Quase sete séculos em garrafa
Montalcino,uma pequena cidade de pouco mais de 5 mil habitantes na região da Toscana, naItália, já foi caminho de passagem de combatente europeus na Segunda GuerraMundial. Mais do que ser palco de efemérides, o município localizado em umacolina de 550 metros de altitude é sede da Fattoria dei Barbi, vinícola quedesde 1352 ajuda a escrever os primórdios do vinho italiano. A geologia, nessecaso, foi crucial. A cidadezinha, rodeada por montes, não tinha outraalternativa a não ser produzir azeitonas e seus derivados e, claro, vinhos. Foinesse cenário que a nobre e tradicional família Colombini, de Siena, escolheuquando adquiriu a Fattoria dei Barbiem 1790.
Senão bastassem toda essa epopeia histórica, a Barbi começou a exportar ainda em1817. Mais de cem anos depois – em 1954 – foi a primeira vinícola da Toscana areceber visitas. Ou seja, foi praticamente uma das precursoras do enoturismoeuropeu. Ao abrir qualquer garrafa dessa empresa, portanto, nada mais naturaldo que se deparar com a história do vinho no Velho Continente. Nas adegas daBarbi existem nada menos que 131 safras de Brunello guardados desde 1892. DeVin Santo [tipo de vinho doce tradicionalfeito com as uvas Trebbiano e Malvasia, mas também pode ser produzido com Sangiovese]são 143 safras – a primeira de 1870.
Porém,fazer com que os rótulos da companhia se fizessem conhecidos no Brasil não foitarefa fácil. Tanto é verdade que foram necessários praticamente três décadaspara ver a marca Toscana ganhar corpo em território nacional – maisprecisamente de 2012 para cá. O pulo do gato da vecchia vinícola foi ter contratado a Interfood como importadora damarca. Nos últimos quatro anos o volume de vendas para o Brasil avançouinacreditáveis 70%. A principal estratégia dos italianos para ganhar terrenoaqui está no preço. Dos seis rótulos comercializados, praticamente metade temum custo-benefício muito atraente. É possível, por exemplo, tomar um Brunellode Montalcino por cerca de R$ 300.
Aempresa italiana, que exporta metade da produção, diferentemente dos produtoresnacionais, vê no Brasil uma terra de oportunidades. De passagem pela regiãoSul, a gerente de exportação Raffaella Federzoni, listou três motivos que fazemcom que a companhia esteja muito otimista com o país a despeito de todo cenáriocrítico da economia. "Aqui, diferentemente dos anglo-saxões ou asiáticos,há uma propensão a se ter o vinho como acompanhamento das refeições. Depois, principalmentena região Sul, mas é algo que se nota em todo o país, é o grande número dedescendentes de italianos. Por fim, um terceiro aspecto é que a culináriaitaliana é muito apreciada pelos brasileiros", enumera Raffaella ao Cepas& Cifras.
Mase a batida falta de cultura para o vinho, tão característica do brasileiro?"Em toda parte do mundo há quem desconheça a bebida – na Itália,inclusive", atesta a executiva que trabalha há 17 anos na empresa. Mas nãopense que Raffaela tenha apenas elogios ao mercado brasileiro. Sobram,inclusive, ácidas críticas como sobre a falta de qualidade dos rótulosverde-e-amarelos. "O nível do vinho produzido na Europa está muito àfrente do que se vende aqui. Nem mesmo os espumantes, tão propagandeados comosendo muito bons, apresentam qualidade satisfatória", opinou Raffaella, umdia depois de ter degustado que se produz no Vale dos Vinhedos, maior regiãoprodutora do país. Na quinta-feira (6 de agosto) Raffaella seguiu para Curitibaonde apresentou os vinhos da Barbi para 70 clientes no Empório Saint Germain, nobairro Batel.
