Quando acertar é errar menos

A solução provisória terá de ser balanceada de forma a custar o menor número possível de vidas humanas e causar o menor impacto possível na economia
"Precisamos, mais do que nunca, de líderes que assumam posições desprovidas de interesses pessoais ou partidários, que sejam muito eficientes na gestão dos parcos recursos públicos para combater a pandemia e, acima de tudo, que estejam muito bem assessorados tecnicamente nas esferas da saúde pública e da economia", clama Fernando Goldsztein

Tempos muito estranhos que vivemos. Travamos uma batalha com um inimigo pouco conhecido, que se alastrou e nos acuou. Estamos reclusos e sem saber como será a nossa vida nas próximas semanas ou até meses. Existe muita informação e, também, desinformação. É difícil fazer projeções assertivas. Isso tudo me fez lembrar uma noite em que eu assistia a uma palestra de um grande banqueiro brasileiro. Esse episódio ocorreu há alguns anos, durante uma das tantas crises econômicas ou políticas do nosso país. Ao final da apresentação, quando abriu a sessão para perguntas, um senhor muito elegante que estava na primeira fila perguntou ao banqueiro qual seria a cotação do dólar daqui a um ano. O banqueiro deu uma resposta desconcertante e que nunca mais esqueci. Disse: "Meu senhor, se eu lhe disser agora quanto eu penso que será a cotação do dólar daqui a um ano, eu só terei uma certeza, de que este número vai estar errado".

Vivemos esta situação de incerteza na enésima potência. Hoje, além de não termos a menor ideia se o dólar vai estar R$ 5, R$ 6, R$ 7 ou até R$ 8 dentro de um ano (pois, apesar da pandemia, ainda vivemos uma vergonhosa crise política no país), temos muitas outras incertezas: Vamos perder o emprego? O nosso negócio vai sobreviver? Quando as crianças voltarão à escola? É ou não seguro sair para a rua? Quando poderemos rever nossos amigos e parentes?

Enquanto não houver a vacina, não existirá uma solução definitiva para acabar com a ameaça da Covid-19. A solução provisória terá de ser balanceada de forma a custar o menor número possível de vidas humanas e causar o menor impacto possível na economia. A má notícia (se é que já não temos bastante) é que não existe uma receita de bolo. E mais: a solução é única para cada local, pois existem inúmeras variáveis com infinitas combinações – densidade demográfica, faixa etária e mobilidade da população, qualidade das habitações, capacidade dos hospitais, diversidade de etnias, entre tantas outras. Enfim, cada país ou região terá a sua "solução ideal".

Segundo o infectologista português, Antônio Coutinho, o "achismo sobre o coronavírus continua a se impor porque não temos dados suficientes para tomar decisões que são baseadas na ciência". Portanto, muitos erros serão cometidos. É inevitável. Precisamos, mais do que nunca, de líderes que assumam posições desprovidas de interesses pessoais ou partidários, que sejam muito eficientes na gestão dos parcos recursos públicos para combater a pandemia e, acima de tudo, que estejam muito bem assessorados tecnicamente nas esferas da saúde pública e da economia. Esses serão os gestores que terão os melhores resultados. Eles que vão errar menos. E, em um contexto de tamanha incerteza, errar menos é acertar.

*Empresário

Veja mais notícias sobre BrasilCoronavírusEconomiaGestão.

Veja também:

 

Comentários: 2

Vitor Hugo Steigleder em Quinta, 21 Mai 2020 06:54

Fernando, foste muito feliz na tua colocação. Conteúdo consistente, coerente, didático e sábio.

Fernando, foste muito feliz na tua colocação. Conteúdo consistente, coerente, didático e sábio.
Antonio Carlos Smith em Quinta, 21 Mai 2020 07:53

Excelente artigo do Goldsztein. Como sempre.

Excelente artigo do Goldsztein. Como sempre.
Visitante
Domingo, 15 Dezembro 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://amanha.com.br/