Um país em campo

Como se medem os méritos de um empresário ou de um executivo? Se você respondeu "pela lucratividade de suas empresas", pode estar perdendo a chance de conhecer o legado de alguns homens de negócio que não lograram manter suas companhias no azul (tant...
Um país em campo

Como se medem os méritos de um empresário ou de um executivo? Se você respondeu "pela lucratividade de suas empresas", pode estar perdendo a chance de conhecer o legado de alguns homens de negócio que não lograram manter suas companhias no azul (tanto que obrigados a se desfazer delas), mas ajudaram a construir setores inteiros e a inovar em matéria de marketing e produção – caso do gaúcho Paulo Vellinho e do italiano Roberto Civita, cujas trajetórias comento na edição 330 de AMANHÃ.

E como se medem os louros de um treinador de futebol? Por vitórias e troféus, somente? Então você está perdendo a chance de conhecer um personagem peculiar chamado Óscar Tabárez (na foto, à esquerda, no jogo Uruguai x Equador, no domingo).

Técnico da seleção uruguaia desde 2006, Tabárez resolveu fazer do escrete nacional mais do que um agrupamento sazonal de jogadores reunidos às vésperas de amistosos e torneios oficiais. Decidiu transformá-lo numa pequena embaixada de seu diminuto país, combinando, na escolha dos jogadores, critérios técnicos e comportamentais – e ministrando a seus comandados tanto orientações táticas quanto morais.

Um trabalho absolutamente sui generis, como mostra um ex-capitão do Uruguai, Diego Lugano, em entrevista à edição nº 8 da revista Corner. Segundo Lugano

"Tabárez (...) foi um sociólogo. Talvez em todo mundo não haja nenhum treinador que tenha modificado tanto a conduta ou os padrões sociais de um país como Tabárez através de nós, jogadores. O Uruguai, nas últimas décadas, havia caído em uma decadência (...) confundindo garra, raça (...) com violência, indisciplina. Enfim, (...) pouca visão sobre o que você representa como jogador da seleção, do alcance que você tem. Tudo (...) o que a seleção significa para o seu país".   

Como não basta um bom comandante para colocar um projeto em execução, o papel dos liderados foi fundamental:

"A gente [jogadores] teve essa visão e [combinamos] (...) que nosso comportamento dali para frente seria sempre ganhar, perder ou empatar com total educação para com o torcedor, em qualquer parte do mundo, a qualquer hora. (...) A gente tomou ciência do nosso significado para o país, do que Tabárez queria de nós e começamos (...) um projeto de conduta (...)."

O objetivo? Inspirar cada um dos 3 milhões de habitantes do país:

"O uruguaio vê a seleção e diz (...) 'esses caras nos representam (...)'".

Os resultados até vieram sob a forma de vitórias e troféus, mas esses parecem menores perto de outros, menos usuais, como relembra o ex-jogador, com orgulho:

"[Para] Um pequeno país como o Uruguai a única chance de aparecer para o mundo é através do futebol. (...) [N]o mundial de 2010, quando a gente chegou até a semifinal, a palavra 'Uruguai', no Google (...) multiplicou-se por seis milhões de vezes (...). Isso equivale (...) a cem anos de trabalho do Ministério das Relações Exteriores (...). Fomos jogar na China em 2011. Uns dez empresários diferentes (...) vieram nos agradecer porque a gente permitiu, através do futebol, a entrada de lã, trigo, carne, diferentes produtos no mercado chinês (...)." 

Um resultado em especial, aliás, encheu de contentamento o 'Maestro' (Professor) Tabárez:

"[E]m 2010, a seleção uruguaia foi escolhia pela Academia Espanhola de Letras como a seleção que melhor se expressou em língua espanhola. Tínhamos seis ou sete seleções falantes de espanhol [naquela Copa do Mundo]. (...) Eu nunca vi um cara tão feliz. (...) [S]eus olhos brilhavam". 

Pois bem: quando a gloriosa Celeste Olímpica pisar no gramado da Arena do Grêmio, na próxima quinta-feira (20), entrará em campo como "um bastião, uma reserva de valores" do país que representa, nas palavras de Diego Lugano. Para ganhar, perder ou empatar, mas sempre com respeito – pois tanto no futebol quanto nas empresas, nem todo mérito é aferido somente pelos escores do placar eletrônico ou de um balancete anual.

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Quarta, 11 Dezembro 2024

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