A cada dez brasileiros, três estão com dívidas atrasadas
Em agosto, a economia brasileira testemunhou um cenário de endividamento em declínio, mas, ao mesmo tempo, um aumento dos níveis de inadimplência. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a proporção de famílias endividadas no país apresentou sua segunda queda desde novembro de 2022, atingindo 77,4% das famílias em agosto, o menor nível desde junho de 2022.
Por outro lado, a inadimplência preocupa, com 12,7% da população afirmando não ter condições de pagar suas dívidas de meses anteriores, um recorde da série histórica do indicador, iniciada em janeiro de 2010. Para a CNC, a queda do endividamento é um sinal positivo de que mais famílias estão conseguindo controlar melhor suas dívidas e ajustar seus orçamentos. No entanto, a taxa de juros elevada e o crédito caro ainda são empecilhos à melhoria da situação financeira dos brasileiros, nota a entidade. A CNC estima que a proporção de consumidores endividados continuará a diminuir nos próximos meses, chegando a cerca de 77% em setembro. No entanto, a previsão é que o endividamento volte a crescer na reta final de 2023, encerrando o ano próximo de 78% do total de famílias em todo o Brasil.
A Peic de agosto revela que o percentual de famílias endividadas registrou uma queda de 0,7 ponto percentual, o menor nível desde junho do ano passado. Essa redução se soma a uma diminuição de 1,6 ponto percentual, no acumulado do ano. Além disso, entre os endividados, o número de pessoas que se consideram "muito endividadas" também diminuiu, alcançando seu ponto mais baixo desde abril de 2022. Por outro lado, a situação da inadimplência no país é motivo de preocupação. A pesquisa revela que o volume de consumidores com dívidas atrasadas atingiu a maior proporção desde novembro de 2022, com 30% das pessoas enfrentando algum compromisso financeiro em atraso. Para completar o cenário, o dado ainda mais alarmante é que 12,7% dos consumidores afirmaram não ter condições de pagar suas dívidas de meses anteriores, marcando o ponto mais alto da série histórica.
"O aumento da inadimplência acende um sinal de alerta para a economia brasileira como um todo", aponta a economista da CNC responsável pela Peic, Izis Ferreira. Segundo ela, a inflação em queda e o aumento do emprego formal têm contribuído para melhorar os orçamentos domésticos, reduzindo a necessidade de as pessoas recorrerem ao crédito, mas as altas taxas de juros e o aumento do número de dívidas a vencer continuam a desafiar as famílias brasileiras. Os dados da Peic também destacam que o endividamento está em declínio tanto no mês quanto no ano entre os consumidores de diferentes faixas de renda, com destaque para a queda mais significativa entre aqueles com renda média (de 3 a 5 e de 5 a 10 salários mínimos). No entanto, a inadimplência cresceu em todas as faixas de renda nas comparações mensal e anual.
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