O ativismo na pesquisa agropecuária

A Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, a Fundação MT, foi criada em 1993 por 23 homens com visão coletiva e de futuro. Esses cidadãos brasileiros se uniram para criar uma empresa de pesquisa focada em solucionar problemas regiona...
O ativismo na pesquisa agropecuária

A Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, a Fundação MT, foi criada em 1993 por 23 homens com visão coletiva e de futuro. Esses cidadãos brasileiros se uniram para criar uma empresa de pesquisa focada em solucionar problemas regionais e que acrescentasse conhecimento e segurança às lavouras do estado de Mato Grosso. Essa atitude foi primordial para tornar Mato Grosso o maior produtor de grãos do Brasil, e uma referência no mundo.

Logo nos primeiros anos, a Fundação MT encontrou uma solução rápida e eficiente para proteger as lavouras de soja do cancro da haste e do nematoide de cisto. Mas era preciso também corrigir o solo, fazer adubação eficiente, nutrir corretamente as culturas para que estas expressassem seu potencial produtivo, e manejar corretamente o sistema de produção. Em razão disso foi criado, em 1997, um programa de pesquisa em manejo da adubação e nutrição das culturas, o Programa de Monitoramento e Adubação (PMA) da Fundação MT. 

No entanto, assim como um cubo mágico, existiam outras “faces”, gargalos e, em 1998, foi implantado o programa de pesquisa em manejo de doenças. A Fundação MT foi pioneira em se posicionar quanto ao manejo de controle da ferrugem da soja, e sempre foi referência no manejo de doenças de algodão. Outra face do cubo “agricultura” na Fundação MT é o manejo de insetos, que hoje deve ser conduzido não por cultura, mas sim durante o ano inteiro, considerando continuamente todo o sistema produtivo. Atenta às necessidades do meio agrícola, em 2012, quando três entre quatro produtores ou consultores técnicos desejavam materiais genéticos resistentes aos nematoides, a Fundação MT implantou o programa de pesquisa em nematologia.

Mas o contexto da agricultura de 24 anos atrás é diferente do atual, e este vai ser diferente da agricultura do futuro. Voltando ao cubo mágico, quando alteramos uma das faces deste curioso brinquedo, ocorre interferência em outras faces. Na agricultura, a análise, o diagnóstico e o planejamento não devem focar  em práticas isoladas. Uma decisão ou uma prática interfere em outra, e traz implicações diretas ou indiretas à prática em discussão. Ou seja, é preciso fazer vários ajustes ao mesmo tempo, e as lavouras comerciais demonstram isto.

A agricultura será cada vez mais dinâmica, e tudo que fazemos hoje implica no que vai acontecer amanhã. Como no mundo inteiro, as máquinas, a eletrônica, a informatização, a digitalização e o desenvolvimento de sensores também estão cada vez mais presentes na agricultura. Esta, por sua vez, é cada vez mais consumidora e tem demanda por essas tecnologias. Mas há necessidade de fazer a adequação ao campo, e por isso a Fundação MT desenvolveu e conduz o programa de pesquisa de mecanização agrícola e variabilidade espacial. 

A instituição entende, ainda, que é necessário integrar as áreas de conhecimento – daí a importância de validar todos os resultados de pesquisa em lavouras comerciais, onde o resultado final é a soma das interações de todas as faces deste cubo mágico denominado agricultura. Porém, a pesquisa não tem valor se não houver a difusão dos seus resultados. Através do Programa de Difusão de Tecnologias, criado em 1998, a Fundação MT leva o conhecimento e as experiências para o produtor, profissionais da área técnica e estudantes. Aí está um dos grandes diferenciais da Fundação MT: tudo que a empresa gera de pesquisa é disponibilizado a toda a classe agrícola do Mato Grosso e do Brasil.

A agricultura vem demonstrando há vários anos a necessidade de uma visão sistêmica. Por isso, em 2008, a Fundação MT implantou a primeira estação com foco total em Sistemas de Produção, o Centro de Aprendizagem e Difusão – CAD Sul, localizado próximo a Rondonópolis. Nesta, e nas demais estações de pesquisa que a instituição possui atualmente, são identificadas as melhores estratégias de manejo das principais culturas do estado – soja, milho e algodão – e também as práticas de manejo de solos. No CAD Sul, será comemorado um importante marco em 2018: os dez anos de resultados de trabalhos com sistemas de produção. O CAD Médio Norte, em Nova Mutum, foi outro importante passo para aumentar o relacionamento com o campo e atender demandas regionais. Neste CAD, o foco são os trabalhos com a cultura da soja e com o milho de segunda safra. Em 2017 foi a vez de a região Parecis ter um centro de pesquisa, desta vez com o apoio da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT). Localizado em Campo Novo do Parecis, os trabalhos são voltados à compreensão da fitotecnia, uso e conservação do solo e dinâmica dos nutrientes em solos arenosos, entre outros. Ainda há o CAD Oeste, localizado em Sapezal. Nesta região do estado, além do cultivo de soja e milho, o algodão segunda safra tem grande importância econômica, tornando-se muitas vezes a cultura principal, em razão do alto valor agregado. Portanto, para esse CAD os esforços são concentrados na realização de projetos voltados à segunda safra, mas que permitem também avaliações da cultura da soja. Atualmente, são buscadas novas possibilidades para chegar a outras regiões como, por exemplo, o Vale do Araguaia. E com o olhar para o futuro, foi criada a área de Novos Projetos, que buscará identificar novas oportunidades e novos caminhos a serem trilhados, preparando-se para demandas futuras. Nesse contexto, a educação e formação de pessoas com foco na área agrícola ganhará um impulso a curto prazo.

A pesquisa agronômica desenvolvida e difundida se preocupa com o aumento da produtividade aliada ao bom uso do solo, permitindo que as mesmas áreas possam continuar produzindo ao longo dos séculos, sem degradação e com ganhos na fertilidade. Em nossos experimentos, comprovamos ano a ano que é possível equalizar eficiência, rentabilidade, conservação, inovação e preservação da saúde humana e do meio ambiente. Para a Fundação MT, melhorar a vida das pessoas é ajudar a promover a sustentabilidade do agronegócio hoje, com resultados de pesquisa possíveis de serem aplicados no campo, mantendo assim a viabilidade da agricultura para as gerações futuras. Oxalá ela sirva de inspiração para iniciativas de igual envergadura em todo o Brasil.

*Presidente do Conselho Curador da Fundação Mato Grosso.

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