Nissei e a fórmula da perseverança

O trecho a seguir faz parte do livro “The Mind of the Tops – Paraná”, publicado pelo Instituto AMANHÃ, com apoio técnico da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).  Com faturamento superior a R$ 1 bilhão por ano, a N...
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O trecho a seguir faz parte do livro “The Mind of the Tops – Paraná”, publicado pelo Instituto AMANHÃ, com apoio técnico da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 

Com faturamento superior a R$ 1 bilhão por ano, a Nissei é a maior rede de farmácias do Paraná, com mais de 200 lojas em todas as cidades paranaenses com mais de 40 mil habitantes. Somente em Curitiba, onde tudo começou em 1986, possui mais de 120 pontos comerciais. Top of Mind do estado desde 2008, atua também em Santa Catarina e no interior paulista, onde vem encontrando terreno bastante favorável para progredir, graças à população de origem japonesa. A meta declarada para 2020 é dobrar de tamanho – em faturamento e número de lojas –, passando do sétimo para o quinto lugar no ranking nacional do varejo farmacêutico. Nada mau para um empreendimento relativamente novo, cujo fundador se mantém em plena atividade. O criador da rede Nissei é Sérgio Maeoka, self made man nascido em 1960 em Santa Isabel do Ivaí, ex-distrito de Paranavaí emancipado em 1952, no extremo noroeste do Paraná.

Terceiro filho de um casal de agricultores japoneses, Maeoka pertence a uma geração rural atingida em cheio pelo fenômeno da mecanização agrícola, que acelerou a urbanização do Brasil. Desde cedo, na roça, ele precisou trabalhar para ajudar no sustento familiar. Na virada dos anos 1960 para os 1970, quando a família se mudou para Apucarana, uma das principais cidades do norte paranaense, o pequeno Sérgio não deixou de frequentar a escola mas, nas horas vagas, se mostrava apto a encarar qualquer desafio. 

O primeiro emprego, aos 14 anos, foi como entregador da Farmácia Coração de Jesus, no centro da cidade, inchada por migrantes de outras regiões (que ainda chegavam atraídos pela fama das terras roxas do norte do Paraná) e de flagelados das “geadas negras” que queimaram milhões de cafeeiros em 1969 e 1975. Aos 16 anos, promovido a atendente de balcão, o jovem migrante tornou-se independente financeiramente. Quando completou 18 anos, foi transferido para Curitiba, ganhando como bônus promocional o direito de participar dos lucros da empresa. Tudo ia aparentemente muito bem, tanto que ele se casou e teve o primeiro casal de filhos. Sete anos depois, no entanto, a Farmácia Coração de Jesus acabou sucumbindo diante da concorrência da capital. Corria o ano de 1986. Inflação alta. Plano Cruzado. “Década perdida”. O que fazer?

Na partilha do patrimônio que sobrou do Coração de Jesus, Sérgio ficou com o ponto comercial, situado na Praça Tiradentes, uma região de grande movimento popular, no centro de Curitiba. Grande coisa! Sem capital para montar um novo negócio no mesmo lugar, o jovem vendedor de medicamentos tentou o salto sem rede: vendeu o ponto morto e, com o dinheiro, mais o que apurou com a venda de seu carro (um Chevette), montou uma farmácia de pequeno porte no térreo de um prédio antigo no bairro das Mercês, perto do centro. Àquela altura, era melhor começar do zero um negócio próprio, ainda que pequeno, do que continuar atrás de um balcão alheio. 

Procurando conquistar a confiança dos consumidores, Sérgio Maeoka gravou na fachada a marca Nissei, palavra que a maioria das pessoas associa automaticamente aos valores mais caros à cultura japonesa, entre eles a paciência, a persistência e a devoção ao trabalho. 

Não foi fácil. Num depoimento histórico, há alguns anos, Maeoka confessou ter andado na corda bamba: “Eu quase quebrei umas dez vezes, cansei de esperar no balcão da farmácia até as 15h50, torcendo que entrasse algum dinheiro no caixa, para pagar alguma promissória que estava vencendo naquele dia”.

