Setor automotivo inicia o ano com freio de mão puxado

Vários fatores impediram uma melhor largada em janeiro
A vendas internas sofreram as consequências da falta de oferta e de problemas no varejo

O primeiro mês do ano não trouxe bons indicadores para a indústria automobilística, mas o contexto ajuda a explicar essa largada com o freio de mão puxado. Historicamente, o primeiro bimestre tem as piores médias de vendas de veículos no ano, por conta de paradas nas fábricas, feriados, férias escolares e um natural desaquecimento após a alta que geralmente ocorre em dezembro. Porém, este janeiro foi especialmente complicado para o setor automotivo, como revelou o balanço divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) nesta segunda-feira (7).

A produção de 145,4 mil unidades foi 27,4% inferior à de janeiro de 2021. Como no ano passado, o mês foi mais curto na prática, com média de 17 dias úteis, se levadas em conta as férias coletivas prolongadas em boa parte das fábricas. A diferença neste ano foi uma mistura da já conhecida escassez de componentes eletrônicos com os impactos da variante ômicron sobre a força de trabalho. Aa associadas da Anfavea reportaram índices sem precedentes de absenteísmo, por conta de afastamentos de funcionários por Covid-19 ou por suspeita da infecção.

A vendas internas também sofreram as consequências da falta de oferta e de problemas no varejo. No total, 126,5 mil veículos foram emplacados, um recuo de 26,1% sobre janeiro do ano anterior. Outros países afetados pela variante ômicron tiveram quedas parecidas com a nossa, próximas de 20%. "Foi um mês de recorde nas infecções por Covid-19 no país e de chuvas acima da média para o período, o que afetou a produção dos fornecedores e dos fabricantes de veículos, e ainda afastou clientes das concessionárias", lembrou Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea. Outro fator que afetou os números foi a entrada em vigor do novo sistema do Registro Nacional de Veículos em Estoque, o Renave, que trouxe maior segurança ao processo digital de licenciamento.

"A curva de aprendizado de todos os agentes envolvidos nessa operação da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) atrasou alguns licenciamentos de carros vendidos em janeiro, mas a situação já está normalizada, refletindo em números melhores de emplacamentos neste início de fevereiro", acrescentou o dirigente. As exportações foram menos prejudicadas por essas atribulações excepcionais do mês de janeiro. Ao todo, 27,6 mil unidades foram embarcadas, o que representou um crescimento de 6,6% em relação a janeiro de 2021. Estoques e nível de emprego mantiveram patamares muito semelhantes aos de dezembro.

Moraes afirmou que ainda aposta numa boa reação do mercado para este ano, apesar deste janeiro frustrante. "Os problemas causados pela ômicron deverão ser amenizados nos próximos dois meses, permitindo um quadro mais próximo da normalidade em todas as atividades. E, como destacamos na coletiva anterior, não teremos todos os semicondutores que precisamos este ano, mas o nível de escassez será menor que em 2021", prevê.

Porém, a maior preocupação da Anfavea é com a fuga dos consumidores por conta da alta de juros. De acordo com os cálculos de Moraes, três em cada cinco brasileiros recorrem ao empréstimo para comprar automóveis. Por conta do aumento da Selic, o CDC, principal financiamento para aquisição de carros, já alcançou o índice de 26,8% ao ano. "Isso pode desaquecer o mercado, caso não haja contrapartidas que tragam algum alívio para o orçamento dos consumidores", concluiu Moraes.

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