Afinal, o que a tecnologia não pode fazer?
Responsável por todo o funcionamento de uma nave espacial, o robô HAL 9000 estrelou uma das cenas mais memoráveis da história do cinema. Em 2001: Uma Odisseia no Espaço, ele desobedece às ordens do capitão da missão, gerando um debate sobre os limites da inteligência artificial. O trecho do filme de Stanley Kubrick fez parte da palestra do presidente da Microsoft, Brad Smith (foto), na Web Summit Lisboa. Embora não tenha medo da rebeldia de máquinas, o executivo demonstrou preocupação com o efeito das novas tecnologias nas pessoas – que vivem, segundo ele, em uma “era da ansiedade”.
“Não deveríamos perguntar o que um computador pode fazer, mas o que ele deveria fazer. Se não acertarmos isso, todas as gerações após a nossa vão pagar por isso”, profetizou. A base para fazer a decisão correta, na avaliação de Smith, é incentivar o avanço tecnológico baseado em valores universais e atemporais. “Precisamos de uma ‘nova onda’ que proteja a privacidade, garanta segurança e assegure direitos.”
A grande tecnologia que mudará o mundo nos próximos anos, segundo o líder da Microsoft, é a inteligência artificial. “Será mais revolucionário do que a invenção da imprensa ou do telescópio”, sentenciou. Sem indicar como a gigante companhia atuará nesse sentido, ele definiu quatro áreas que podem evoluir com a robótica: acessibilidade, cuidado com o planeta, ações humanitárias e herança cultural. “Devemos usar o que estamos discutindo aqui para aliviar os maiores problemas da sociedade.”
Em salas opostas
Mas será que o poder público está atento a isso? Para o ex-primeiro ministro britânico Tony Blair, a resposta é não. Segundo ele, “a revolução digital está em uma sala, e os políticos estão em outra”. “É preciso reorganizar esse cenário e colocar a tecnologia no centro de todos os debates e considerações sobre políticas públicas.” Para ele, as soluções de desafios como assistência médica e educação devem utilizar essas novas ferramentas.
O grande problema, na avaliação de Blair, é que seus colegas simplesmente não compreendem o assunto. “O que políticos não entendem, não querem. E o que eles não gostam, eles regulam. E regulam mal”, resumiu. Somadas às críticas de Edward Snowden no primeiro dia de evento, a fala de Blair demonstra que as tentativas de legislar sobre o universo tecnológico estão longe de um consenso. E isso revela o descompasso entre o poder público e as milhares de pequenas revoluções que povoam a Web Summit.
*O Grupo AMANHÃ está presente em mais uma edição da Web Summit. A curadoria da cobertura tem a assinatura da BriviaDez, que promove uma missão ao evento.
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