Este carro sou eu
Uma notícia recente aborda o cancelamento de corridas por passageiros de aplicativos. O motivo? Rejeição a certos modelos de carros, mais antigos e menores. Parece compreensível: a corrida em um veículo amplo, confortável e moderno sai pelo mesmo preço daquela num modelo apertado e defasado. Se ambos estão a um clique de distância, por que não tentar um upgrade?Mas talvez exista algo mais nessa postura. Sabe-se há tempos que automóveis não são apenas meios de locomoção. Dizem, e muito, sobre quem os dirige ou é transportado por eles. Quem sabe por trás dos cancelamentos não esteja também um desejo de encontrar um veículo que combine consigo?
Uma pesquisa de 2014 apontou que as pessoas são capazes de adivinhar corretamente quem é o proprietário de um carro a partir de fotografias, num sinal de que motoristas escolhem automóveis que refletem a própria aparência (real ou desejada) e personalidade. E de onde viria essa propensão inconsciente ao "tal carro, tal dono"? Bem, da nossa tendência de enxergar rostos nos veículos. A maior parte das pessoas, ao examinar a frente de um automóvel, associa-a às feições humanas. A grade dianteira se parece com a boca, os faróis com os olhos e o logo da montadora, com o nariz. Daí que certos carros tenham cara de "invocados" e, outros, de "bonachões": quem se vê ou quer ser visto de um jeito ou de outro já sabe quais modelos procurar (mais detalhes aqui).
O interessante é que essas percepções influenciam o comportamento no trânsito. Carros maiores e imponentes são alvos de gentileza de outros motoristas com mais frequência, pois parecem ameaçadores, hostis. Automóveis pequenos e com feições mais simpáticas, pelo contrário, acabam preteridos nas concessões de passagem. Por isso, talvez os passageiros que cancelam corridas em carros vistos como modestos não estejam pensando apenas no conforto da viagem – e sim fazendo valer, por breves instantes, a sua autoimagem favorita.
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