Trabalhadores sentem-se inseguros no cenário pós-pandemia

Pesquisa consultou de 1.294 trabalhadores em todo o país
Há profissionais mais preocupados com os desdobramentos do pós-coronavírus, que estão procurando aprimoramento em plataformas on-line, incluindo alguns que tratam de transformação digital

forAlém de avivar temores relativos à saúde, a pandemia da Covid-19 aumentou a insegurança quanto à esfera profissional. De acordo com sondagem produzida pela consultoria de recrutamento Talenses Group, em parceria com a Fundação Dom Cabral, quase metade (47,6%) das pessoas sente medo do cenário pós-pandemia, em relação ao mercado de trabalho. O levantamento considerou as avaliações de 1.294 trabalhadores, ouvidos em abril. Em novembro de 2019, quando a abrangência era de 778 entrevistados e o coronavírus ainda não afetava todo o planeta, a proporção daqueles que manifestaram apreensão quanto ao futuro profissional era de 19,4%.

Apesar do receio do futuro, 83,2% dos entrevistados do estudo mais recente julgam estar preparados para enfrentar os desafios que poderão surgir pelo caminho. No ano passado, a taxa era de 74,6%. A pesquisa quis saber se os profissionais têm se capacitado para incorporar novos modelos de trabalho. Em novembro, a parcela que respondeu que sim chegou a 81,7% em 2019 e a 80,7% neste ano. Outro aspecto revelado diz respeito à compreensão que os profissionais têm, especificamente quanto ao ramo em que estão empregados. Em ambos os levantamentos, a maioria acredita que seu setor será "altamente impactado" por reestruturações em curto ou médio prazo. Em novembro de 2019, a porcentagem era de 79% e, em abril deste ano, de 73%.

Em ambas as sondagens, predomina o entendimento de que as transformações no âmbito profissional chegarão rapidamente, em curto ou médio prazo. Nessa questão, o índice subiu de 82,2% para 95,4%. Tendo em vista que a condição de pandemia foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) somente em 11 de março deste ano, uma série de perguntas consta apenas do levantamento mais recente. Na primeira delas, aborda-se a percepção quanto ao uso de recursos tecnológicos para se acelerar a retomada da economia. Quase a totalidade (92,8%) dos entrevistados respondeu afirmativamente.

Rotina das organizações
A empresa de consultoria também estimulou os participantes a refletir sobre a rotina das organizações. O que se nota é que parte significativa das pessoas ouvidas vislumbra uma forte digitalização dos processos. No total, 87,4% dos entrevistados julgam que a pandemia estimulou empregadores a utilizar tecnologia para realizar novas contratações de funcionários, promovendo, assim, uma "quebra de paradigma". Além disso, 95,6% consideram que o fenômeno se configura por outro fator: a incorporação de tecnologia que viabiliza procedimentos como o home office.

O palpite de 75,1% é de que novas profissões surgirão ao término da pandemia. De acordo com a pesquisa, 69,4% dos respondentes concordam com a assertiva de que as práticas nas empresas voltarão a ser como antes, mas que incluirão processos digitais, de forma permanente. Para 30,1%, todos os recursos digitais aplicados antes da pandemia serão mantidos, e somente 0,46% imagina que não existirá nenhuma inovação digital.

Com foco na digitalização em curso, os entrevistados que informaram serem responsáveis também pela seleção de funcionários elencaram, cada um, duas competências técnicas que presumem que sejam mais demandadas após a pandemia. Na primeira lista, de novembro, destacavam-se habilidades técnicas, específicas de sua área de atuação (91,4%); inglês avançado ou fluente (48,7%); e habilidades com pacote Office [série de programas com várias funcionalidades, como editor de textos e planilhas, da Microsoft] (27,3%). Quando o contexto da pandemia é levado em conta, a primeira posição é ocupada pelas habilidades digitais (78,2%), que inicialmente eram destacadas por 26,3% dos entrevistados apenas; seguidas de habilidades técnicas, específicas de sua área de atuação (75,2%); e inglês avançado ou fluente (29,1%).

Já no grupo de competências comportamentais, a avaliação que fazem é de que a proatividade, que concentrava 72,1% das indicações, ficando no topo da lista, perderá relevância após a pandemia. A porcentagem dos entrevistados que a veem como fundamental é de 37,1% na sondagem mais atual, que é encabeçada pela flexibilidade (50,9%), sendo seguida pela resiliência (41,6%) e a proatividade (37,1%). Saber conviver com os colegas (relacionamento interpessoal) era a qualidade que se encontrava na vice-liderança e, com a inversão, caiu para a sétima posição. Há a crença de que a análise crítica (18%), a organização (17,8%) e a vivência em outras culturas/intercâmbio (1,8%) serão as características menos cobradas dos funcionários.

Segundo o diretor-executivo do Talenses Group, Luiz Valente, há profissionais mais preocupados com os desdobramentos da pandemia, que estão procurando aprimoramento em plataformas on-line, incluindo alguns que tratam de transformação digital. "As pessoas chegaram à conclusão de que há vida trabalhando remotamente, de que é possível se trabalhar com produtividade, entregar o que se precisa, realizar atividades, trabalhando 100% de maneira remota. Então, isso fez com que começassem a acreditar mais que estão preparadas para trabalhar longe do escritório", avalia.

Direcionamentos
Sobre tendências a se esperar, Valente disse que despontam algumas "mais óbvias", como o home office, mas que outras mais novas remanescerão. "O processo de recrutamento feito remotamente, todo o processo de admissão, o onboarding, como se chama, muitas empresas já estão realizando e acredito que tudo isso será absorvido como prática mais usual", destacou.

Para o executivo, o prognóstico é de que os empregadores exijam mais independência dos subordinados. "Não é possível prever em médio e longo prazo. A curto prazo, o que o mercado de trabalho estará buscando muito claramente são profissionais com alta capacidade de se adaptar a situações diferentes. Adaptabilidade é uma palavra forte para o futuro, a questão da autonomia, que tenham realmente capacidade de fazer autogestão, conseguir ser produtivos sem ter um chefe sentado ao lado para dizer o que devem fazer todo dia. Me parece também que esse profissional terá que mostrar alta habilidade com ferramentas de tecnologias digitais diversas, precisa conhecer mais ferramentas, trabalhar mais em equipe e ter maior produtividade. Terá de se demonstrar multifacetado, versátil", acrescenta Valente, ressaltando, ainda, a aptidão para lidar com bases de dados.

Perguntado se as expectativas sobre o perfil dos funcionários acabam confirmando um sistema desigual, já que as habilidades requisitadas serão muitas, Valente reconhece que sim e sugere uma solução. A via, pondera ele, ocorreria por meio de articulação entre entes públicos e privados. "Toda essa transformação digital, a revolução digital, e, ao mesmo tempo, a manufatura 4.0, no curto tempo, pode gerar um grande numero de demissões e de pessoas desempregadas. Pode haver uma grande redução de pessoas nas companhias. Ao mesmo tempo, governos e entidades do mercado de trabalho têm de correr contra o tempo, estruturar um programa profundo e de larga escala de capacitação daqueles profissionais que, em função da digitalização, vão ficando menos capacitados e menos absorvidos."

Ainda segundo a pesquisa, 74,5% dos profissionais confiam que as empresas sairão da pandemia mais inclusivas. A pergunta que aferiu o resultado se referia à possibilidade de o empresariado ampliar "projetos relacionados à diversidade", com contratação de mais pessoas com deficiência, negros e mulheres.

Com Agência Brasil 

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Quinta, 28 Março 2024

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