É guerra

Estou em grupo de risco e nunca fui hospitalizado na vida, sequer por um dia

Apesar de serem alternativa proibitivamente caras, tive opções de voltar para o Brasil nos últimos dias. Mas acabei por abdicar delas até por entender que os riscos de pegar o coronavírus aqui são similares aos de contraí-lo aí. No mais, de que me valeria o Brasil? Ora, sequer contatos direitos com parentes me seriam facultados. Menos mal então que fique mais uma semana por aqui, no mínimo, ajudando no movimento desesperado que faz o governo francês para atrasar a curva de alastramento da doença, na esperança de poder acolher os enfermos em condições minimamente satisfatórias. Seja como for, a situação é terrível, calamitosa, quase desesperadora.

Ontem, domingo, alguns resolveram antecipar a primavera que já chega e foram passear pelos parques. As autoridades viram o fato com pavor. Não será que os comunicados tinham sido claros o bastante com respeito à necessidade de ficar em casa? Nesse contexto, tudo indica que o presidente Macron decretará hoje uma espécie de quarentena compulsória, em que as pessoas só poderão sair à rua se for para atendimento médico e compras de medicamentos. Um relatório que vazou na manhã de hoje no "Le Monde" dá conta da possibilidade de termos até meio milhão de mortes – o que seria uma hecatombe de dimensões inauditas em tempos de paz.

Estou com medo? É claro que reina alguma apreensão. Estou em grupo de risco e nunca fui hospitalizado na vida, sequer por um dia. O que seria de mim numa clínica francesa? Um desespero. Mas não estou pensando nisso. Penso sim em como me juntar a essa imensa corrente que se forma para minimizar o impacto colossal do tsunami a caminho. Estou pronto para todos os cenários, e sumamente preocupado com o que poderá acontecer no Brasil, onde o presidente da república foi confraternizar com militantes, dando péssimo exemplo à população. A onda vai estourar com vigor logo mais. Se sobreviver às terríveis açoitadas que ela dará no molhe, contarei tudo aqui para vocês.

Que sejamos fortes e proativos. Construtivos e solidários – até que o vagalhão vire marola. Agora é guerra sem quartel. As ruas de Paris certamente nunca estiveram assim. 

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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