Kakistocracia

Dia desses, a expressão esdrúxula ressurgiu nos Estados Unidos e um jornalista brasileiro disse que era uma forte candidata a ser a palavra do ano. Essencialmente, ela define o que poderíamos chamar de o governo dos piores. Nesse contexto, a tentação...
Kakistocracia

Dia desses, a expressão esdrúxula ressurgiu nos Estados Unidos e um jornalista brasileiro disse que era uma forte candidata a ser a palavra do ano. Essencialmente, ela define o que poderíamos chamar de o governo dos piores. Nesse contexto, a tentação de vinculá-la ao cenário brasileiro é inevitável. Ora, como vivemos sob a égide do tal presidencialismo de coalizão, é mais do que consagrado que as pessoas se acerquem de gente medíocre e maliciosa para o exercício de algumas funções públicas. São centenas, senão milhares, os cargos de confiança que são ocupados por beócios e iletrados, pela simples razão de que a colocação atende ao primado da contrapartida de compadrio e ao toma-lá-dá-cá do fisiologismo. Ademais, o incompetente será sempre um subordinado penhorado à lealdade, posto que esta possa ser seu único grande ativo. Pois arremessado para fora do ringue das benesses, valeria um quinto do salário que ganha, se tivesse que abrir caminhos no mundo real. 

Isso dito, bem sabemos que países como Cingapura são recordistas em bem pagar seus ministros como forma de ensejar o oposto de uma kakistocracia. No caso, uma meritocracia. Ditos altos funcionários são escolhidos por headhunters qualificados, testados em inúmeras dinâmicas de negociação e, quando empossados, fazem jus a um generoso pacote que lhes dará amplas condições de viver bem, trabalhar muito e se acercar dos melhores. Dispensável dizer que desvios de conduta que podem ser de regra em muitos países, lá são penalizados duramente, para não dizer cruelmente, segundo o ângulo. Por outro lado, veja-se o funcionamento da máquina burocrática na Índia ou na Rússia, e o choque será aberrante. A negligência fica evidente na postura, na atitude não-verbal, no descaso para com o cidadão e na prepotência com que ele lida com as demandas alheias. No Brasil, raro é o ministro que fala inglês e mais raro ainda é o burocrata que tenha uma visão de mundo amadurecida.

Nesse contexto, uma segunda vertente da kakistocracia pode aflorar quando os dirigentes de entidades são inseguros e preferem se acercar de profissionais mais dóceis, insuspeitos de querer lhes roubar o brilho em cena. Outra possibilidade advém do gosto de alguns de lidar com um certo submundo, onde encontram amplo repertório dos ardis e misérias do ser humano. "Como você aguenta lidar com uma pessoa tão vil?", já vi a pergunta ser feita a um alto dirigente empresarial. "Ora, esse cara conhece as engrenagens do sistema. É uma enciclopédia no lodaçal da condição humana. Ouvi-lo equivale a uma aula-magna de Brasil e ainda me deixa esperto contra manipuladores". É uma forma de conceber a vida, não é? Como já vi um pouco de tudo, admito também que pessoas despóticas e intolerantes podem ter um olho privilegiado para localizar os bons e estruturar uma meritocracia. Em suma, o capital humano é o bem maior de qualquer organização, pública ou privada. 

Assim, a palavra kakistocracia é não somente horrível, como sinonimiza o pior dos mundos, quando não o obscurantismo. 

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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