Inovação marca superação da C.Vale
Uma cooperativa com sede em Palotina (PR) enfrentava sérios problemas financeiros no início dos anos 1990. Problemas de gestão tinham colocado a então Coopervale em dificuldades, e vinham gerando desconfiança dos associados quanto à capacidade de dar a volta por cima. Um desejo antigo dos produtores, a industrialização, não saía do papel por falta de acordo. Todos concordavam em construir indústrias, mas quando se discutia o local, não havia consenso. Em 1995, um gaúcho de Candelária assumiu a presidência da Cooperativa e começou a colocar em prática um Plano de Modernização recém-formulado. A ideia de Alfredo Lang era dar início ao processo de agroindustrialização através da implantação de um complexo avícola.
Sem qualquer experiência na atividade, ele decidiu correr o mundo para conhecer as tecnologias e tendências do setor. Dois anos depois, sob desconfiança de muitos, começou a tirar o plano do papel. O complexo avícola da C.Vale foi colocado em operação com duas grandes inovações: uma de natureza tecnológica e outra tributária. A produção comercial de frangos em ambientes climatizados foi a novidade em que a Cooperativa apostou para atuar de maneira competitiva no segmento. Até 1997, nenhuma empresa brasileira utilizava a climatização de aviários para a criação de frangos em escala comercial. Daquele ano em diante, a tecnologia passou a ser adotada por outras empresas de integração avícola e acabou se consolidando. Atualmente, grande parte da produção comercial de frangos ocorre em aviários climatizados. Em ambientes de temperatura controlada, a conversão de ração em carne melhora, e a mortalidade diminui. Quando se disputa mercado com gigantes, é preciso ser altamente eficiente, buscar um diferencial. O fato de a Cooperativa produzir milho e soja, matérias primas para a ração, também ajudou a torná-la mais competitiva.
A segunda inovação foi o rateio do ICMS entre os municípios envolvidos no sistema de integração avícola C.Vale. Para viabilizar a implantação do projeto, a direção da Cooperativa fechou acordo com prefeitos do oeste do Paraná, prevendo a divisão do imposto conforme a produção de frangos de cada município. Para viabilizar a medida, a Assembleia Legislativa precisou aprovar uma lei prevendo o rateio, já que o sistema tributário do Estado não previa essa possibilidade. Foi o primeiro caso de rateio de ICMS de uma indústria entre municípios brasileiros. O tributo é dividido por seis municípios do oeste paranaense. Vinte anos depois da implantação de seu complexo avícola, a C.Vale atingiu uma marca histórica. Em junho deste ano, ela alcançou a média de abate de meio milhão de frangos por dia, número 30 vezes maior que a quantidade média de aves processadas em 1997. A industrialização de 500 mil aves/dia coloca o frigorífico da C.Vale entre os três maiores do Brasil em volume de abate. Em setembro, o número saltou para 530 mil frangos/dia.
As exportações de carne de frango começaram em janeiro de 2001, com vendas para Suíça e República Checa. Atualmente, a C.Vale possui cinco certificados internacionais de qualidade que a habilitam a comercializar carne in natura e pronta para consumo para os mercados mais rigorosos do mundo quanto à qualidade dos alimentos – entre os quais, Reino Unido, Holanda, Alemanha e Japão.
A decisão pela implantação do projeto avícola foi fortemente influenciada pela perspectiva de benefícios sociais e econômicos, pois a intenção era combinar a geração de renda aos produtores, a criação de empregos e a melhoria da competitividade da C.Vale. E tudo isso acabou se confirmando.
A meta era chegar a 600 mil frangos/dia. Duas décadas depois, a produção está em 90% da capacidade projetada inicialmente. O número final dessa etapa deve ser alcançado em 2018. A Cooperativa aproveitou a vocação dos produtores do oeste do Paraná para a diversificação de atividades. Partindo do zero, foi ultrapassada a marca de meio milhão de aves/dia. Ao longo de 20 anos, mais de R$ 1,2 bilhão foi investido no complexo avícola. Hoje, o segmento de frango responde por mais de 20% do faturamento e traz estabilidade financeira para a Cooperativa e para os produtores, já que reduziu o risco de variações bruscas de receita por problemas climáticos. O plano de longo prazo da C.Vale é chegar a 1,2 milhão de frangos/dia dentro de dez a 12 anos.
*Presidente da C.Vale.
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