Levanta, sacode a poeira e...
Não me pergunte onde nem o quê; vi a foto ao lado postada por alguém no LinkedIn, bem antes da pandemia, e achei-a suficientemente interessante para merecer um post, partindo da seguinte pergunta: quando chega a hora de reconhecer que um produto ou negócio deu errado e reformulá-lo (ou, mesmo, tirá-lo de circulação)?
É de imaginar a dificuldade. Por mais que certas ideias surjam de epifanias e devaneios, dificilmente alguém põe no mercado uma loja, um produto ou um serviço sem um mínimo de planejamento. Empreender por impulso praticamente inexiste, o que torna a desistência ou a mudança de um projeto tarefa das mais difíceis.
Por isso, a primeira tentação é sempre insistir um pouco mais. Quem sabe se mexermos aqui e ali não funciona? E se reposicionarmos deste ou daquele jeito? Às vezes dá certo. O Etios, carro de entrada da Toyota no Brasil, foi assim. Levou pelo menos quatro anos até decolar (saiba mais aqui).
Mas há quem prefira nem insistir. Um pub de inspiração irlandesa na zona boêmia de Porto Alegre nasceu como um boteco carioca. Depois de alguns poucos meses, os donos, antevendo o naufrágio, optaram por transformá-lo num negócio mais próximo do que já operavam em outro bairro da cidade. Funcionou.
Outros tiram o time de campo por um tempo. Desistem de um mercado não por acreditarem que o produto não seja competitivo, mas sim que as circunstâncias não lhes são favoráveis naquele momento. E tentam novamente anos depois. Foi o caso de algumas conhecidas marcas mundiais no Brasil.
O que torna a faixa da foto curiosa e digna de aplauso é justamente a sinceridade em assumir os próprios erros. Até porque, segundo a professora Isabelle Royer, fracassos se devem "(...) à confiança fervorosa e generalizada da gerência de que o projeto inevitavelmente terá sucesso" (Harvard Business Review, fevereiro 2003). Por isso ela recomenda que "(...) as equipes de desenvolvimento de projeto não sejam compostas exclusivamente por gente que professa com ardor um mesmo credo", e que haja "um processo de revisão bem definido". Ah, sim: e que "a empresa reconheça o papel do 'paladino da desistência', exercido por gerentes com temperamento e credibilidade para questionar a crença predominante (...)". O bom e velho advogado do diabo, portanto.
Há, contudo, um momento em que professar o mesmo ardor dos tempos da concepção do negócio mostra-se importantíssimo para o desapontado empreendedor: o de passá-lo adiante.
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