Rio Grande do Sul anuncia ajustes no modelo de Distanciamento Controlado
Com o objetivo de reduzir os riscos de esgotamento do sistema de saúde e elevar a aderência às medidas de enfrentamento ao coronavírus, o governo gaúcho anunciou, nesta quinta-feira (11), ajustes no modelo de Distanciamento Controlado (veja documento completo ao final desta reportagem). A estratégia, implementada no dia 10 de maio em todo o Rio Grande do Sul e que serviu de base para outros Estados e cidades usarem, utiliza-se de evidências científicas e análise de dados para definir níveis de riscos (traduzidos em bandeiras) e aplicar restrições na proporção, momento e local em que forem necessárias, com protocolos para cada atividade econômica conforme a região.
"O modelo vai ficar mais sensível a mudanças, para que possamos dar mais segurança para atendimento hospitalar no futuro. Observamos um aumento no número de internações, inclusive em razão da Covid nesta quinta semana da implantação do modelo. Como queremos conciliar a atividade econômica preservando vidas, o sistema passa naturalmente por ajustes, pois foi baseado em teoria e, agora, na prática, fica mais afinado com seu propósito", argumentou o governador Eduardo Leite em live acompanhada pelo Portal AMANHÃ.
Conforme a coordenadora do Comitê de Dados, vinculado ao Gabinete de Crise, Leany Lemos, os ajustes são fruto do monitoramento diário feito pelas equipes técnicas que estão trabalhando no Distanciamento Controlado e de sugestões de especialistas em saúde, tendo sido amplamente discutidos nas reuniões dos grupos técnicos e validadas pelo Conselho de Especialistas, para então serem efetivados. "Esse processo é fruto de um intensivo monitoramento, pelas nossas equipes multidisciplinares, não só das bandeiras semanais, mas de dados diários e de projeções que são elaboradas pelo menos a cada 15 dias", contou Leany.
Foram feitos três conjuntos de ajustes: mudança no ponto de corte de sete indicadores; alteração em indicadores; e modificação e adoção de dois gatilhos de segurança. "A grande intenção é conseguir anteceder um colapso, quando estoura a capacidade de leitos de UTI e a probabilidade de óbitos é muito maior. Queremos antecipar algo que pode acontecer, que aconteceu no mundo e em outros Estados. Por isso, estamos aperfeiçoando agora, e seguiremos aprimorando sempre que for necessário", detalhou Pedro Zuanazzi, diretor do Departamento de Economia e Estatística (DEE). Leite afirmou ainda que o quadro técnico cogita fazer com que uma região avance duas bandeiras, caso a maioria dos indicadores mais sensíveis demonstre um avanço significativo, porém, essa possibilidade ainda não foi inserida no sistema que gera o resultado final.
As alterações que estão sendo adotadas – que já serão consideradas na rodada deste sábado (13) – não teriam alterado a cor das bandeiras finais das regiões nas últimas semanas. Mas os indicadores atuais revelam que devem mudar nas próximas. "Não comprometeu a segurança até aqui, mas, daqui para frente, entendemos que temos de ter maior estreitamento para mudanças de bandeiras, para que a gente possa capturar essas inflexões de curva nas internações e agir no momento em que se fizer necessário, com mais restrições, para evitar que haja uma perda de controle", destacou Leite.
VEJA O QUE MUDA NO DISTANCIAMENTO CONTROLADO
1. Mudança no ponto de corte de indicadores por tipo de medida:
O objetivo é reforçar a antecipação dos efeitos da pandemia e a segurança da população. Com base em diversas simulações de cenários, percebeu-se que as bandeiras estavam demorando muito para sinalizar piora de indicadores. Para alcançar essa antecedência, foi preciso um novo olhar. Assim, os pontos de corte se tornam mais estreitos e refletem melhor a realidade, conferindo maior segurança ao modelo, que se torna mais sensível a mudanças para garantir o atendimento no futuro. As mudanças serão feitas nos pontos de corte dos indicadores, como velocidade do avanço da doença, incidências de novos casos e mudança da capacidade de atendimento.
2. Alteração nos indicadores de óbito por Covid-19, Ativos/Recuperados e número de leitos de UTI livres (Macrorregião e Estado)
– Projeção de óbitos: o indicador de óbitos por Covid-19 a cada 100 mil habitantes mostra a evolução da doença com defasagem, uma vez que um óbito reflete o adoecimento de semanas atrás. O indicador é válido para mostrar a realidade atual, mas não antecipa, e o objetivo do Distanciamento Controlado é também prever deterioração, de modo que medidas possam ser tomadas com antecedência para que as UTIs não cheguem ao limite de atendimento. Sendo assim, o cálculo deixa de utilizar o número de óbitos ocorridos na semana de referência e passa a utilizar projeções para os próximos 14 dias, com base na variação de pacientes confirmados para Covid-19 em leitos de UTI e no número de óbitos acumulados na semana de referência.
– Indicador de Ativos/Recuperados: o indicador de Estágio da Evolução passa a considerar todos os casos ativos na semana de referência em relação aos recuperados nos 50 dias anteriores ao início da semana. Ao considerar um período maior de tempo, amenizam-se os efeitos da defasagem entre a data do início dos sintomas e a inclusão dos casos confirmados.
– Razão de ocupação de leitos de UTI por Covid-19: a capacidade de atendimento passa a ser avaliada com base na razão entre a quantidade de leitos de UTI livres e o número de leitos de UTI ocupados por pacientes confirmados para Covid-19. A proposta vale para os indicadores que avaliam a capacidade do Estado e das macrorregiões, que antes levava em consideração o número de leitos de UTI livres para Covid-19 para cada 100 mil idosos.
3. Gatilhos de segurança
– Redução de cinco para três hospitalizações registradas nos últimos 14 dias na trava para deixar a bandeira da semana anterior: a mudança torna a redução de bandeira mais cautelosa. A partir deste sábado (13/6), o máximo de casos novos de hospitalização por Covid-19 que a região poderá observar para conseguir reduzir a bandeira é de três. Antes, o limite era cinco novas hospitalizações nos últimos 14 dias.
– Regra das bandeiras preta e vermelha: se uma região atingir bandeira final vermelha ou bandeira preta, será preciso duas semanas consecutivas com bandeiras menos graves para que a região possa obter redução na classificação de risco. Isso trará maior segurança para caracterizar a efetiva melhora nas condições de uma região.
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