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Quando colocou os pés na filial santista da Elevadores Sûr, em março de 1990, o estagiário de engenharia Sérgio Martins Cardoso não poderia imaginar para onde a rotina de pensar o sobe e desce da vida das pessoas o levaria. Depois de 24 anos, após passar por diversas funções – de montador a coordenador de vendas, de gerente da filial São Paulo a vice-presidente nacional de serviços –, o brasileiro assumiu em março de 2014 o posto de vice-presidente executivo da ThyssenKrupp Elevator na Alemanha, respondendo pelas operações de campo da multinacional alemã. Em 2015, a atuação da empresa no Brasil, sediada em Guaíba (RS) – onde nasceu em 1945 como Elevadores Sûr, antes de ser incorporada pela ThyssenKrupp em 1999 –, completa 70 anos. Cardoso revela os planos de expansão e lembra a história da empresa no país: “Às vezes, deixamos de valorizar a nós, brasileiros”.
Como funciona a operação da ThyssenKrupp no Brasil? O que a região sul representa para a empresa como plataforma da operação brasileira?
Podemos dizer que temos nosso headquarter brasileiro no Rio Grande do Sul. A fábrica em Guaíba, próximo a Porto Alegre, está passando por um processo de ampliação e modernização. São 61 filiais no Brasil, contando postos e microunidades, que estão em todos os Estados. Em alguns, como São Paulo, chegamos a ter quatro grandes filiais que se desmembram em outras pequenas centrais de serviços, para poder atender à região. Basicamente temos toda a parte de produção no Rio Grande do Sul, além de dois centros de logística no estado, para a área de peças de reposição, e mais centros principais de distribuição, um no Rio Grande do Sul, além de Curitiba, São Paulo, Brasília e Recife. E, dentro de cada unidade, temos um almoxarifado que supre as necessidades do dia a dia dos técnicos. Trabalhamos nas três áreas de negócios, seja produto novo, elevador novo, novas instalações, área de modernizações e assistência técnica.
Qual será o impacto desse investimento na planta do Rio Grande do Sul?
A planta de Guaíba está sendo ampliada de 21 mil para 30 mil metros quadrados. Com isso, a capacidade de produção vai crescer em 20%. A ideia da empresa é que todas as suas fábricas tenham o mesmo padrão de fabricação de produtos. Por isso essa unidade está sendo não só atualizada, mas também ampliada. Nós estamos acreditando que o país vai continuar bem, que nós vamos exportar mais e a fábrica vai produzir mais.
Qual a importância do Brasil nos negócios globais da ThyssenKrupp?
Nos últimos anos, Brasil, Índia, China e Rússia têm sido os grandes mercados emergentes no mundo. Se você comparar, a Europa é um mercado que tem estado um tanto estagnado na nossa área. Quando você olha para o Brasil, principalmente nos últimos seis anos, vê que o crescimento no nosso segmento foi muito grande. O boom da construção civil também. Isso fez com que o Brasil passasse a ser não só um importante player no mercado, mas uma importante unidade para operações da ThyssenKrupp no mundo. Em termos de tamanho e resultado, o Brasil ainda está entre os Top 10 do grupo no mundo, com uma relevância muito grande. Quanto ao resultado, às vezes há o problema de desvalorização da moeda. Como o resultado final da empresa sai em euro, isso acaba colocando o Brasil em um cenário não tão bom quanto o que o país representa para a empresa. Mas posso garantir que o Brasil é importante para a ThyssenKrupp no mundo. Não só em termos de tamanho, mas em termos de imagem da empresa, de posicionamento de marca.
Qual a importância do Brasil na área de P&D e Inovação da ThyssenKrupp? Por que as últimas novidades em tecnologia acabam se limitando a outros mercados?
Vou dar um exemplo de inovação no Brasil. A primeira esteira rolante que a ThyssenKrupp instalou foi no Brasil, ligando a estação Paulista e a Consolação, chamada iwalk. Foi há cinco anos. O que acontece quando a gente está falando dessas tecnologias? O Twin (modelo que opera com dois elevadores no mesmo poço) cabe para o Brasil, certo? O problema que ainda acontece é que o custo do elevador tradicional, quando comparado ao do Twin, é um pouco menor. Acaba que o cliente escolhe ter mais áreas com caixa de elevador, porque o aumento da área útil no prédio não compensaria naquele momento. Mas é um produto que vai chegar ao Brasil. Várias construtoras do país têm visitado nossas obras ao redor do mundo. Um colega me falou que uma grande construtora do Brasil que atua em Dubai está indo visitar os elevadores Twin. Em questão de tempo, vai chegar ao Brasil também. (Nota da redação: o Twin, modelo que opera com dois elevadores na mesma caixa de corrida, ainda não pode ser utilizado no Brasil porque a norma técnica NBR 5665, editada em 1985, não considera a possibilidade de utilização de duas cabinas em uma mesma caixa de corrida e aguarda atualização.) O mercado brasileiro é um mercado que agora está tendo elevadores de mais alta velocidade, de seis metros por segundo, por exemplo. Antigamente, você quase não via esse tipo de equipamento no Brasil. São tecnologias que vêm chegando, mas que também vêm agregar ao país. Hoje, você pode falar de quadro regenerativo, aquele elevador que devolve energia para a rede: é um produto que já está no Brasil. Quando o Multi (sistema de diversos elevadores que circulam na horizontal e na vertical) foi lançado, eu falei: o Brasil é um potencial de mercado. Se você olhar, a população está indo para as grandes cidades, os terrenos estão começando a sumir, o custo dos terrenos está ficando alto. Vai chegar um momento em que esse tipo de produto já será maduro para atender às necessidades do país.
