Varejo aposta na queda dos juros para recuperar receita
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revisou para cima a expectativa de aumento das vendas no varejo brasileiro para este ano, por conta do cenário positivo da economia do país para os próximos meses. A perspectiva subiu de 1,6% para 1,8% a mais que 2022, apostando na queda dos juros para recuperar o setor, já que as vendas nas atividades dependentes das condições de crédito seguem abaixo do período pré-pandemia. De acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de vendas no comércio varejista do País se manteve estável em junho, na comparação com o mês anterior. Este foi o terceiro mês sem registro de aumento do volume vendido pelo setor.
No comparativo entre o primeiro semestre deste ano e o mesmo período do ano passado, as vendas no varejo cresceram 1,3%, impulsionadas pelo desempenho dos dois principais segmentos do setor: combustíveis e lubrificantes, com alta de 14,6%, e hiper e supermercados, que cresceram 2,6%. "Estamos otimistas com o cenário positivo da economia brasileira para os próximos meses. A queda dos juros é um fator importante para a recuperação do setor, especialmente para as atividades dependentes das condições de crédito", afirma o presidente da CNC, José Roberto Tadros, por meio de nota. "A revisão da perspectiva de crescimento das vendas reflete essa confiança na recuperação do varejo brasileiro", conclui.
Conforme o economista da CNC responsável pelo estudo, Fabio Bentes, o aumento das vendas em todo o varejo é de 3% em relação a fevereiro de 2020, o que indica uma tendência suave de recuperação ante o período mais agudo de perda de atividade no início da pandemia de Covid-19. O destaque maior é para os ramos do varejo direcionados ao atendimento das demandas essenciais, como farmácias e perfumarias (que tiveram alta de 26,6%), combustíveis e lubrificantes (crescimento de 9,3%) e hiper e supermercados (avanço de 5,3%). "Por outro lado, atividades com menor concentração do consumo essencial e mais dependentes das condições de crédito ainda não conseguiram reaver o dinamismo anterior à crise sanitária", aponta o economista. É o caso do segmento de móveis e eletrodomésticos, que acumula perdas de 13,1%, do de artigos de uso pessoal e doméstico, que segue 16,9% abaixo do registrado em fevereiro de 2020, e do de informática e comunicação, com desempenho 20,3% aquém do pré-pandemia.
Com a queda de 0,5 ponto percentual da taxa Selic e a manifestação do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de que a medida deve ser aplicada continuamente, a tendência é que haja condições de consumo mais favoráveis para os segmentos dependentes das condições de crédito. A expectativa é que 2023 encerre com juros em 11,75% e a trajetória de queda siga até 9% em 2024. "Mas o cenário desafiador ao varejo inclui ainda o elevado grau de comprometimento da renda das famílias com o endividamento", alerta Bentes. Conforme a pesquisa realizada pelo Banco Central, mais de 30% da renda média se encontra comprometida com amortização ou serviço da dívida familiar – situação que se arrasta desde setembro de 2021.
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