BC aponta o estrago do vírus na economia do Sul, mas traz uma boa notícia
A retomada que vinha gradualmente se desenhando na economia do Sul no início do ano sofreu uma ruptura brusca em função da pandemia do novo coronavírus, segundo o Boletim Regional publicado nesta quinta-feira (30) pelo Banco Central (BC). Ao avaliar a economia do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, o BC afirma que "o cenário mostra-se desafiador, externamente, pela redução da economia global, com impacto negativo sobre a demanda de produtos exportados pela região, e, internamente, pela combinação de choque de oferta e de demanda."
Para o BC, o ambiente econômico da região é de "grande incerteza" e provavelmente sofrerá impacto significativo da pandemia, que no dia 16 de abril registrava 2,5 mil casos notificados de Covid-19, atingindo 265 dos 1.191 municípios do Sul. Pode parecer pouco, mas estes municípios representam, conforme dados do próprio boletim regional do BC, 73,9% do PIB e 70,1% da população dos três estados.
Uma ressalva que o Banco Central faz é que o conjunto das informações utilizadas nesta edição do Boletim Regional "ainda não evidencia o agravamento da situação" – o que reflete, naturalmente, um problema de disponibilidade de estatísticas. "Contudo, indicadores antecedentes de frequência diária e menor defasagem de divulgação já sinalizam magnitudes expressivas dos efeitos do surto sobre a economia", detalha o Banco Central (acesse o Boletim Regional completo ao final desta reportagem. A análise sobre a região Sul e os Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul iniciam na página 55).
Na visão da autoridade monetária, medidas como o auxílio emergencial, liberação de FGTS, antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e facilitação do crédito contribuirão para mitigar o agravamento da situação econômica do Paraná para baixo. Considerando dados até fevereiro, o IBCR-S registrou pequena retração no trimestre (-0,1%), na comparação com o trimestre finalizado em novembro, quando avançara 0,3%. Na avaliação de mais longo prazo, a região cresceu 1,7% em doze meses até fevereiro, em relação a igual período anterior.
A leitura do Boletim Regional mostra que a chegada do coronavírus interrompeu um processo de recuperação que estava se mostrando promissor. "Em doze meses até fevereiro, houve acréscimo de 4,3% das vendas no varejo ampliado, e expansão em oito das dez atividades", revela o estudo feito pelo BC.
O monitoramento aponta que, com exceção das vendas de produtos alimentícios, supermercados e hipermercados, e de produtos farmacêuticos, o comércio deverá registar forte queda pelos impactos da pandemia do novo coronavírus – um fenômeno já demonstrado pelos dados mais recentes da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Considerando apenas março, a venda de veículos despencou 46,8% em relação a fevereiro - dados corrigidos para a sazonalidade - e 29,8%, se a comparação for relativa a março do ano passado.
Em três meses – dezembro, janeiro e fevereiro - a atividade industrial do Sul crescia 0,7%, com expansão em oito das dezoito atividades pesquisadas, de acordo com dados regionais do IBGE. Quando a comparação envolvia os últimos doze meses finalizados em fevereiro, o resultado era uma expansão de 2,8% da indústria. Apesar do desempenho positivo até fevereiro, boa parte das empresas já enfrenta a queda da demanda e teve de adotar medidas para enfrentamento da crise, como a suspensão total ou parcial da produção e de contratos de trabalho, segundo informações da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Uma razão de alento é que a produção de grãos tende a ser menos afetada pela Covid-19, o que contribuirá para atenuar os impactos negativos sobre a economia. As estimativas para a safra agrícola de 2020 sinalizam a produção de 75 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas no Sul, 2,9% inferior à colheita obtida no ciclo anterior, especialmente soja (-1,5%) e milho (-7%). Estes recuos refletem a forte estiagem no Rio Grande do Sul, que afetou as lavouras de verão. "Embora a pandemia não afete diretamente as produções agrícolas, poderá impactar negativamente o escoamento dos produtos, especialmente os custos de frete. Observe-se ainda que, em termos da renda ao setor, apesar da retração nas cotações das commodities agrícolas como reflexo da crise, a depreciação do real manteve os preços domésticos relativamente elevados", alerta o BC.
No âmbito fiscal, o resultado primário consolidado dos governos estaduais, das capitais e dos principais municípios do Sul passou de superávit em 2019 para déficit no período de doze meses fechados em fevereiro – uma deterioração condicionada, em boa parte, pela reversão do resultado do Paraná, e mitigada pelo bom desempenho de Santa Catarina. Esse comportamento implicou ampliação de 40% na necessidade de financiamento regional – o déficit nominal atingiu R$ 6,6 bilhões no período. O estoque da dívida pública recuou R$ 1,2, bilhão no período de comparação, a despeito da ampliação no estoque do Rio Grande do Sul.
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