O temor de viajar e de viajantes: o “novo normal” pós-Covid

Os setores de turismo e de feiras precisarão inovar muito nos próximos anos, pois a tecnologia não será suficiente para aliviar o impacto psicológico da pandemia sobre turistas e negociantes
Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, terceiro maior terminal do Brasil com pouca movimentação de passageiros por causa do coronavírus

Quanto tempo será necessário para que diminua o temor mundial pós-Covid-19 de viajar e de viajantes? Recursos tecnológicos, substituindo a necessidade de presença física em reuniões, não resolvem totalmente no caso de negócios internacionais, o "iri e viri" é inerente à atividade. Talvez passe a ser comum participar virtualmente de feiras e rodadas de negócios, visitar assim indústrias e outros tipos de empresas, e até fazer turismo apenas pela internet. No entanto, é muito difícil realizar negócios em outros países sem ir lá, principalmente na primeira vez, e continua sendo insubstituível a visita presencial a locais turísticos maravilhosos...

Mas como não temer viagens e viajantes, se em 2018, segundo a publicação "Panorama del Turismo Internacional 2019", da Organização Mundial de Turismo (WTO), a França (65 milhões de habitantes) recebeu 89 milhões de turistas; a Espanha (47 milhões) 83 milhões; a Itália (60 milhões) 62 milhões; a Alemanha (83 milhões) 39 milhões; e o Reino Unido (68 milhões) 36 milhões – coincidentemente os cinco países da Europa neste 9 de abril com mais casos confirmados da Covid-19? Nesse mesmo ano, a China recebeu 63 milhões de turistas – menos de 5% de sua população, mas ainda assim a quarta maior quantidade do mundo – e 140 milhões de chineses teriam viajado para o exterior. E a WTO estima que em 2027 haverá 300 milhões de pessoas na China com passaportes – e seguramente com poder aquisitivo para realizar viagens internacionais.

Tantas viagens e viajantes com certeza contribuem para a disseminação global de doenças: aumentou em quase 1 bilhão de pessoas o turismo emissor no mundo, de 1990 para 2018 (438 milhões, para 1,401 bilhão), passando de 255 milhões para 672 milhões (+163%) na Europa, e de 59 milhões para 359 milhões (508% de acréscimo) na Ásia e Pacífico. A China é o país campeão em gastos em turismo no mundo, com US$ 277 bilhões em 2018, quase o dobro do segundo lugar (Estados Unidos, US$ 144 bilhões), e muito acima dos demais da Ásia (Coréia do Sul, com US$ 35 bilhões; Índia, com US$ 21,3 bilhões e Japão, com US$ 20,2 bilhões) e da Europa (Alemanha, com US$ 95,6 bilhões; Reino Unido, com US$ 69 bilhões; França, com US$ 47,9 bilhões e Itália, com US$ 30 bilhões).

São esses números grandiosos que explicitam o tamanho do drama do turismo mundial hoje, às voltas com a queda abrupta do movimento em todos os segmentos do setor (transportes, hotéis, restaurantes), após dez anos consecutivos de crescimento, e agora em pânico com a perspectiva dessa crise durar mais que a pandemia, dadas as transformações estruturais exigidas pela saúde pública mundial para reduzir a probabilidade de tragédias como a Covid-19, e o trauma causado pelo ser invisível levado em poucos dias para o mundo inteiro.

Os setores de turismo e de feiras precisarão inovar muito nos próximos anos, porque toda a tecnologia moderna não será suficiente para aliviar o impacto psicológico dessa pandemia sobre turistas e negociantes, agora com o receio adicional de se contaminarem e de levarem doenças para seus familiares e amigos. Doravante, o temor de viajar e de viajantes será fator limitante mais importante do que a redução das atividades econômicas, agravando a recessão. 

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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