Recompras de ações: a mais nova droga de Wall Street
Os anos de juros baixos nos Estados Unidos levaram Wall Street a um descompasso com a realidade. As empresas preferem agora impulsionar seus papéis através de recompras de ações do que com os próprios ganhos. Mas, assim como as dúvidas sobre quando o Federal Reserve iniciará a subida dos juros na economia americana, ainda é cedo para saber até quando as recompras conseguirão impulsionar as ações.
No primeiro trimestre deste ano, as companhias do S&P 500, um dos principais índices acionários norte-americanos, retornaram mais dinheiro (através de recompras e dividendos) aos acionistas do que lucraram. A última vez que isso ocorreu foi no quarto trimestre de 2008, quando o S&P 500 reportou ligeiras perdas no trimestre mas ainda gastava US$ 110 bilhões entre dividendos e recompras, mostrou uma reportagem publicada na sexta-feira (17) pelo Market Watch.
O problema pode estourar em breve nas Bolsas dos Estados Unidos já que as recompras são financiadas por juros baixos. Quando isso for revertido, o gatilho que mantinha as ações em alta pode se esgotar. "Isso não é uma tendência normal", declarou Howard Silverblatt, analista sênior no S&P Dow Jones Indices ao Market Watch. "A maior parte do dinheiro foi devolvida como parte das recompras", comentou.
Até março, as companhias do S&P 500 gastaram US$ 237,6 bilhões em dividendos e recompras, enquanto reportaram lucros de US$ 228,3 bilhões, segundo dados compilados por Silverblatt. Parte disso pode ser explicado porque, com os juros praticamente zero nos Estados Unidos, é mais vantajoso para as empresas tomar dívida e recomprar suas ações do que esperar pelo retorno através do crescimento de seus lucros dado que somente agora a economia do país começa a retomar expansão.
Embora os dados a seguir não tenham nenhuma relação, as companhias do S&P 500 gastaram cerca de US$ 2,4 trilhões em recompras no atual "bull market" (mercado altista) das bolsas norte-americanas, enquanto o Fed gastou US$ 2,3 trilhões nos programas de Quantitative Easing. Segundo dados recentes do S&P, o total de recompras de ações e dividendos foram responsáveis por 35% da alta do índice, desde o fundo do poço em 2009. Sem os dividendos, as recompras sozinhas corresponderam a 21% do aumento do valor do mercado. Enquanto acionistas aplaudem as recompras, críticos alertam que isso vem do custo de reinvestimentos e inovação, tanto sob a forma de criação de emprego como em investimento no futuro da empresa.
Confira a tabela abaixo que traz um ranking das empresas que mais gastaram com recompras na última década (entre 2004 e 2013).
Recompras | Dividendos | Dividendos+recompras/Lucro líquido | |
Empresa | (US$ bi) | (US$ bi) | |
Exxon Mobil | 217 | 84 | 84% |
IBM | 116 | 26 | 113% |
Microsoft | 113 | 77 | 119% |
Cisco | 72 | 5 | 110% |
P&G | 72 | 47 | 118% |
HP | 65 | 9 | 168% |
Wal-Mart | 64 | 40 | 73% |
Pfizer | 62 | 65 | 137% |
Intel | 58 | 31 | 107% |
GE | 57 | 87 | 89% |
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