A autora de Mazal Tov e o tradutor
No quadro de uma live tranquila, quando já era quase meia-noite em Bruxelas, a escritora Margot Vanderstraeten (foto) falou sobre sua viagem ao Brasil e contou sobre os bastidores de Mazal Tov, sua obra mais famosa, agora disponível no Brasil.
E aí, Margot, tudo pronto para sua viagem ao Brasil? Quais são suas expectativas? Você está em Antuérpia agora?
Olá! Não, hoje estou excepcionalmente em Bruxelas. Vim para um jantar em torno de uma belga ilustre cujo nome é muito ligado à moda. Trata-se de Diane von Fürstenberg, que terminou de ler Mazal Tov e adorou. Pouca gente sabe, mas ela é judia. O nome nobre veio do casamento com um príncipe alemão quando tinha 18 anos. Quanto ao Brasil, estou aquecendo os motores. Essa semana mesmo tomei uma caipirinha para ir me familiarizando. As expectativas não poderiam ser melhores.
Uma caipirinha é sempre um bom começo. O livro ainda não foi lançado oficialmente, mas já deu uma largada comercial bastante vigorosa. Sua editora, apesar de pequena, tem trabalhado com afinco. Fala-se até de uma segunda edição...
Eu sempre recomendo cautela mesmo aos editores mais entusiastas. Um livro tem de cumprir um ciclo, não adianta tentar curto-circuitá-lo. Você traduziu Mazal Tov, você conhece como poucos o alcance da história. Mesmo assim, o "boca a orelha" é a chave para a expansão da base de leitores. Estou feliz em ter escolhido a AzuCo. É uma editora pequena, mas combativa. Espero que faça um trabalho semelhante ao da Czarne, meu editor na Polônia. Eles só publicam uns poucos livros no ano. Mas eles são tão comprometidos que chegamos rapidamente a 20 ml exemplares de venda. Mesmo para o Brasil, esse seria um bom número.
A Polônia foi o único país do Leste da Europa ou teve algum outro? A temática judaica lá pode ser polêmica, mas parece que atrai os leitores.
É verdade. Afora a Polônia, tivemos excelentes números na Hungria e República Tcheca. Logo saberemos mais sobre a Ucrânia onde o trabalho está meio emperrado, por razões óbvias. Cada um desses países vendeu mais do que a Alemanha, para você ter uma ideia. Por quê? Porque na minha opinião as editoras da França, Alemanha e Inglaterra compraram os direitos para não ficar de fora quando Mazal Tov virar série na TV. Eles compraram os direitos por puro FOM (fear of missing out, ou "medo de perder", em tradução livre) como dizem hoje os muito jovens. Os pequenos editores são mais comprometidos. E isso faz toda a diferença.
Ou seja, a expectativa que seja a próxima "Nada ortodoxa" ou "Diamantes brutos" é o que move os grandes?
Não os condeno. É claro que eu adoraria ver Mazal Tov virar um sucesso da Netflix. Aliás, Antuérpia está mais do que nunca no spotlight. Acabo de jantar com Arthur Langerman, que é o coach de iídiche de Diamantes Brutos.Mas o que eu destaco no trabalho das editoras pequenas é que elas percebem com mais clareza o valor humanístico do livro. Elas compram a essência, não só o formato. O presente não vale pelo embrulho, senão pelo conteúdo. E no começo, pelo menos, tudo é livro.
Quem constitui o seu público-leitor? São judeus na maioria? Você tem falado para públicos muito diversos?
A maioria dos meus leitores é formada por não-judeus. Engraçado, eu não sou de muito falar. De longe, prefiro entrevistas por escrito, contrariamente ao que estamos fazendo hoje. Não sei se é timidez, mas acho que tem a ver com minha natureza individual. Espero que isso não seja um problema no Brasil. Seja como for, tento evitar falar de política nas poucas palestras que faço. Tudo o que diz respeito a Israel pode gerar polêmica e as palavras precisam ser pesadas milimetricamente. Isso acrescenta uma camada de estresse ao que já é difícil.
Sabemos que você gosta de escrever sobre comida. O que você espera da culinária brasileira?
À medida que envelheço, venho comendo menos carne. Mesmo assim, estou pronta para degustar um bom churrasco, visto que vamos começar pelo Sul do Brasil, por Porto Alegre. Comida para mim é celebração, é uma ocasião para fazer amigos, para puxá-los para um círculo mais próximo, tanto quanto me permite a mentalidade nórdica. Mas não sou uma pessoa de requififes. Uma colher de caviar é uma delícia. Mas também um pão bem assado e um ovo bem feito podem ser o paraíso.
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