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Vejo a foto de capa da "Folha de S. Paulo" desta segunda-feira (reprodução) e lá estão os cinco ex-presidentes dos Estados Unidos que ainda vivem. Reunidos para arrecadar fundos para as vítimas dos furacões pela cantora Lady Gaga, cada um parece quer...

Vejo a foto de capa da "Folha de S. Paulo" desta segunda-feira (reprodução) e lá estão os cinco ex-presidentes dos Estados Unidos que ainda vivem. Reunidos para arrecadar fundos para as vítimas dos furacões pela cantora Lady Gaga, cada um parece querer evocar no olhar as reminiscências inerentes a seus tempos na Casa Branca. No canto esquerdo, com o mesmo sorriso benevolente que passou a ser sua marca depois que deixou o cargo, Jimmy Carter acena com um ar dos anos 1970. Longe de ter sido um modelo de estadista no quadriênio que ocupou o cargo, ninguém há de lhe negar que talvez jamais tenhamos tido um ex-mandatário que tenha ganhado tanto relevo quanto ele em serviços prestados à humanidade. Em sua mais recente investidura, propôs-se a mediar o conflito potencial com a Coreia do Norte. A essa altura, para trás ficaram as trapalhadas ocorridas no deserto iraniano, quando helicópteros militares americanos protagonizaram uma desastrada operação de resgate de reféns da embaixada, o que valeu a Carter a reputação de fraco e trapalhão. 

Bem a seu lado está o sorridente Barack Obama. Recém-saído de sua investidura presidencial, muitos relutam em lhe conferir o galardão de um dos cinco maiores presidentes americanos. É forçoso reconhecer que tantos foram os estadistas que talvez ele realmente não entre na lista. Mas ninguém há de lhe negar a singularidade do perfil. Intelectualmente brilhante, dotado de um carisma que a todos fascina, a História precisará de tempo para aquilatar o muito que foi feito interna e externamente. Inserir milhões de americanos em condições de atendimento médico-hospitalar condignas, e desdramatizar os nós górdios do Irã e de Cuba, não foram pouca coisa. O legado de Bill Clinton é igualmente notável e há de se entender que as circunstâncias do mundo na década de 1990 foram pouco triviais. Leal a seus parceiros e aliados, fez do carisma e da empatia instrumentos de persuasão e pacificação dos ânimos em áreas conflagradas. Sensível à agenda de construção da Europa, atuou com determinação nos Bálcãs e no Oriente-Médio. Se não galvanizou unanimidades, é porque ninguém o conseguiria. 

Quanto aos dois integrantes da família Bush, é evidente que o peso do pai é muito maior do que o do filho George W. Descendentes de uma dinastia de muitos serviços prestados ao grande País, o que mais chama a atenção foi o envolvimento do pai em hábil diplomacia na China – ainda como Embaixador –, e no Oriente-Médio. À História competirá julgar se as ações empreendidas no Iraque se justificavam à luz das necessidades estratégias do Hemisfério. Ao vê-los lado a lado, constata-se que ambos tiveram peso específico distinto e que certamente não foi fácil para nenhuma das partes aceitar-se mutuamente como pai e filho. É sempre reconfortante, contudo, constatar que as instituições foram ouvidas e preservadas, e que mesmo os inevitáveis desacertos não se deram a serviço de interesses individuais e estreitos. O que certamente já não se poderá dizer em igual medida do sucessor republicano que hoje ocupa a cadeira que foi de ambos. Tampouco pode se subestimar a quadra aziaga que coube a Bush filho na medida em que o 11 de Setembro o colheu num momento dramático, sem que houvesse precedente balizador. 

E nós, aqui no Brasil, que sentimento evoca a foto de nossos ex-presidentes? Pois bem, talvez vê-los perfilados não nos traga as melhores sensações. Sem entrarmos em juízos de valor mais elaborados, posto que tudo é muito recente (e há até o caso de quem já foi presidente, não descartar a possibilidade de voltar a ser), o grande destaque fica para o tucano Fernando Henrique Cardoso. Se pode ter sido um erro ter ido atrás do segundo mandato, nada nem ninguém podem lhe desdourar o inegável estadismo. A reputação imaculada, ainda que obrigatória, no Brasil tem de ser colocada como um "plus". O governo Sarney foi terrível, mas, aqui de novo, as circunstâncias precisam ser sopesadas. O ex-presidente se tornaria sim um ator nefasto, mas isso se deu no exercício dos mandatos de senador. Fernando Collor parece nunca ter se curado do estigma de playboy e a coleção de carros espelha o que parece ser um deplorável prontuário junto a estatais. E Lula? Lula perdeu uma chance de acenar com esperança para o mundo. E, por oportunismo, indicou Dilma Rousseff que potencializou o desastre. 

Não, não tratei de política aqui. Foi apenas uma tentativa de falar de História. 

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Quinta, 25 Abril 2024

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