Conversas no Café de Flore

Agora que os compromissos profissionais se tornaram menos intensos e que a agenda pode ser construída à base de fins de tarde mais ou menos indolentes, entronizou-se de vez o hábito de ir ao Café de Flore (foto) às 4 da tarde, sempre que estou em Par...
Conversas no Café de Flore

Agora que os compromissos profissionais se tornaram menos intensos e que a agenda pode ser construída à base de fins de tarde mais ou menos indolentes, entronizou-se de vez o hábito de ir ao Café de Flore (foto) às 4 da tarde, sempre que estou em Paris. Lá peço uma tisana de tília e, se não almocei, posso encarar um croque-madame para aguentar até a hora do jantar. Sentado às mesinhas da calçada, resguardado do frio pela cortina térmica dos aquecedores de teto, ali vejo a humanidade desfilar. E, o que é mais especial, converso com as pessoas ao lado de vez em quando, ou por iniciativa minha ou delas. 

Na segunda-feira mesmo se apresentou uma dessas belas ocasiões. Mal cheguei, um distinto cavalheiro com ares de habitué nem precisou pedir um café para que o garçom o trouxesse. Percebendo que ele tinha na mão o "Les échos", um ótimo jornal de economia, fiz-me de desentendido e perguntei-lhe quem era o leitor típico daquele jornal. "Gente como eu, que ainda tem um pé no mundo dos negócios, ou que pelo menos conhece muita gente que tenha. A pauta de assuntos gerais é boa, mas a ênfase é na economia. O senhor não é daqui?" Estava dada a largada para uma das conversas mais divertidas dos últimos anos. 

Sumar vem de uma rica família turca. Nascido em Istambul, veio para a França representar a indústria do pai, uma joint venture com os japoneses da Hitachi que fabricavam televisões na Turquia. A gama de eletrodomésticos se expandiu e ele se tornou um nome de expressão no mundo do varejo. Bem de vida, casado com uma francesa, avô de quatro netos, hoje divide o tempo entre três ou quatro endereços, e se dedica mais ao que lhe dá prazer. Além do convívio com a família, a vela no Egeu, a música, o cinema e a literatura. Companheiro de farras – moderadas da parte dele – de Tom Jobim e Vinícius, divulgou o cinema turco em várias partes do mundo.

Anoitecia quando nossa conversa chegou ao auge. Depois de termos descoberto que tínhamos nada menos do que três amigos em comum, ele resolveu fazer chamadas telefônicas para eles. Com um conseguimos falar, o que foi enorme prazer. Tratava-se de gente também da Turquia, estabelecida em Lugano, na Suíça. "O mundo é mesmo pequeno, meu amigo Fernando." Foi quando pensei que o melhor quase sempre fica par o final, às vésperas de viajar de volta para o Brasil. É claro que não é todo dia que nos deparamos com um sujeito espetacular como Sumar. Mas se você estiver em Paris, faça como fazia Sartre. Dê uma chance ao Flore e ele lhe dará alegrias. 

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Domingo, 15 Dezembro 2024

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