Consolidaçãoda marca
Com apenas30 anos em solo brasileiro, a Fattoria del Barbi pretende consolidar a grifepor aqui. Não sem razão, a companhia teve a sorte grande de se deparar com aInterfood. A importadora, agora, quer retribuir a oportunidade abrindo espaçopara a marca italiana também no Nordeste. É que no Sul e no Sudeste a Barbi temcolhido ótimos frutos. "No Sul vemos a demanda crescer mês a mês",conta Lorrayne Riccobene, gerente de marca da importadora. Especializada emvinhos europeus e voltada ao trade como restaurantes e lojas especializadas, oatual arrefecimento da economia brasileira não chegou ao caixa da companhia. "Nossos clientes estão mantendo o consumoregular de vinhos posterior à crise ainda que tenham diminuído um pouco oticket médio. Isso não chega a ser um problema para nós já que trabalhamos comum custo-benefício muito bom", comemora Lolô, como é carinhosamenteconhecida. Outra carta na manga da Interfood é a manutenção de representantescomerciais do Paraná para baixo. Enquanto Luiz Tonin soma 14 anos com aimportadora no Rio Grande do Sul, o colega Francisco Urquiza já tem 18 anos deconvivência com a marca em Santa Catarina.
Domesmo modo que a gerente de exportação da Barbi, Lolô também tece críticasconstrutivas ao mercado nacional. A principal delas é que o setor carece deincentivo – principalmente para a construção de marcas. "Já vi produtor tirardinheiro do próprio bolso para mostrar que seu vinho existe quando instituiçõesque recebem verbas para isso deveriam auxiliar", desabafa. Se não bastasseesse problema, some-se a logística e distribuição, fatores que dificultam achegada dos rótulos nacionais na mesa dos brasileiros. No entanto, ao invés deapenas apontar as mazelas, Lolô prefere recomendar alguns rótulos de produtoresnacionais que admira para fomentar a procura dos mesmos. "Provem o Era dosVentos Peverella. É um projeto do Pedro Hermeto, sócio do restauranteAprazivel, do Luis Henrique Zanini, enólogo da Vallontano e do Álvaro Escher,ex-enólogo da Cave Ouvidor”, sugere. “Ou o Domínio Vicari. Tem ainda o Adolfo Lona PasDose Nature. O Valmarino Cabernet Franc 2013 é outro achado. Considero o VinhedosHood Pinot Noir um dos melhores Pinots brasileiros. Ele é produzido em PintoBandeira pelo Mario Geisse. Aliás, vale ter na adega o Cave Geisse Brut 98também”, enumera.
Passeiopela Toscana
Entre osvinhos provados pelo Cepas & Cifras, em uma degustação promovida pelocapítulo gaúcho da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-RS), Interfood eVinum Enoteca, se destacam ao menos cinco do portfólio da Barbi. O primeirodeles é o Brusco dei Barbi IGT 2009 (100% Sangiovese; R$ 90,90). É um tintojovem que casa bem com presunto, salame, bruschettas e pizza. O Morellino di Scansano DOCG2009 (corte de Sangiovese e Merlot; R$ 134,90) é muito versátil podendo seracompanhado de massas ou até mesmo salmão com molho de tomate. O Rosso diMontalcino DOCG 2009 (100% Sangiove Grosso; R$ 149,90) têm aromas de menta,eucalipto e um toque salino. Ainda que tenha alta acidez, é um vinho muitofresco. O Barbi Brunello di Montalcino DOCG 2006 (100% Sangiovese Grosso ; R$ 316,90)apresenta bela estrutura com aromas intensos de frutas vermelhas. É um par perfeitopara carnes assadas e grelhadas – sejam de caça ou mesmo porco. Também fica excelentecom queijos maturados. Por fim, o Barbi Brunello di Montalcino Riserva DOCG2005 (100% Sangiovese Grosso; R$ 598,90) passou três anos em barris de carvalhoesloveno e pelo menos 24 meses em garrafa antes de ser comercializado. Depoisde mais de duas horas no decanter, apresentou aromas de frutas vermelhasinicialmente que deram lugar à complexidade de frutos secos e nozes. Esserótulo pode ser degustado com queijo gorgonzola, mas – cá entre nós – qualquerprato cairia muito bem. Afinal, não há como uma refeição desprezar tantosséculos de história em uma garrafa.
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