Para sustentar a farmácia nesses anos críticos, a solução foi abrir um negócio alternativo a ser tocado pelos familiares, entre eles Ricardo Maeoka, seu irmão mais novo. Durante cinco anos, os Maeoka mantiveram uma pastelaria (de nome Oishi, que significa saboroso) na rua Visconde de Nácar, perto da Rua 24 Horas, uma das invenções do prefeito Jaime Lerner para dinamizar a vida noturna de Curitiba. 

Os que o conhecem, definem Sérgio Maeoka como um visionário persistente. É por aí que se explica como um jovem vindo do interior conseguiu transformar uma botica de 40 metros quadrados na maior rede de drogarias do Paraná. Foi fazendo massa de pastel à noite e, naturalmente, vendendo medicamentos durante o dia. Por menos que pareça, pastel tem semelhança com remédio: se não for bem feito, pode comprometer a saúde e o bem-estar dos consumidores. 

Em outubro de 1991, quando a Nissei completou cinco anos, Maeoka inaugurou a segunda farmácia, localizada no Shopping Metropolitan. Agora sim o salto era com rede. Missão cumprida, a pastelaria foi passada adiante. 

A Nissei permaneceu com duas lojas até 1993, quando foi aberto mais um ponto na rua Marechal Deodoro, no centro de Curitiba. No ano seguinte já havia quatro filiais e a cada ano dobrava o número, até alcançar 30 lojas em 1998. Todas na capital, onde a expansão da rede se tornara uma rotina aparentemente sem obstáculos. A Nissei parecia sozinha na raia, embora a concorrência envolvesse várias redes, inclusive uma de origem chilena, que chegou a Curitiba na onda da globalização da economia.  

Firme na capital, em 2004 a Nissei se lançou para o interior do Paraná. Começou abrindo três farmácias em Ponta Grossa. Em seguida, instalou-se nas maiores cidades do interior – Londrina, Maringá, Paranaguá e outras, numa expansão contínua e segura. No final de 2005, a rede estava com mais de 60 lojas e havia conquistado a liderança no mercado paranaense, posição que mantém até hoje, sem contar fatos paralelos como a aquisição da rede Descontão e o acordo operacional com a marca paulista Ultrafarma.


O conceito de drugstore

No final de 2010, ao concluir um novo plano de expansão, a Nissei contava com 150 lojas em Curitiba, na região metropolitana, no interior, no litoral do Paraná e nas primeiras cidades de Santa Catarina – Joinville e Itajaí. “De 2011 para cá, praticamente dobramos a atuação na região metropolitana”, contou, na época, Patrícia Maeoka, a filha mais velha, formada em Farmácia, que exercia o cargo de diretora da rede.

Em 2012 a Nissei iniciou a entrada no estado de São Paulo, tendo começado pelas cidades de Lins, Marília e Bauru, onde é bastante significativa a presença de descendente de japoneses. Antes nunca explorado, o foco na ascendência japonesa revela a forma singular com que as Drogarias Nissei enfrentam a concorrência no Brasil, o país com o maior número de drogarias do mundo: mais de 60 mil, segundo o Conselho Federal de Farmácia.  

Por aí se vê como é duro sobreviver nesse mercado: no Brasil há três farmácias para cada 10 mil habitantes, índice acima da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que prescreve uma farmácia para cada 8 mil/10 mil habitantes. Em compensação, o Brasil é o quarto maior mercado mundial de consumo de medicamentos, de acordo com o Instituto IMS Health. 

No final de 2014, as Drogarias Nissei tinham mais de 230 lojas no Paraná, Santa Catarina (9% do total) e interior de São Paulo (15%), atendendo mensalmente mais de 3,5 milhões de consumidores. Uma trajetória impecável, sem reveses, ao longo de quase 30 anos.


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Sexta, 29 Março 2024

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