A pandemia evidenciou as distorções do mercado nacional de energia elétrica
A paralisação das atividades industriais por causa da pandemia do Covid-19 gerou uma distorção no mercado de energia elétrica nacional. Mesmo sem ter consumido o insumo, as indústrias tiveram de pagar pelo volume contratado. Em Santa Catarina, o efeito atingiu a concessionária de distribuição, a Celesc, que também teve de cumprir os contratos de assumidos anteriormente. O assunto, incluindo as medidas compensatórias, como a criação da Conta Covid (uma antecipação de receita das concessionárias), foi discutido durante reunião on-line da Câmara de Assuntos de Energia da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), que tratou também do fornecimento de gás natural. "A pandemia demonstrou necessidade de compartilhamento dos riscos para todos os elos da cadeia. O ônus recaiu sobre as distribuidoras, preservando na íntegra toda a regularidade para os geradores e transportadores de energia. A conta Covid será paga integralmente pelo consumidor, por meio de aumento da tarifa nos próximos anos", enfatizou o presidente da Câmara, Otmar Muller.
O presidente da Celesc, Cleicio Martins, informou que, em por causa da pandemia, a empresa constatou uma redução do consumo e aumento da inadimplência, que impactaram o caixa da empresa. "No dia 10 de abril, a carga caiu em 39%, 40%, como se todas as indústrias tivessem parado", recordou. O aumento do consumo residencial, da ordem de 15%, não compensou a perda. Segundo ele, apenas 15,4% da tarifa corresponde ao faturamento da concessionária e o restante representa compromissos contratados pela empresa. Ele explicou que a companhia recebeu R$ 530 milhões da Conta Covid e, com isso, pode parcelar as faturas, ação que já totaliza cerca de R$ 68 milhões e alcança 600 indústrias catarinenses.
O presidente da SC Gás, Willian Lehmkuhl, explanou que, em função da pandemia, a redução do consumo de gás natural foi de 47% no Brasil e de 46% em Santa Catarina. Mas diferentemente do plano nacional, o consumo em solo catarinense está se recuperando. "Vários clientes estão pedindo o aumento do consumo de gás, ou seja, os negócios estão sendo ampliados. Isso nos coloca em estado de alerta quanto ao limite de nossa infraestrutura, já que o Gasbol tem uma limitação aqui no Sul do Brasil", avaliou.
Muller observou ainda que o contrato de concessão do gás natural precisa ser adequado à nova realidade de mercado, especialmente quanto à regulação para o consumidor livre. No que diz respeito à energia elétrica, além dos aspectos relacionados especificamente à pandemia, o presidente da Câmara de Assuntos de Energia destacou ainda distorções como a elevada carga tributária que incide sobre o setor e os subsídios sociais, que acabam gerando um efeito contrário ao desejado. "Isso acaba voltando para o consumidor, pois encarece os produtos e penaliza a indústria, que perde competitividade internacional. A sociedade paga também com a redução de empregos", afirmou.
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