Sim, é possível diversificar as relações comerciais Brasil-China
Durante o seminário "Anos de recordes – o futuro das exportações do Brasil para a China", promovido pelo Conselho Empresarial Brasil-China – CEBC, nesta terça-feira (5), ficaram evidentes as limitações brasileiras para diversificar a pauta e aumentar as vendas para o mercado chinês. Limitação expressa no próprio evento: além dos dois integrantes do CEBC, o presidente da entidade, embaixador Castro Neves, e o diretor de conteúdo e pesquisa, Túlio Cariello, que coordenou o evento, falaram Gustavo Biscassi, Head de relações externas da Vale; Suemi Mori, diretora de relações internacionais da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e Rodrigo Gedeon, gerente geral de Ásia e Pacífico da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), sediado em Beijing.
Fez muita falta no seminário do CEBC um representante da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ou de entidades como o IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial ou Embrapii – Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, já que a cratera na relação comercial com a China é justamente o setor industrial, que pouco exporta – e muito importa –, em comparação com o "Agro" e o setor mineral. A Vale começou a exportar minério de ferro para a China em 1973, antes portanto do acordo de relações diplomáticas, assinado em 15 de agosto de 1974. Ano passado, das 246 milhões de toneladas de minério de ferro exportadas para a China, 76% foram da Vale, segundo Biscassi, que destacou a alta qualidade do minério de ferro da empresa. Em 2006, a China passou a ser a sua maior cliente, e desde 2014 responde por mais da metade do total exportado pela Vale. Hoje, saem do Brasil 20% do total de minério de ferro importado do mundo pela China. Durante as apresentações, a tendência da China diminuir suas importações de produtos básicos nos próximos anos foi abordada de maneira cautelosa, com a apresentação de argumentos tentando demonstrar que ainda há espaço de crescimento e diversificação para as exportações brasileiras.
Sim, é possível crescer e diversificar, ainda que haja três fortes razões apontando para a queda das importações chinesas nos próximos anos: 1) redução da população total e aumento da parcela de pessoas idosas; 2) manutenção do crescimento da economia em menos de 5% ao ano; e 3) redução inédita do ritmo de obras da construção civil em função da crise do setor imobiliário, que talvez se arraste por mais tempo. Sim, é possível aumentar as vendas para a China e superar o recorde alcançado em 2023, de US$ 104 bilhões. Para isso, é preciso arriscar: investir em idas e vindas (ir à China uma vez e ficar lá uma semana é aperitivo), participar com estande em feiras regionais, visitar feiras setoriais, entregar material promocional em mandarim a expositores, ir a indústrias e sedes de empresas e veicular publicidade em mandarim das empresas e produtos. E...ter preço competitivo e muita paciência e "pique" para as maratonas de negociações.
No caso do Brasil, as questões centrais continuam as mesmas: seguimos divididos, cada setor fazendo a sua parte, sem uma estratégia nacional efetiva, e transportando em caminhões a maior parte dos produtos do "Agro". Enquanto cada um achar que se basta para lidar com a China, desconsiderando o óbvio – lá há estratégia, planejamento e comando unificados – continuaremos à mercê do reposicionamento que inevitavelmente virá do nosso maior cliente. Afinal de contas, ela é adepta não apenas da segurança alimentar, mas também da soberania alimentar, e não faz sentido continuar dependendo por muito mais tempo de um único grande fornecedor de matérias-primas, por mais simpático que ele seja. Foi aventada a possibilidade da construção civil chinesa manter o ritmo, já que a urbanização deverá continuar crescendo, até atingir algo próximo a 80% do total da população (hoje estaria em 65%-66%). Só que, ao mesmo tempo, com redução crescente da população, de 800 mil em 2022, para 2,08 milhões em 2023, devendo totalizar, até 2075, no mínimo 100 milhões a menos (previsão otimista), impactando negativamente em primeiro lugar os mercados imobiliário e de alimentos. Com o agravante de que até lá a quantidade de pessoas com 65 anos de idade e mais deverá ultrapassar o total de 400 milhões, equivalente a duas vezes a população do Brasil – e esse universo de pessoas idosas ainda é um mercado consumidor pouco conhecido.
Gedeon, da ApexBrasil, informou o crescimento das vendas de café na China, no ano passado, aumento de quase 300%, e as perspectivas do Brasil para o Salão Internacional de Alimentação (SIAL), que ocorrerá em Shanghai, de 28 a 30 de maio. Segundo ele, empresas interessadas em entrar no mercado chinês ou em ampliar a sua participação, podem contar com o apoio da ApexBrasil, que disponibilizou 11 cursos online de capacitação específicos. Inéditos, os materiais são gratuitos e foram desenvolvidos pelas equipes da ApexBrasil em Beijing e Shangai. Confira.
Curso 1 - Introdução aos canais de importação chineses e mecanismos de supervisão
Curso 2 - Introdução geral novos requerimentos GACC para registro de fabricantes estrangeiros
Curso 3 – Tutorial e FAQ sobre o registro no GACC de fabricantes de alimentos no exterior
Cursos 4/5 - Entendendo os requisitos de rotulagem de alimentos na China
Curso 6 – Oportunidades de mercado e conformidade de produtos aquáticos
Curso 7 – Oportunidades de mercados e conformidade de produtos lácteos
Curso 8 – Oportunidades de mercado e conformidade para castanhas
Curso 9 – Oportunidades de mercado e conformidade do mel e da própolis
Curso 10 – Oportunidades de mercado e conformidade para bebidas alcóolicas
Curso 11 – Requisitos de importação por e-commerce para alimentos importados
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