Indústria automobilística segue dando sinais de recuperação em julho

Porém, indicadores ainda estão muito abaixo dos níveis pré-pandemia, nota Anfavea
Como vem ocorrendo desde o início da pandemia, os segmentos de caminhões e máquinas conseguem manter ritmo de vendas e produção acima dos veículos leves

Julho apresentou números mais positivos para o setor automotivo, na comparação com o tombo dos três meses anteriores. De acordo com balanço divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) nesta sexta-feira (7), a produção chegou a 170,3 mil unidades, alta de 73% sobre junho, mas ainda 36,2% inferior ao mesmo mês do ano passado. Apesar da elevação, foi o pior julho desde 2003 para o setor. Os emplacamentos de autoveículos (174,5 mil) cresceram 31,4% sobre junho, mas caíram 28,4% em relação a julho de 2019, pior volume desde 2006. Nas mesmas comparações, as exportações subiram 49,7% e recuaram 30,8%. No resultado cumulado do ano, a queda mais dramática é na produção (48,3%), a mais baixa deste século, seguida pelas exportações (43,7%) e por licenciamento (36,6%). Confira a íntegra da Carta da Anfavea ao final desta reportagem.

"Além de um número maior de dias úteis, julho foi um mês no qual as montadoras e concessionárias fizeram um grande esforço para recompor o caixa prejudicado pela longa quarentena. Mas o ritmo de vendas diário foi apenas 20% superior ao de junho, o que demanda cautela na análise de como será a recuperação no segundo semestre. Ainda temos uma pandemia que não deu trégua, com casos crescentes de Covid-19 em estados importantes do país. É como se estivéssemos numa estrada sinuosa e com forte neblina, com grande dificuldade de enxergar o horizonte com clareza", avalia Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea. A entidade também revelou um comportamento singular do brasileiro: acostumado a dar o carro usado para adquirir um modelo zero-quilômetro, o consumidor prefere agora entregar o automóvel novo para colocar um antigo na garagem. Esse perfil de compra foi notado recentemente, a partir da reabertura de concessionárias em São Paulo, por exemplo. "É o que podemos chamar de troca com troco", referiu Moraes, dando conta que o mais importante agora tem sido colocar dinheiro no bolso.

Como vem ocorrendo desde o início da pandemia, os segmentos de caminhões e máquinas conseguem manter ritmo de vendas e produção acima dos veículos leves, o que não impede perdas na comparação com o ano anterior. O único indicador positivo no acumulado do ano é o de vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias, 1,3% superiores às de 2019. Na visão de Alfredo Miguel Neto, vice-presidente da Anfavea e diretor de Assuntos Corporativos da John Deere para a América Latina, o Plano Safra alavancou o otimismo dos produtores rurais que partiram para as compras com maior segurança. "O preço do milho voltou a crescer, assim como o da soja. A China segue confiando no mercado brasileiro com suas importações crescentes. Junte-se a isso o fato que a desvalorização do real ajudou a dar maior rentabilidade ao grande produtor que exporta grãos. Por tudo isso, a recuperação será muito positiva para o segmento de máquinas agrícolas", destacou o executivo.

Moraes comentou três pontos que a Anfavea considera vitais para a reforma tributária que está sendo discutida no Congresso. A primeira delas é que não exista aumento da carga e, sim, uma possível redução já que os impostos representam 30% do valor de um automóvel. Outra frente de batalha é a monetização dos créditos tributários. "Temos um saldo a receber da União e dos Estados e não há previsão do pagamento e nem mesmo correção. Em uma transição do antigo regime para o novo não podemos perder esse valor que é necessário para futuros investimentos", cobrou. O terceiro pilar é a simplificação das normas tributárias, de modo que sejam evitadas diferentes interpretações.

Redução de emissões de poluentes
O presidente da Anfavea também apresentou um resumo das ações do setor automotivo para reduzir as emissões de poluentes, que começaram há quase 40 anos, quando foi instituído o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). Desde então, as seis fases para veículos leves já reduziram radicalmente os níveis de emissões de poluentes: 95% para monóxido de carbono, 98% para hidrocarbonetos, 96% para óxidos de nitrogênio e 87% para aldeídos. No caso dos veículos pesados, sete fases reduziram a emissão de óxidos de nitrogênio em 86%, e em 95% a de materiais particulados.

Diante da crise gerada pela maior pandemia do último século, a Anfavea julga necessário adiar em dois ou três anos as próximas etapas do Proconve para veículos leves e pesados. De acordo com Moraes, não se trata somente de uma questão econômica, já que o setor vai perderá quase 40% de sua receita neste ano, mas também por uma questão sanitária. "Uma crise dessa dimensão vem afetando todos os campos profissionais, e não é diferente com nossa indústria. Somos a favor das novas etapas de redução de emissões, cujo cronograma ajudamos a elaborar. Essa sugestão de breve adiamento não afeta nosso compromisso com o meio ambiente. Após todos os investimentos e esforços feitos desde a década de 1980, com resultados mensuráveis na ponta do escapamento e na qualidade do ar, chega a ser intelectualmente desonesto colocar o ônus da poluição das cidades nos veículos atualmente em produção, essencialmente limpos", defendeu.

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Sexta, 13 Dezembro 2024

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