Produção de calçados deve cair até 30% neste ano

Até abril, conforme levantamento da Abicalçados, foram perdidos 31 mil postos em função das quedas na produção
A queda foi de 29% uso da capacidade instalada em março no setor calçadista

Os impactos da pandemia do novo coronavírus na produção de calçados podem fazer com que a produção do setor caia até 30% em 2020. A estimativa é da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e foi referendada pelo doutor em Economia e professor Marcos Lélis e pela coordenadora de Inteligência de Mercado da entidade, Priscila Linck.

Lélis ressaltou que os efeitos da pandemia estão sendo sentidos desde fevereiro, mas que houve um salto nos últimos dois meses. Segundo ele, a economia mundial deve cair mais de 3% em 2020, número que deve ser puxado pelos Estados Unidos (-5,9%) e pela Zona do Euro (-7,5%). Diante disso, a China, que iniciou a reabertura da economia antes dos demais países, deve crescer 1,2%, se aproximando ainda mais dos Estados Unidos na liderança econômica mundial. "Uma saída para arrefecer a crise tem sido a injeção de moeda. As maiores economias mundiais têm feito isso. Até abril, estima-se a injeção de mais de US$ 18 trilhões no mundo", explicou ele, ressaltando que o Brasil tem resistido a adotar o mecanismo. "A economia tem mostrado que é preciso atuar, fazer política fiscal ativa. O próprio FMI tem orientado os governos a gastar mais neste momento de pandemia", afirmou Lélis.

Na economia brasileira, Lélis apontou para uma estimativa de queda de 5,3% no PIB. "Em 2015/2016 tivemos uma queda de 7% e depois tivemos um crescimento médio de 1%. Ou seja, não nos recuperamos de uma crise e estamos caindo em outra", ressaltou. Segundo ele, existe uma precarização da economia brasileira que se dá, especialmente, pela falta de investimentos, tanto público quanto privados, que registram queda de 49% desde 2014. "O Brasil já tinha uma estimativa de arrefecimento do crescimento antes mesmo do coronavírus", lembrou. Segundo ele, uma saída para diminuir os efeitos da crise seria a retomada do investimento público, que por sua vez estimularia as empresas. Lélis ressaltou que, com o Brasil caindo a taxa prevista em 2020, o desemprego pode atingir mais de 20% da população, número que dificultaria, ainda mais, a retomada econômica.

Um dos efeitos diretos da pandemia tem se dado na indústria da transformação brasileira, que registrou um tombo de 10% em março, fechando o trimestre com queda acumulada de 3%. O uso da capacidade instalada no setor, segundo Lélis, já está em 57%. No setor calçadista, especificamente, a queda foi de 29% em março, fechando uma retração acumulada de10% no trimestre, sempre na relação com igual período do ano passado.

Priscila detalhou a situação das fábricas de calçados, que devem ver a produção despencar mais de 70% em abril, considerado o ápice da crise. No semestre, a queda deve ficar entre 29,9% e 33,5%. Com isso, no ano a queda deve ficar entre 21% e 30%, o que significaria de 191 milhões a 265 milhões de pares a menos em relação ao ano passado. "Com o resultado, voltaríamos aos patamares de 16 anos atrás", revelou. O fato, embalado pela crise de vendas no mercado doméstico, responsável por mais de 85% das vendas do setor, deve resultar na perda de postos.

Até abril, conforme levantamento da Abicalçados, foram perdidos 31 mil postos em função das quedas na produção. Para o ano, a estimativa é de que o setor perda até 57 mil postos, caso a crise mantenha o ritmo atual. Em dezembro do ano passado o setor empregava 269 mil pessoas, número que pode fechar 2020 em 212 mil. Além da queda no consumo doméstico, a Abicalçados também prevê uma queda nas exportações de calçados. Em 2020, os embarques devem cair entre 27,3% e 30,6%, ante 2019, fechando entre 89 milhões e 80 milhões de pares vendidos no exterior, pior resultado desde 1983. 

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Sexta, 13 Dezembro 2024

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