Projeto incentiva a inclusão de mulheres em conselhos empresariais
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizada em 2021 mostram que 51% da população brasileira é composta por mulheres. Porém, por mais que sejam a maioria no país e responsáveis pelas decisões de consumo, as mulheres ainda são minoria em cargos de governança e liderança nas empresas. Uma pesquisa realizada pelo Women Corporate Directors Foundation (WCD), entre 2021 e 2022, mostra que o número de mulheres nos conselhos de administração no Brasil saiu de 124 para 133, o que representa um crescimento de apenas 7%. Com o objetivo de despertar e incentivar as mulheres a buscarem esses espaços, um grupo de oito mulheres, integrantes do Grupo MEX Brasil - Espaço Mulheres Executivas, desenvolveu o Programa + Mulheres na Governança (+MG), em Curitiba.
A primeira fase do programa, realizada durante o ano de 2022, foi intitulada Despertar e foi dividida em cinco encontros. Em cada encontro, as mais de 50 participantes puderam assistir palestras, foram mentoradas por grandes nomes que são referência em governança no país, conheceram histórias motivadoras e fizeram network. No Encontro 5, o último desta primeira fase, o tema abordado foi o papel do conselho e do conselheiro. O executivo André Coji, conselheiro de várias empresas importantes brasileiras, falou sobre o papel do conselho de administração e o papel do conselheiro, destacou que a ética é extremamente importante para quem deseja ocupar um cargo tão importante dentro das empresas e a importância do conceito ESG.
"É necessário saber se expressar sem saber utilizar expressões racistas e preconceituosas que muitas vezes estão presentes no dia a dia. É extremamente importante sermos melhores a cada dia, pois precisamos nos preocupar com o futuro próximo, não distante. O papel do conselheiro é ajudar a levantar pontos necessários para a atividade da empresa, muitas vezes dosando a ansiedade do controlador e que funciona até como um controller e um crítico do dia a dia, pois representa o interesse de todos os sócios e não de uma minoria."
Outros assuntos também foram abordados no Encontro 5 do +MG por palestrantes convidados. O Fundador e CEO do Grupo PRO (Propósito/Transearch), André Caldeira, falou sobre a importância de desenvolver soft skills necessárias para crescer em posições de conselho. "Apenas 39% das mulheres ocupam cargos de liderança nas 500 primeiras empresas do país. Além disso, apenas 4,7% dos cargos de liderança nessas empresas são ocupados por pessoas negras. Os homens avançaram porque tinha alguém que cuidava dos filhos em casa, por isso é preciso que sejamos resilientes e nos conectarmos com outras mulheres, pois sozinhas não mudamos nada, é preciso um par para olhar e falar: essa dor eu também tenho, vamos seguir em frente juntas", diz a advogada, conselheira consultiva e ativista social Mariana Ferreira dos Santos
Despertar e fortalecer
Segundo a pesquisa Brasil Board Index 2021, realizada pela Spencer Stuart, as mulheres ocuparam somente 14,3% das cadeiras dos conselhos de administração no Brasil. Insatisfeitas com todos esses indicadores apresentados, oito mulheres executivas criaram um comitê e desenvolveram o Programa + Mulheres na Governança, dividido em duas etapas: a primeira intitulada Despertar e a segunda Fortalecer.
Uma das integrantes do comitê é a gerente regional de projetos na área de compras da Renault, Márcia Zazula, que destaca as possibilidades que o +MG oferece para que as participantes obtenham óticas diferentes de diversos assuntos ligados à questão de governança e liderança. "Temos um público bem diverso, são pessoas da área jurídica, financeira, de operação de empresas privadas, familiares, multinacionais, e acho que trazer temas e casos práticos diversos ajuda a entender momentos que vivemos no dia a dia e traz maturidade profissional", afirma.
Além de todo conhecimento adquirido, as participantes também puderam fazer network com os palestrantes que são referências e experts no mercado e com as outras mulheres e participaram de diversos momentos. "É importante darmos visibilidade aos grupos de minoria e esses momentos são muito importantes para as mulheres fortalecerem conexões umas com as outras. Nos almoços que são feitos depois dos encontros temos mais interação e a quantidade e a qualidade de trocas de informações são riquíssimas e todas saem muito fortalecidas", enfatiza Márcia.
Quem também integra o comitê das oito mulheres é a empresária gaúcha, mentora de carreiras e diretora da Região Sul da Lee Hecht Harrison, Rose Russowski, que avalia a primeira fase do programa como excelente, pois superou suas expectativas. "Entendo que essa fase Despertar provocou o interesse de trazer conteúdos e convidar essas mulheres a pensarem como elas podem ocupar de fato mais espaços. Conseguimos juntar um grupo de mulheres de altíssimo nível técnico, executivo e estratégico e convidar palestrantes incríveis que abordaram temas e discussões de forma muito estratégica", acredita Rose, quem mensalmente se desloca do Rio Grande do Sul, onde reside, para participar dos encontros do +MG.
O Programa + Mulheres na Governança contribui ainda para aumentar a confiança das mulheres em ocupar espaços de Governança, que, como dito anteriormente, é um espaço que em sua maioria é ocupado por homens. "A metodologia do programa foi pensada de forma a apresentar qual é o papel de conselheiros e governança e todas as participantes se viram fazendo exercício e pensando se tinham condições, perfil, se estavam mais preparadas do que imaginavam. De alguma forma todas saíram mais autoconfiantes e talvez com a sensação de maior poder e prontidão para ocupar esses espaços", acrescenta Rose.
A segunda fase do Programa + Mulheres na Governança será dividida em oito encontros, sendo quatro presenciais e quatro virtuais, com início em março de 2023 e as expectativas são altas. "Na segunda fase queremos trabalhar e fortalecer as soft skills das participantes. A formação por si só não garante que vamos mudar algo nos indicadores, mas para que tenhamos mulheres preparadas para fazer essa transformação é necessário fortalecer nelas as habilidades necessárias para estarem dentro das governanças das empresas", finaliza Márcia.
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