Blockchain: o futuro chegou – e com segurança
"Blockchain é um desses termos confusos que dizem tudo e não querem dizer nada", revelou Courtnay Guimarães, Chief Scientist & Disruption da BRQ Digital Solutions, um dos palestrantes do primeiro dia do Innovation Tech Knowledge 2020, ao abrir o debate sobre o tema. A afirmação diz respeito à confusão que ainda domina a cabeça de quem tenta entender a tecnologia que, sem dúvidas, representa o futuro. Sob a coordenação do Publisher de AMANHÃ, Jorge Polydoro, a mesa redonda virtual contou, ainda, com a participação de Aline Deparis, CEO Grupo Maven e diretora da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação do RS (Assespro-RS), e Lorenzo Frazzon, Chief Strategy Officer e fundador da Investtor. Ambos defenderam os benefícios trazidos pelo "protocolo da confiança", queconsiste, basicamente, em um registro distribuído que, por medida de segurança, descentraliza bases de registros e dados em determinados mercados. Hoje em dia, já é utilizada como solução para registro de contratos, gerar históricos e regrar futuras negociações.
Segundo Aline, por ser uma tecnologia nova, o blockchain acaba gerando dúvidas não só em relação ao seu significado, mas também ao formato em que vai apoiar os negócios. "Nessa nova era da privacidade, ele é usado para trabalhar com provas de consentimento que sejam irrefutáveis para empresários e até mesmo para nós, cidadãos, que, a partir desse momento, recebemos esse direito à privacidade", explica. Ela celebra, ainda, a possibilidade de uso dessa tecnologia com as mais diversas finalidades, como identidade digital, logística, indústria, pecuária, varejo, pagamentos, financeiro e corporativo.
Segundo pesquisa da Gartner, 65% da população terá dados sensíveis protegidos até o ano de 2023. Para Aline, parte dessa proteção vem de encontro com uma evolução cultural e tecnológica da sociedade. "Uma pessoa é identificada em um ambiente on-line. Se formos olhar para nosso passado, já passamos da identidade em papel e entramos na identidade provida por serviços como Google e Facebook. Agora, estamos próximos dessa identidade auto soberana, onde o usuário detém o total controle e poder sobre seus dados. O uso da blockchain nesse tipo de solução é imediato, indo desde a questão de armazenamento das chaves de identidade, assinatura de documentos, contratos inteligentes, votação on-line e autorização para dados de uso pessoal, principalmente em era de LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados, em vigor no Brasil desde agosto], onde todas as nossas empresas precisam se adequar e estar de acordo com os novos padrões exigidos. Sem sombra de dúvidas, temos a tecnologia ao nosso favor", defende.
Já Frazzon falou sobre a grande possibilidade de democratização que a moeda digital, que surge a partir da tecnologia de blockchain, pode trazer. "Hoje em dia, temos quase 2 bilhões de pessoas no mundo sem acesso ao sistema financeiro. As moedas digitais são um caminho para resolver esse problema", garante. Para ele, o grande marco que fez os governos começarem a investir nesse campo foi a criação da Libra, moeda privada anunciada pelo Facebook e criada por um consórcio de empresas – o que gerou, inclusive, preocupação, devido aos escândalos de privacidade vividos pelo site de rede social. Com isso, surgiu, também, a moeda chinesa, além de outras desenvolvidas por países como Bahamas e Estônia. Não é, no entanto, motivo para se acreditar que é o fim do dinheiro em espécie, aposta Frazzon.
No Brasil, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, sinalizou que existem pesquisas na área para desenvolver uma moeda digital no Brasil usando blockchain até 2022. "Antes mesmo disso, há toda a questão do Pix [sistema de pagamento instantâneo], que agora começou a ser implementado, e do o open banking que também vai ser consolidado em 2021. De certa forma, são bases para a criação dessa moeda digital. Tenho a convicção de que poderá e deverá dar certo, até porque há, por trás, algo muito nobre, que é essa inclusão financeira", finaliza Frazzon. "O Pix não é o primeiro passo para a digitalização. O real já é bastante digitalizado. Nenhum lugar no mundo tem tantas contas centralizadas no banco,pois tudo é reportado ao Banco Central", emenda Guimarães.
Identidade
Passaporte, crachás ou cartões de crédito. Todo rastro de navegação é capaz de fazer o perfil de uma identidade. "As pessoas estão preocupadas com o alcance das redes sociais agora, depois do documentário do Dilema das Redes, da Netflix, mas isso já acontece há mais de 30 anos. Snowden já mostrou isso. Estamos sendo identificados e rastreados há muito tempo. Não temos controle disso. Mas, é claro, gostaríamos de ter. Se eu fosse dono da minha identidade e, principalmente, dos meus ativos identificadores, a primeira coisa que eu faria seria cobrar pelo uso da minha identidade", afirma Guimarães. Ele adianta que todo indivíduo precisa saber de três coisas: quem é, como é representado e com quem e como essas representações interagem. "Todos os dados coletados podem ser roubados facilmente e queremos que isso saia da posse do governo e vá para cada indivíduo. Isso é blockchain", define.
Guimarães avalia que pesquisas de tendência baseadas em ações de empresas não conseguem mais prever o futuro. Afinal, elas perguntam às próprias companhias o que será feito, mas as inovações estão, cada vez mais, sendo ditadas pelas pessoas. "O bitcoin, por exemplo, partiu das pessoas. Dentro disso é que estão as grandes evoluções. Nós, como indivíduos, estamos liderando, pela primeira vez, as inovações tectônicas da inovação digital", celebra.
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