Passeios atraem apreciadores de vinhos em Curitiba
Os vitivinicultores da Região Metropolitana de Curitiba não economizaram na criatividade para atrair quem aprecia bons vinhos e espumantes. Um exemplo é o aproveitamento de um túnel abandonado de forma inusitada em Piraquara. Localizado ao lado de outro mais novo e largo que permite a passagem da locomotiva a diesel, a antigo se tornou o que ninguém sonhava, graças à criatividade do empresário Ari Portugal (foto): uma espécie de adega onde amadurecem os espumantes vendidos e saboreados na Cave Colinas de Pedra.
A temperatura constante e fria se revelou ideal para a função, além, é claro, de uma atração mais que especial no passeio – a degustação é feita lá dentro, sob 60 metros de pedra. Neste ambiente que só varia entre 16 e 17 graus e mantém umidade constante superior a 90%, numa penumbra reconfortante, o espumante repousa por dois anos antes de ser oferecido. Tanto em Piraquara como nos demais municípios, existem vinícolas que se abrem para passeios internos, quando o visitante pode ver todo o processo do preparo do vinho, desde a colheita da uva até seu engarrafamento, com degustação de vinhos. Apesar de centro industrial e sede do maior aeroporto do Paraná, São José dos Pinhais também investe no turismo rural e calcula que isso lhe rende a visita de 200 mil pessoas a cada ano. De acordo com dados da prefeitura, o turismo emprega mais de 5 mil pessoas, o que significa 4,5% da força de trabalho local.
Os roteiros turísticos rurais, a exemplo do Caminhos do Vinho, movimentam cerca de 120 estabelecimentos de gastronomia, comércio de produtos coloniais e artesanato, adegas, cafés, queijarias e cervejarias. Pousadas, ranchos com passeios a cavalo e chácaras de produtos orgânicos completam o cenário, sempre marcado pela cultura dos imigrantes que recebeu, entre eles italianos, poloneses, ucranianos, portugueses e alemães. Aqui também o vinho ganha lugar de destaque. Num microclima que garante pelo menos cinco graus a menos que Curitiba, segundo divulga a Vinícola Araucária, a 980 metros de altura (a mesma dos vinhedos gaúchos), os proprietários conseguiram retomar a produção das parreiras, enxertadas com espécies francesas, com as quais produz 70% das cerca de 30 mil garrafas que faz anualmente.
Uma delas, do espumante que traz no rótulo um quadro de Poty, encantou a família de Gaspar (SC) que passeava pela vinícola. Elzbieta e Rodney Espíndola aproveitaram a viagem a negócios a Curitiba e degustaram os vinhos locais durante o tour pela propriedade. “Maravilhoso”, enalteceu Elzbieta, indecisa entre os espumantes e os vinhos que também homenageiam Curitiba e o Paraná, com os nomes Angustiphólia e Gralha Azul. “Queríamos mostrar que essa região tem capacidade de produzir uvas viníferas e de elaborar vinhos finos de boa qualidade, com um grande diferencial”, explica o idealizador da Vinícola Araucária, Renato Adur, diante das sete medalhas de ouro e uma de prata que seus nove rótulos já obtiveram desde 2014.
Concebida como um espaço de lazer, com trilhas, restaurante, mirante e cabanas, a empresa integra também o circuito de enoturismo organizado pela Associação dos Vitivinicultores do Paraná (Vinopar). Fazem parte ainda a Vinícola Legado e Família Zanlorenzi (Campo Largo), Vinícola Franco Italiano (Colombo), Família Fardo (Quatro Barras), Copasol-Trentina (Piraquara) e Vinhos Santa Felicidade (Curitiba). Com os vinhos e as vinícolas como espaço de turismo, o potencial é enorme, tanto pelas condições locais como pela experiência de outros lugares. Bento Gonçalves (RS), por exemplo, recebe quase um milhão de pessoas por ano, atraídas pela produção local de vinho. A estimativa é que 40 milhões de pessoas viajem pelo mundo para provar vinhos.
Um plano estratégico para fortalecimento e ampliação da cadeia da vitivinicultura no Paraná será elaborado em 30 dias. A medida foi definida em reunião entre o secretário da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, e produtores do setor, no fim de semana. O encontro aconteceu durante o Festival Vinopar do Vinho Paranaense, em Curitiba. De acordo com Ortigara, o plano será construído por técnicos da secretaria, da Emater e Iapar, em conjunto com os produtores. “Nosso objetivo é levantar as dificuldades de cada elo desta cadeia produtiva e buscar soluções, incluindo as áreas de pesquisa, assistência técnica e incentivos para ampliação da área de plantio”, disse.
O secretário explicou que hoje a maior parte das uvas utilizadas para a produção de vinhos e sucos no Estado vem do Rio Grande do Sul. Porém, o Paraná tem potencial para ampliar a produção. “Temos centenas de famílias que já produzem uvas, temos qualidade, mas podemos crescer com incentivos, como o apoio à produção de mudas, além da assistência técnica direta e o fornecimento de insumos para associações e cooperativas de agricultores familiares”, destacou. O diretor da Vinopar, Fernando Rausis, avalia que as perspectivas são boas.
Mais de 70 rótulos de vinhos finos e coloniais, espumantes e sucos elaborados no Paraná puderam ser degustados e adquiridos durante o Festival Vinopar do Vinho Paranaense. Foi a primeira vez que vitivinicultores do Estado se reuniram para apresentar e promover os seus vinhos, buscando estimular o consumo e valorizar o produto regional, assim como a prática do enoturismo. Rausis explica que a ideia de reunir as vinícolas num mesmo evento possibilita que o público deguste todos os estilos de vinhos, espumantes e sucos produzidos no Estado, uma forma de fortalecer a cadeia produtiva e também a cadeia do comércio. “É uma oportunidade para as pessoas perceberem que o Paraná está fazendo um trabalho sério com seus vinhos, diversificando microclimas, trazendo muita tecnologia, e vinhos realmente de qualidade, já comprovada com premiações internacionais”, afirmou o diretor da associação.
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