Vai, mas não volta

Semana passada, fiquei sabendo que uma conhecida empresa com sede no Rio Grande do Sul tem uma curiosa política de RH: a de não contratar profissionais que já tenham passado pelos seus quadros. Diferentemente de uma “lista negra” cuja intenção é evit...
Carreira

Semana passada, fiquei sabendo que uma conhecida empresa com sede no Rio Grande do Sul tem uma curiosa política de RH: a de não contratar profissionais que já tenham passado pelos seus quadros. Diferentemente de uma “lista negra” cuja intenção é evitar que profissionais afastados por mau desempenho ou desvios de conduta retornem à companhia, a prática estende-se a qualquer um que já tenha ostentado o crachá de funcionário, mesmo que a saída tenha sido voluntária e/ou a performance, a seu tempo, satisfatória.
 
Uma política curiosa, para dizer o mínimo, e não muito inteligente, na minha opinião.
 
Numa época em que as empresas incentivam o empreendedorismo interno, a contribuição com ideias novas e o arejamento da gestão a partir da troca de experiências, uma empresa fazer uma espécie de chantagem com seus empregados, do tipo “ame-a ou deixa-a”, não tem o menor cabimento. Estimula a fidelidade pelo medo de arriscar, e não por qualquer atributo positivo.
 
Um exemplo hipotético. Determinado funcionário sente-se estimulado a ter seu próprio negócio. Deixa a companhia e vai à luta. Por algum motivo, a empresa não vinga e ele se coloca à disposição do mercado novamente. Para seu ex-empregador, aparentemente, a experiência empreendedora, mesmo mal-sucedida, não tem valor algum.
 
Ora, sabemos que não é assim. Tentar um negócio próprio, mesmo que sem sucesso, é uma excelente experiência profissional. É uma oportunidade de aprendizado ímpar, capaz de agregar maturidade ao profissional justamente por colocá-lo no papel de empresário, que requer habilidades e talentos bem diferentes daqueles exigidos de um empregado. Trata-se, portanto, de uma chance de autoconhecer-se como profissional, de praticar uma espécie de checagem das próprias capacidades técnicas e das nuances que compõem seu perfil psicológico, ao mesmo tempo em que se aprende a entender melhor o lado dos patrões.
 
Imaginemos, agora, que tal tentativa de voo solo ocorreu em um negócio digital. Nesse caso, o valor da experiência se multiplica. Afinal, trata-se do negócio do presente e do futuro. Para uma empresa minimamente antenada com o que ocorre no mundo, um ex-empreendedor digital possui, no mínimo, um perfil tão atraente quanto o de outro que tenha percorrido uma trajetória em empresas “convencionais”.  A tentativa de um empreendimento no mercado virtual confere ao profissional uma espécie de selo de ousadia e dinamismo, atributos que o habilitariam a trabalhar em qualquer organização moderna, penso eu.
 
Por isso, não consigo entender o porquê de tal política de recursos humanos. Constitui uma inflexibilidade tola em uma época líquida, inclusive para questões profissionais. Entrar, sair, voltar, sair de novo – qual o problema? Não é assim que se oxigena uma organização? Não é assim que as empresas permanecem vivas e vívidas?
 
Pelo visto, para esta companhia, a resposta é não...

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Domingo, 15 Dezembro 2024

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