Os desafios de Claudio Bier à frente da Fiergs

Rio Grande do Sul deve levar cinco anos para se recuperar da enchente, estima novo presidente da federação das indústrias
Gestão de Bier (na foto, ao centro) terá quatro pilares principais: competitividade, inovação, desenvolvimento de talentos e reconstrução das empresas alagadas

Em um dos momentos mais desafiadores do estado gaúcho, após as enchentes que assolaram diversos municípios, Claudio Bier assume o cargo de novo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) visando quatro pilares principais para seu mandato: competitividade, inovação, desenvolvimento de talentos e reconstrução das empresas alagadas. "Minha responsabilidade será muito grande. Temos muitas empresas atingidas, algumas embaixo d'água, muitos funcionários com residências embaixo d'água, e as que não foram atingidas, com dificuldades de receber ou entregar matéria-prima", resume Bier, que sucederá Gilberto Petry.

Em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (18), horas antes de tomar posse, o novo presidente da instituição ressaltou a importância de que o BNDES encaminhe rapidamente para as empresas capital de giro com juros adequados para que possam recuperar o Rio Grande do Sul. "Mas precisamos agora pensar para a frente, olhar o copo meio cheio. Se não vier tudo o que o governo nos prometeu ou se vier alguma coisa, vamos ver o que dá para fazer com isso, mas temos que pensar primeiramente em levantar o nosso estado", afirma, antecipando uma gestão mais otimista e voltada para resultados. Bier demonstra preocupação, também, com a desvantagem do Rio Grande do Sul em termos de localização geográfica, especialmente após a formação do Mercosul, que não beneficiou o estado. "São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais estão com uma vantagem muito grande sobre o Rio Grande do Sul em função da nossa localização", avalia. Por isso, afirma que uma das bandeiras que irá levantar será a implementação de uma Zona Franca no estado, além da necessidade de buscar incentivos semelhantes aos oferecidos ao Nordeste, incluindo taxas de juros mais baixas e benefícios financeiros.

O patrulhense defende ainda a importância das linhas de financiamento como essencial para a indústria, comércio e varejo, ressaltando que o governo federal deve fornecer esse crédito para apoiar a reconstrução econômica, mas reconhecendo que ainda não está chegando aos setores necessitados. "Mas eu também, ao mesmo tempo, sou muito favorável à autonomia do Banco Central, porque é isso que segura o governo federal de fazer certas dívidas, que podem nos trazer a uma inflação galopante como há 30 anos, o que seria o caos do país", alerta. Ao abordar o relacionamento com o governo federal, Bier resume que será de um 'apoio crítico': "Vamos apoiar na hora que tiver de apoiar e criticar na hora que tiver de criticar. Não vamos brigar por brigar ou bater por bater, isso não é o nosso estilo. Agora, como falei, tem de ser um relacionamento crítico", explica, revelando que, no momento, sua avaliação das medidas do governo federal pende mais para a crítica.

Retomada do aeroporto e da competitividade do estado
Na avaliação de Bier, com a sorte de boas safras, o Rio Grande do Sul ainda deve levar cerca de cinco anos para se recuperar dos impactos das enchentes. O período sem o Aeroporto Salgado Filho, localizado na capital do estado e com previsão de retomada total apenas em dezembro desse ano, é outro problema sério. "Nós da Fiergs lutamos muito pela extensão da pista [do aeroporto de Porto Alegre], porque todas as nossas cargas aéreas estavam sendo despachadas por Campinas, já que não tínhamos condições aqui de ter uma. E, agora que conseguimos ter uma pista maior funcionando, aconteceu essa tragédia que vai nos tirar o aeroporto por quase um ano. Então, por isso, perdemos muito em nossos negócios. [Esse processo] poderia ter sido mais ágil, e em vez de outubro tinha de abrir em agosto o aeroporto", defende. Apesar disso, celebra os investimentos feitos nos demais aeroportos do estado. "Essas melhorias em Caxias, Canela, Torres, Pelotas, têm de acontecer independente do Salgado Filho não estar funcionando. Sempre é bom ter mais locais com condições de receber aeronaves grandes —para o turismo, para o estado, para todo mundo", assegura.

O novo presidente da Fiergs chama atenção para as diversas vantagens competitivas do Rio Grande do Sul, mas reconhece que ajustes devem ser feitos. "Temos um porto que o Mato Grosso não tem. Agora, ele precisa ter calado, tem de ser preparado para poder fazer o escoamento dos nossos produtos. Poderíamos ter uma indústria de proteína animal muito mais poderosa no sul do estado, que é uma área que tem espaço para desenvolver e crescer, e não temos porque falta milho. Então tem algumas ações que precisam ser implementadas, que não só na questão da logística, mas também na questão da matéria-prima", avalia. Uma solução para isso, segundo ele, seria o incentivo de projetos de irrigação no Rio Grande do Sul — atualmente, apenas 10% da área plantada em solo gaúcho é irrigada. Para isso, Bier sugere que se leve adiante o Fundopem Irrigação, proposta que prevê incentivos fiscais aos produtores rurais para investimentos na implantação de sistemas de irrigação nas culturas agrícolas. Na entrevista coletiva, Bier apresentou o futuro CEO da Fiergs, Paulo Hermann (na foto, à esquerda de Bier), que atuou por 22 anos na indústria de máquinas agrícolas John Deere, entre 2012 e 2021, como presidente.

Biografia
Claudio Affonso Amoretti Bier, 81 anos, é diretor-presidente da Masal e presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no RS (Simers). Nascido em Santo Antônio da Patrulha, antes de adquirir a Masal, em 1983, atuou nos ramos dos transportes e extração de madeiras. Como presidente do Simers, há pouco mais de 20 anos, idealizou a criação de um espaço para exposição de máquinas e implementos agrícolas dentro da Expointer, o que ajudou a dar protagonismo e maior dimensão ao segmento. Em 2001, adquiriu a Fundição Jacuí, de Cachoeira do Sul. Entrou para o ramo da navegação em 2018, quando adquiriu em Taquari o Estaleiro Colorado.

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Quinta, 21 Novembro 2024

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