha de restaurante caro que ganhou corpo nos últimos anos. O Leite é um patrimônio de Pernambuco e do Brasil. Que se reinvente, que renasça, não pereça e não naufrague.   

Acreditem ou não, apesar de ser um local de elite, é lá que pulsa um pouco da pernambucanidade de muitas gerações e de várias faixas etárias. Quando meu tio-avô esteve preso no bojo do momento político de 1930, era do Leite que chegava regularmente seu almoço. Como se vê, faz muito tempo que a gastronomia pontua alto na família. Até nas modalidades mais heterodoxas.   

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Quinta, 25 Abril 2024

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