O estrago do fanático

Fiquei muito triste com a morte dos amigos argentinos que estavam em Nova York para comemorar os 30 anos de formatura. Vitimados por um desequilibrado que os atropelou em pleno passeio ciclístico, as imagens que nos ficam é a da visível fraternidade ...
O estrago do fanático

Fiquei muito triste com a morte dos amigos argentinos que estavam em Nova York para comemorar os 30 anos de formatura. Vitimados por um desequilibrado que os atropelou em pleno passeio ciclístico, as imagens que nos ficam é a da visível fraternidade que reinava entre eles. Quem não conheceu o vigor inequívoco da amizade, não sabe o quão é estimulante estar em outro país, em apartamento alugado, dividindo cômodos como nos tempos de estudante, e botando a conversa em dia. Nessas horas, fala-se das velhas paixões, toma-se um drinque a mais, e se sai em bando para descobrir a cidade. Em segundos macabros, porém, tudo pode acabar, na mais inverossímil das viradas, por obra e graça de um pobre diabo que, sentindo-se deslocado no mundo, opta pela vileza. Que símbolo maior de felicidade ele poderia ter divisado do volante do carro que não o dos amigos em festa? Quanto às alegadas motivações religiosas, só alguém tão débil quanto ele, ou tão oportunista quanto Trump,  pode engoli-las. Que o digam seus conterrâneos do Uzbequistão que o dão por pouco mais do que um idiota.   

Desde que isso aconteceu, penso na cidade de Rosário e em como seus habitantes devem estar elaborando o luto. Ano passado, fiquei uma semana em Mendoza. No anterior, estive em viagem de trabalho em Córdoba. O que vi? Ora, as pulsações da vida argentina fora da capital são muito peculiares. Se Buenos Aires é arrebatadora e inebria os sentidos, percebe-se que os laços entre as pessoas são tão frouxos quanto costumam ser nas metrópoles de classe mundial. Em Rosário, por outro lado, imagino que os amigos vivessem o diapasão que vi em minhas idas ao interior. Ali reina calor humano, longos churrascos domingueiros, sessões de mate onde impera a conversa, a convivialidade e a cumplicidade. Tenho certeza de que a alegria de um, era a alegria de todos. O mesmo valia para a tristeza. O que posso dizer hoje é que devemos cultivar nossos amigos tanto ou mais do que a família. Os laços de sangue sabem se cuidar sozinhos. Os demais precisam do fertilizante da atenção e iniciativa. O Natal vem aí. Aproveite e ligue para um amigo com quem não fala há muito tempo. Vai fazer bem a ambos. E ao mundo.

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Sábado, 14 Dezembro 2024

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