Languiru aposta em nova grife de leite para se destacar no mercado de commodities
A crise no setor de leite não é uma novidade. Quando a produção é alta, o valor pago não cobre os custos da operação. E mesmo quando os preços do leite atingem bons patamares para os pecuaristas – como foi em 2016 no Rio Grande do Sul, por exemplo –, o produto ainda sofre uma concorrência agressiva com os leites em pó importados. Só em solo gaúcho, terceiro maior produtor do país, é possível encontrar produtores em 465 dos 497 municípios, revelam dados da Emater-RS. A comunidade de cerca de 75 mil produtores de leite, no entanto, já foi bem mais numerosa.
Nos últimos anos, a atividade leiteira tem registrado uma redução significativa no número de produtores, principalmente aqueles de menor escala de produção. Quem permanece na atividade, por sua vez, está se especializando cada vez mais, através de maiores investimentos em tecnologias, instalações e equipamentos para aumentar a produção e garantir a qualidade do produto.
É o caso da família Brackmann, que investiu cerca de R$ 1,5 milhão na compra de dois sistemas robotizados para ordenha de vacas e nas instalações da propriedade. Na zona rural de Teutônia (RS), no Vale do Taquari, eles viram na oportunidade uma forma de produzir mais e, ao mesmo tempo, incentivar que os filhos sigam na atividade. Em 2012, a família produzia cerca de 1,2 mil litros de leite diariamente – quantidade que saltou para 4 mil litros neste ano, contando com 130 vacas produtivas, além de 20 animais em descanso e outros 120 novilhos.
A produtividade gaúcha é a maior do Brasil, atingindo 12,6 litros/vaca/dia, quando se consideram apenas as propriedades que comercializam leite cru para as indústrias, conforme a Emater-RS. A fazenda dos Brackmann, entretanto, já se destacada por tirar, em média, o dobro da produção gaúcha (27 litros/vaca/dia). Agora, com o sistema de ordenha robotizada, eles entregam para a Cooperativa Languiru 35 litros por animal diariamente. Isso porque as vacas vão à ordenha de forma livre, quando sentem necessidade. O equipamento faz a esterilização dos tetos do animal, a ordenha, indica a quantidade de ração necessária e, também, realiza a análise do leite. “Sozinha, eu levava três horas e meia pela manhã e outras três horas e meia à noite para ordenhar o rebanho. Agora, tenho mais tempo para outras atividades e também para os meus filhos”, relata Deise Von Muhlen Brackmann, de 30 anos.
Ganho em qualidade de vida e, também, da produção. Mauro Aschebrock, gerente de fomento do Setor de Leite da Languiru, afirma que, enquanto a legislação nacional permite um limite de 300 mil UFC/ml (unidade para contagem bacteriana), o leite produzido pela fazenda está abaixo de 10 mil UFC/ml. “Atende com folga a legislação e é, inclusive, um leite de padrão internacional”, explica Aschebrock. A cooperativa viu nisso uma conjuntura apropriada para o lançamento de um produto premium, um leite que remunera melhor o produtor e, ao mesmo tempo, chega mais fresco e com maior controle de saudabilidade às gôndolas. Assim surgiu a linha Origem, da Languiru, que inicialmente coletará leite de apenas cinco propriedades rurais do Vale do Taquari selecionadas, como a dos Brackmann. O diferencial desse novo rótulo é a redução pela metade do tempo entre a ordenha e o envase do leite na indústria, baixando de 48 horas para 24 horas, sem a adição de estabilizantes. Inicialmente, a cooperativa vai receber em torno de 3 mil litros a 5 mil litros diários por produtor selecionado. E o destino já está certo: a nova caixinha entra nos supermercados do Rio Grande do Sul ainda neste mês. O consumidor deve pagar R$ 3,50 por unidade do leite Origem, valor abaixo de produtos concorrentes considerados top de linha, mas acima de produtos considerados normais.
“Até então, só víamos pontos negativos nessas novas normativas para a produção leiteira. Mas agora encontramos uma forma de agregar valor”, explica Dirceu Bayer, presidente da cooperativa. Foram investidos cerca de R$ 4 milhões nessa linha premium, que conta com rastreabilidade da origem através de um QRCode, uma espécie de código de barras personalizado, em cada caixinha.
Na conta do produtor, a remuneração aumenta cerca de 5% em relação a entrega de um leite padrão. Os ganhos, entretanto, não são só financeiros. “Antes, a gente não podia sair de casa, pois já tinha de ficar de olho no relógio, sabendo que tinha de voltar logo para ordenhar. Deu mais produtividade, mas também melhorou a nossa vida”, justifica Moacir Brackmann, de 44 anos. A expectativa da família, que há quatro décadas se dedica à atividade, é que os filhos Eduardo, Taís e Guilherme sigam na fazenda, tocando os negócios e dando perenidade ao legado dos pais e avôs.
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