Os três caminhos transformadores do South Summit
O ponto de encontro dos ecossistemas de inovação em Porto Alegre (RS) foi a região histórica dos armazéns do Cais do Porto, às margens do rio Guaíba. Mesmo lidando com as trocas bruscas de temperatura, alternando entre sol e chuva, a segunda edição do South Summit contou com um público gigantesco que vivenciou discussões, conexões, exposições e, principalmente, o impacto da velocidade de informações e transformações que estamos vivendo. O evento de inovação e tecnologia seguiu três eixos fundamentais: educação, tecnologia e experiência. Assim, foi possível assimilar como esses cenários em evolução têm impacto na economia, na sociedade e no meio ambiente. A seguir, três grandes aprendizados dos três dias do evento.
O desafio de encurtar o caminho do discurso até a prática
Logo no início do evento, Luiza Helena Trajano, do Magalu, disse bem-humorada: "O ambiente de inovação é ótimo, mas fiquei uma hora presa no engarrafamento do aeroporto até aqui. Vocês precisam melhorar isso". Mais do que uma crítica, precisamos encarar a frase como uma necessidade de aprendizado. Aliás, toda visibilidade e exposição que, principalmente, as redes sociais vêm nos proporcionando, nos leva a esse momento, onde precisamos estar preparados para as conversas difíceis e estar abertos para trabalhar nossas lacunas - seja por descuido, ingenuidade ou, na maioria das vezes, falta de preparo mesmo.
Isso vai dos temas mais básicos, como as questões do trânsito, da água, do clima em um evento, aos temas mais sensíveis que impactam toda estrutura da nossa sociedade. No SXSW, por exemplo, o maior evento de inovação do mundo, realizado recentemente em Austin (Texas), esse tema também apareceu. Não é à toa. Ter conversas difíceis e entrar na zona de desconforto são fundamentais para uma sociedade que se reafirma em construção. E como construir essa ponte do conceito à experiência, de maneira sólida e consistente?
- Ouvindo genuinamente: sermos mais abertos com o feedback;
- Praticando: toda nova cultura e comportamento se incorporam pela prática diária;
- Errando sem medo: errar rápido para corrigir mais rápido ainda;
- Sendo empáticos com o ambiente da inovação e do experimento: menos dogmas, menos certezas e muitas perguntas;
- Sendo curiosos para fora e para dentro: estar interessados nas mudanças do contexto, mas, também, em gerarmos mudanças nas formas que fazemos.
Resumindo: todas essas proposições passam por um caminho, uma postura mental chamada "estar aberto para aprender".
A tecnologia na mão e na boca do povo
Um dos inúmeros aspectos que as áreas de tecnologia e inovação agregam aos ecossistemas de outros segmentos é o conceito de working in progress. A ideia é incorporar análise constante de dados, observação e implementação de melhorias de forma constante, ou seja, não existe o " intocável", o finalizado. "As pessoas tendem a defender o mundo que elas ajudaram a construir", disse Jacqueline Gomes, CEO da No Coração do Cliente e especialista no Método Disney. Nos conectarmos com o que construímos só reforça o que a neurociência diz, que aprendemos melhor fazendo e ensinando, do que ouvindo ou falando. A tecnologia, que é o outro pilar desse tipo de evento, vem em alta velocidade para o debate. Não é à toa que os meetings estão recheados de termos como: exponencial, WIP, MVP, escalar etc.
Vocabulário que está botando, cada vez mais, o pezinho para fora desses ambientes corporativos ou conceituais e aterrissando no dia a dia. Basta falar com uma criança de sete anos que faz trade no Roblox, escolhe em qual servidor usar seu avatar, ou até mesmo sabe mexer no smartphone muito melhor do que nós, adultos. Como toda linguagem que emerge, traz os nativos mais incorporados e logo está instaurada, mas, dessa vez, com velocidade singular. Então o negócio é entender que precisamos, sim, nos familiarizar com esses novos códigos de linguagem – não apenas para usar, aleatoriamente, nas reuniões, mas entendê-los, discuti-los e melhorá-los.
Devemos, então, escalar esse novo dicionário ágil, que mais do que discurso, promove uma nova visão de como o ser humano pode ser útil e achar seu lugar nesse processo. O papel do humano e o impacto das novas tecnologias têm sido a grande discussão ética, econômica, social, principalmente com os avanços popularizados das inteligências artificiais generativas. São muitas novidades a aprender. A sensação que temos é que estão borradas as fronteiras entre as disciplinas e mais do que tentar desenhá-las de volta sugiro que possamos entender o que aprendemos com todo esse movimento de sobreposição e colaboração que cada área vem mais para perto da outra para criar. Mas, na prática, como fomos ensinados (se é que fomos) e como estamos nos preparando para aprender?
Aprender a aprender
"O desafio hoje não é onde você estudou e, sim, como se mantém em desenvolvimento", lançou Pedro Englert, da plataforma de educação StartSe, no painel sobre profissões do futuro. O quanto podemos incorporar aprendizados, não só em um evento em que "paramos" para absorver, pensar, questionar, mas no dia a dia, nas ações mais corriqueiras da nossa atividade e das marcas que gerenciamos? O caminho é menos ansiedade para respostas e mais energia em sentir-se animado - como eu fiquei no South Summit, apesar das filas, da chuva, do sol, do meu salto preso no paralelepípedo no primeiro dia (aprendi e fui de tênis no dia seguinte).
Ter questionamentos é uma dádiva, mas de nada adianta se não estivermos engajados em buscar colaborar e fazer parte das grandes transformações que estamos vivendo. Além de nos responsabilizarmos como parte ativa nesse processo, para elaborar nossas dúvidas com coerência, consistência e perseverança, para aprender com os nossos erros, corrigir rotas, ouvir e construir mais. Incluir cada vez mais e buscar entender que não é à toa que a palavra experiência está tão destacada atualmente. A partir de agora, ansiosos pela próxima edição do South Summit, que a cada ano nos desafie mais e que venha reforçar que nosso tema de casa é experimentar e aprender a aprender.
*Partner e Head de Design & Digital no Gad, consultoria de marca com mais de 35 anos de atuação no mercado
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