Algum outro desenvolvimento feito no Brasil além da esteira iwalk?
Temos vários setores de pesquisa e desenvolvimento no mundo. O Brasil é um deles. Um produto, que foi desenvolvido no Brasil, por engenheiros brasileiros, chamado “corrediças ativas” ou active roller guides, foi instalado nos 45 elevadores do novo World Trade Center, em Nova York, três anos atrás. Basicamente, o que é esse produto? Lembra aquela época em que a equipe Williams tinha suspensão ativa no carro de Fórmula 1? Ela fazia leitura da pista e depois balanceava o carro para cada pedaço do circuito. É mais ou menos isso que a corrediça ativa faz. Ela corre junto às guias dos elevadores e faz uma calibragem para não permitir nenhum tranco dentro da cabina – pois são elevadores de alta velocidade e qualquer coisa na guia pode fazer com que balancem mais. As corrediças estão lá para fazer com que o usuário não perceba nenhum problema durante o percurso do elevador e viaje confortável.
O cenário de baixo crescimento e até de recessão econômica, no Brasil, altera os planos de investir no país – ou pelo menos a velocidade desses investimentos?
Não altera porque, como se diz, se já está orçado, se já está em budget, nós vamos fazer. Não podemos dizer que o mercado está em queda. Ele está estável. Porque houve algum crescimento muito abrupto. Nos últimos anos, a economia cresceu bastante, depois houve uma pequena inflexão, mas o mercado está estável. E no Brasil ainda há muita necessidade de obras de infraestrutura e demanda por residências. Não podemos deixar de investir porque estamos passando por um momento talvez um pouco mais conturbado na economia. Mas a gente acredita que o país vai continuar, de alguma forma, crescendo. Há um mercado de serviços, um mercado de modernização. O Brasil vai ter de investir ainda mais em infraestrutura. O brasileiro está se tornando a cada dia um pouco mais exigente. Esse nível de exigência obriga que certas coisas passem a acontecer mais no nosso país. Falando como brasileiro, e não como um funcionário da ThyssenKrupp, tenho certeza de que isso é algo passageiro e nós vamos continuar bem.
Sua visão é a de que uma empresa de grande porte, como a ThyssenKrupp, não pode recuar de um investimento por força de uma fase desfavorável?
Não pode parar na metade. Se começou, não tem como parar no meio. Você tem de acreditar e você tem de fazer. Um investimento depende de dois pontos. Quando se está falando de modernização de fábricas, está se falando também de sustentabilidade, de gastar menos energia para a produção, de buscar melhor qualidade, de procurar fazer o melhor produto. Então não tem como você parar na metade do caminho. Tem de continuar, tem que acreditar. A fábrica no sul atende não só ao Brasil, ela atende a América Latina também. Nós temos de continuar buscando um bom contato com o cliente, estar próximo do mercado, e saber que há algumas dificuldades, mas que não será por causa disso que vamos parar de investir em um negócio no qual o cliente tem necessidade de melhor produto e melhor serviço.
A fábrica do sul do Brasil atende a quais mercados?
Qualquer fábrica da ThyssenKrupp pode vender para qualquer mercado. Mas hoje ela está mais focada no mercado do Brasil e da América Latina. Esta é a única planta em toda a América Latina.
No caso de uma retração do mercado brasileiro, essa demanda poderia partir dos países vizinhos? Qual a fatia direcionada à exportação?
Sim, pode suprir. Atualmente, 20% da produção da unidade brasileira em Guaíba é direcionada à exportação, e todos os países da América Latina são atendidos. O Brasil já exportou, inclusive, para Angola. É importante salientar que estamos falando de uma fábrica brasileira, conduzida por brasileiros, de um grupo alemão. Às vezes, deixamos de valorizar a nós, brasileiros. A história por trás de tudo é de brasileiros fazendo a empresa acontecer, desde a Elevadores Sûr até a ThyssenKrupp.
Quais as grandes tendências, na área da mobilidade, que a ThyssenKrupp está vislumbrando para os próximos anos?
A ThyssenKrupp vê muito o lado da urbanização. Daqui a 30, 40 anos, 80% da população vai viver na cidade, nos grandes centros. Em grandes cidades do mundo, você já não tem mais onde fazer prédio, é preciso demolir um para botar outro no lugar. Mas construir outro igual não vai suprir a sua necessidade. Então, quando a Thyssen está trabalhando no Multi, ela está pensando não só na mobilidade urbana, mas em como ser mais eficiente usando menos espaço, para que o prédio tenha mais área útil, seja para apartamentos, salas comerciais, ou prédios de empresas. O Multi vem para o tempo de espera no elevador ser menor. A Universidade de Columbia fez uma pesquisa em Nova York e notou que os executivos que trabalham lá passam anos de suas vidas só esperando o elevador. Hoje, você consegue reduzir esse tempo em 40%, o que é um ganho enorme para as pessoas. Pesquisas revelam que 40% da energia do mundo é consumida em prédios, e os elevadores são responsáveis por 5% a 15% disso. Os regeneradores de energia que nós vendemos hoje em Nova York fazem com que toda a iluminação do prédio possa ser bancada por essa energia que foi devolvida pelos elevadores.
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