Não devemos tentar competir com os computadores
A internet instaurou a economia do compartilhamento: não é mais necessário ter a propriedade das coisas, que agora podem ser obtidas através de um smartphone e seus milhares de aplicativos. Em um futuro próximo, praticamente tudo o que precisamos poderá ser obtido via impressoras de três dimensões. Estudo sobre os impactos da tecnologia, elaborado por pesquisadores da Universidade de Oxford, estima que algo como metade dos empregos será suscetível à automatização nas próximas duas décadas. Diante dessa revolução, como preparar os jovens para um futuro tão imprevisível, em que a maioria das novas atividades nem sequer foram inventadas?
Não sabemos como será, mas já é possível afirmar algumas coisas. A primeira é que não devemos treinar os jovens para competir com os computadores. As máquinas têm qualidades com as quais é impossível concorrer, como produtividade e previsibilidade. Por outro lado, apesar dos profundos avanços do Deep Learning e da inteligência artificial, os notebooks dificilmente poderão emular o comportamento humano quando há um elevado grau de subjetividade e necessidade de interpretação. O software é insuperável em questões que podem ser resolvidas em um piscar de olhos. Para as demais questões, que exigem interpretação, a pessoa é insubstituível.
É também muito provável que o trabalho, tal como conhecemos hoje, sofra mudanças. Jornadas com horários rígidos, hierarquias estanques, com patrão e empregados em papeis estratificados, tudo isso não terá lugar – e aqui estamos falando em não mais do que 20 anos. Já está em curso uma ruptura com o modelo tradicional. Cada equipe, ou departamento, se transformam em pequenas empresas, com sócios no lugar de funcionários, e empreendedores no posto de chefes. O amanhã também não será um lugar em que só grandes corporações sobreviverão. Alguém que não desejar participar de uma multinacional com seus planos de carreira engessados, poderá tranquilamente se engajar em uma empresa nascente, capaz de revolucionar o mercado no qual atua.
A escola tradicional, espaço onde as respostas normalmente chegam antes das perguntas, é um modelo ultrapassado, que precisa ser substituído por um sistema em que o jovem seja o protagonista, e estimulado a fazer as perguntas necessárias. Nos experimentos da Junior Achievment, o iniciante é convidado a criar uma empresa, definindo que tipo de produto fabricar, qual será a equipe, quem cuidará das finanças e como produzir com a melhor qualidade, por exemplo. Programas como esse ensinam a pensar "fora da caixa", mostrando que, para um mesmo problema, não existe uma única solução – nem mesmo uma única resposta correta.
Se é verdade que estamos assistindo a uma destruição em massa dos atuais postos de trabalho, por outro lado, milhões de novas oportunidades estão surgindo. O certo é que não existem limites para a criação humana. Por isso, o mundo continuará sendo, cada vez mais, um local favorável aos que inovam, aos que são portadores de energia empreendedora e, sobretudo, aos que não tem medo da incerteza trazida pelos novos tempos.
*Advogado e presidente da Junior Achievement do Rio Grande do Sul (JARS).
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