É possível construir um “negócio da China” no Brasil?
Enquanto a China é a segunda nação com maior quantidade de empresas unicórnio – aquelas de capital privado e que valem mais de US$ 1 bilhão –, outros países, como o Brasil, lutam diariamente para serem os próximos a despontar nesse ranking, atraindo capital e desenvolvimento para a região. Talvez por isso o termo “negócio da China” seja tão utilizado por aqui como sinônimo de sucesso. Desde que cheguei ao Brasil, em 2012, foram inúmeras as vezes que me perguntaram se estou aqui para fazer um “negócio da China”. Minha resposta é sempre a mesma: “O mercado brasileiro, apesar de ter cerca de 7 vezes menos pessoas que meu país de origem, tem potencial para acolher dezenas de unicórnios que venham a surgir e nos mais diversos segmentos.”
Sendo assim, quem souber empreender no país oferecendo soluções que esse público precisa, conseguirá criar um negócio bilionário, seja ele da China, do Brasil, da Índia ou qualquer outra nacionalidade. Na verdade, podemos dizer que o que mais contribui hoje para o sucesso de um empreendedor, além de seu esforço e dedicação diários, é a experiência que traz em sua bagagem de vida pessoal e profissional. Some-se a isso a facilidade de se adaptar com agilidade a diversas situações – qualidade muito valorizada por investidores asiáticos. Vivi em uma pequena cidade na China até meus 18 anos, mas assim que pude saí para conhecer o mundo. Afirmo que conviver com diferentes culturas e aprender a pensar fora da caixa contribui muito para o sucesso do empreendedor.
Por ser culturalmente tão distante da China, a América Latina sempre foi um local que me atraiu. Quando tive a oportunidade de fazer um intercâmbio internacional a partir da faculdade que eu cursava na Itália, o Brasil foi minha primeira opção. O restante da turma preferiu instituições europeias ou norte-americanas. Quando acabei meus estudos, decidi ficar por aqui. Além de ter sido conquistado pela cultura e pelo povo, eu via muitas oportunidades de negócio no mercado brasileiro e desde então tenho desenvolvido soluções que facilitem o cotidiano do usuário de tecnologia.
Mesmo que atualmente o país esteja com sua economia estagnada e tenha uma população inferior à da China ou da Índia, o Brasil se apresenta como um local propício para o surgimento de empresas gigantes de tecnologia. Isso porque a renda per capita nacional é mais alta do que os países citados e o povo brasileiro realiza muitas transações on-line e via cartão de crédito. Já em outros países às vezes é necessário educar o consumidor e criar a cultura do e-commerce. Esse comportamento cria o cenário ideal para o crescimento de novos negócios digitais no Brasil. Nisso que me baseei para criar a Mobocity. Muitas startups brasileiras têm surgido nos últimos anos e o nível de profissionalismo só tem crescido, assim como o mercado B2B tem se preparado para elas. Já temos associações e mídias especializadas nesse segmento, o que ajuda a criar uma base de sustentação para os empreendedores. Portanto, afirmo que é só questão de tempo até começarem a surgir os primeiros unicórnios.
*Empreendedor chinês, CEO da Mobocity, startup criada no Brasil e com equipe nos dois continentes.
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