O home office na encruzilhada

O trabalho remoto passará por um momento delicado. O motivo? O retorno das atividades presenciais
As empresas terão de montar um quebra-cabeça nos próximos meses

Não chegamos ainda ao mundo pós-pandemia, porém vive-se, inevitavelmente, um momento de retomada de atividades econômicas e comerciais presenciais em praticamente todo o Brasil. Com isso, o home office do qual tanto falamos desde o final do primeiro semestre deste ano passará, agora, por um momento delicado. O que veio para ficar? O que dá para manter em casa? E o que, efetivamente, não dá para fazer remotamente? Esse é o quebra-cabeça que as empresas terão de montar nos próximos meses. Apesar de ser uma ideia muito boa, o trabalho remoto hoje tem muitos "adversários" a enfrentar.

O primeiro deles é a legislação: tomemos como exemplo as questões de banco de horas durante a pandemia que estavam regulamentados na medida provisória 927, publicada em março, e que agora perdeu validade, trazendo insegurança jurídica ao empresário e ao próprio colaborador. Outro ponto a se considerar é que, por natureza, a mentalidade das organizações brasileiras é de ver seus subordinados, suas equipes, debaixo de suas asas. Uma espécie de controle das pessoas com a presença física, onde mais vale estar presente do que apresentar resultados. A ideia que se tem dentro de muitas empresas é que, se o colaborador não está ali, ele está solto demais, mesmo que em alguns casos essa pessoa acabe trabalhando muito mais em casa do que nas instalações da companhia.

O que vai prevalecer neste futuro próximo? Apostaria em uma evolução no home office, mas não em uma debandada geral. Alguns profissionais têm me perguntado: "Bernt, mas sou obrigado a voltar ao trabalho presencial, se posso fazer tudo de forma remota?" Ora, se você fizer essa pergunta a um advogado especialista em direito do trabalho, ele vai lhe responder com todas as letras que não existe nada na lei que impeça o chefe a exigir que o colaborador volte ao trabalho presencial. O empregador é quem dá as regras de como funciona sua dinâmica interna. Isso vale, inclusive, para profissionais tidos como grupo de risco.

Como gestor, tenho orientado ambas as partes: aos empregadores, digo para que reflitam e façam um balanço da melhor forma, não perdendo de vista aquilo que trará retorno e melhores benefícios nos resultados finais. Neste momento, é nisso que a empresa precisa focar. Também tenho frisado para redobrar a atenção àquilo que a legislação tem dado como regra. Porém, é necessário ir além do que diz a lei. Não perca do seu foco a ideia de que a flexibilidade de horário e forma de trabalho, quando empregada de maneira adequada e estratégica, gera relação de confiança e responsabilidade dentro das empresas privadas e até mesmo em órgãos públicos. O trabalho remoto é a tradução palpável desta ideia. Não deixe escapar das mãos esta "oportunidade" que a crise pandêmica trouxe.

Empregados, se preciso, retornem com boa vontade. Contudo, exijam de seus empregadores as regras básicas de saúde que devem ser implantadas nas empresas, como uso de máscaras, álcool em gel, distanciamento em refeitórios, salas de reuniões, etc. Caso não seja cumprido esse básico, argumente, busque a comissão de segurança de acidentes no trabalho e ajude a empresa a melhorar esse processo. Afinal, é a sua saúde e a saúde dos seus familiares e colegas que estão em jogo. A pandemia nos mostrou que quanto mais nos ajudarmos, melhores seremos protegidos dela. 

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Comentários: 1

Joaquim em Sexta, 28 Agosto 2020 14:25

Ser obrigado a voltar antes da vacina eu vejo com irresponsabilidade da gestão.

Ser obrigado a voltar antes da vacina eu vejo com irresponsabilidade da gestão.
Visitante
Quarta, 11 Dezembro 2024

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