O que as emoções têm a ver com o seu dinheiro? Tudo
Ramo de estudo da economia, as finanças comportamentais têm relação direta com a tomada de decisão do investidor. Por isso mesmo, conhecer esse conceito pode ajudar a fazer escolhas melhores. Dois estudiosos sobre o tema – Robson Gonçalves, economista e professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), e Fernando Almeida, professor da FIA Business School – listam alguns vieses comportamentais e explicam como fugir de armadilhas. Almeida explica como, na prática o conceito de finanças comportamentais pode ser percebido. As pessoas sentem muito mais dor ao perder um determinado valor – por exemplo, R$ 10 mil – do que sentem prazer em ganhar a mesma quantia.
"Se nosso capital investido começa a derreter, não queremos sair da posição para não assumir a perda. Racionalmente poderia fazer sentido sair da posição, mas preferimos arriscar [e esperar uma retomada] a assumir a perda", explica. No sentido contrário, segundo o professor da FIA Business School, muitas vezes, se o investidor já lucrou com a valorização de um ativo, ele tende a querer sair logo da sua posição porque prefere garantir um ganho certo em vez de arriscar. Com isso, é ignorada a possibilidade de valorização adicional que o ativo pode ter. Mas a questão é que o passado não dita o futuro nas finanças.
O preço de um ativo ter caído não significa que ele vai voltar a subir em algum momento. E o fato de uma ação ter se valorizado não significa que irá se desvalorizar, ou que vai continuar se valorizando. Essas são decisões que deveriam ser tomadas de forma racional, e não no calor do momento enquanto as emoções tomam conta. O especialista da FIA Business School lembra que as distorções, como a aversão a perda, são exemplos de que não há racionalidade mesmo no momento de tomar decisões de investimentos.
Variáveis longe da racionalidade
Como exemplificado com os R$ 10 mil, as ciências comportamentais focam em decisões e julgamentos que não são totalmente racionais: efeito manada, aversão à perda e viés de confirmação são alguns exemplos. Segundo Gonçalves, no efeito manada, "somos levados a agir impulsivamente como todos ao nosso redor agem". Se todos estão comprando uma ação, somos incentivados a comprar, sem pesar os prós e contras daquele ativo. "Comportamentos de compra durante grandes promoções são assim, mas também se observa no caso das criptomoedas. Na aversão à perda, sofremos muito mais ao perder algo do que nos alegramos ao obter a mesma coisa", diz o professor da FGV.
As emoções podem tirar a racionalidade na tomada de decisão e, com isso, abre-se brecha para a sensação de medo excessivo de perda, "congelando" a reação tanto na hora de sair do investimento quanto de entrar nele sem que se leve em conta uma análise racional. Em vez disso, o investidor é movido por medo ou por excesso de otimismo quando acha, por exemplo, que está com sorte. "Não existe sorte", adverte Almeida.
Veja em mais quatro pontos como tomar as melhores decisões com a ajuda das finanças comportamentais.
1) Como tirar proveito das finanças comportamentais?
Robson Gonçalves: O grande desafio é manter nossa autonomia de decisão e julgamento. É normal estarmos "ancorados" em experiências passadas, boas ou más. Quando alguém diz "não consigo…", tornou-se vítima de um viés comportamental que reduz sua autonomia decisória e de julgamento. Se tenho um viés comportamental que torna difícil aplicar em fundos mais arriscados e tenho uma preferência inexplicável por poupança, estou sendo vítima de um viés conservador, por mais que me apresentem motivos racionais para uma diversificação de aplicações. Uma pessoa assim tem suas decisões engessadas e perdeu sua autonomia decisória.
Fernando Almeida: Idealmente deveríamos avaliar a decisão que devemos tomar, não no calor das emoções, mas antes do momento da decisão. Por exemplo, criar regras para investir ou sair do investimento que decidimos fora do momento em que estamos lidando com a situação do ativo. Quando estamos pressionados por um sentimento de perda ou pelo excesso de otimismo após um ganho, tendemos a tomar decisões erradas.
2) Fatores como inflação, juros e desemprego influenciam o investidor?
Robson Gonçalves: Quanto mais instável o ambiente – inflação alta, juros que oscilam muito, incerteza sobre o emprego –, mais complexa se torna a tomada de decisão em finanças. Nossa mente tem sérios limites de processamento cognitivo. Quando há excesso de parâmetros a serem analisados, é comum um maior engessamento na tomada de decisão, sobretudo para os investidores menos experientes. Nesses casos, costuma-se perder várias oportunidades rentáveis por um excesso de conservadorismo.
3) O que pode levar o investidor a perder dinheiro?
Robson Gonçalves: Um grande inimigo é o engessamento das decisões e julgamentos. Por exemplo: alguém que perdeu dinheiro na bolsa acaba desenvolvendo uma aversão elevada a aplicações de renda variável, torna-se excessivamente conservador e deixa passar oportunidades de ganho, diversificando muito pouco. Outro inimigo é a ansiedade. Pessoas ansiosas não são boas em planejar o longo prazo, tornam-se imprevidentes e endividam-se em excesso. O terceiro grande inimigo são os comportamentos impulsivos em geral. Isso é comum nas decisões de compra, mas também leva muitas pessoas a optar por uma dada aplicação financeira quando ocorre uma forte oscilação de curto prazo. São pessoas que aplicam e desaplicam em função das oscilações de mercado mais intensas e mais recentes, momentos em que têm picos de adrenalina e endorfina.
Fernando Almeida: Excesso de otimismo, aversão à perda, perda de controle de suas emoções. São alguns vieses que fazem o investidor conseguir gerir as emoções e entrar em comportamento de estresse.
4) Como não ser contaminado por aspectos comportamentais?
Robson Gonçalves: Não há como não se contaminar. Não somos algoritmos. O melhor a fazer é prestar atenção em nossos estados emocionais. Decisões financeiras devem ser tomadas em momentos de prevalência racional, isso é, quando o emocional não está sob estresse.
Fernando Almeida: Entender que somos influenciados por vieses comportamentais, por mais que achemos não, é um bom começo. Pergunte-se: "Será que não estou olhando para trás em vez de olhar para a frente quando avalio um ativo?".
Com Redação da B3
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