O cenário mudou. E agora?
Foi-se o tempo da alta demanda, do crédito facilitado e dos incentivos federais. As empresas agora encaram uma nova configuração da economia brasileira, que se caracteriza pela baixa produção, inflação alta e moeda desvalorizada. Este cenário deve se estender até 2017. O caminho será longo e árduo, mas para José Roberto Mendonça de Barros (foto), economista e fundador da consultoria MB Associados, há como passar por ele sem grandes tropeços – e ainda aproveitar as oportunidades que ele pode oferecer.
Ao atender o Portal AMANHÃ, Mendonça de Barros, que será o palestrante do Programa Avançado de Debates Empresariais (PADE), da Unisinos, em Porto Alegre na próxima sexta-feira (dia 14. Veja mais informação aqui), afirma que o momento exige das empresas planejamento e capacidade de adaptação.
O que as empresas precisam saber para enfrentar a situação atual da economia brasileira?
Primeiro, precisam entender que o mar não está para peixe. Para atravessar esse período, tem de mirar a defesa de sua liquidez, reduzir custos, fazer uma revisão das práticas e do crédito ao fornecedor. Uma gestão defensiva, portanto. A segunda é voltar a olhar as oportunidades que aparecem com o real mais desvalorizado. Quais seriam elas? Oportunidades de retomar a exportação e, também, de substituir as importações, ou seja, nacionalizar a produção de componentes. Em princípio, um número grande de segmentos tem essas possibilidades. A terceira é compreender que as dificuldades que o tesouro brasileiro – e até alguns estaduais – está enfrentando durarão um certo tempo e não vão ser resolvidas de uma hora para outra. Portanto, os modelos de negócios têm de ser calibrados para depender cada vez menos de benefícios fiscais.
E os empresários estão fazendo a leitura do cenário atual?
Alguns sim. Tem gente que nunca deixou de exportar para não perder o cliente por acreditar que o cenário voltaria a ser favorável. Outros aprenderão a duras penas. Mas, em geral, o empresário brasileiro quando percebe que o vento mudou, é muito rápido para se adaptar.
O movimento de nacionalização da produção pode se intensificar nos próximos anos?
Acredito que sim. O fato é que o real vai desvalorizar. Em parte por causa de um movimento de recuperação da economia norte-americana, no qual o dólar está se fortalecendo perante todas as moedas, inclusive o real. E também em parte porque abrimos um déficit externo, que está estimulando a desvalorização da moeda. Achamos que uma das bases desta fase nova [da economia brasileira] é que o real vai ficar cada vez mais desvalorizado. Isso abre, para as empresas, uma oportunidade que não houve nos últimos tempos, que é a exportação. Aqueles segmentos que, embora com alguns sacrifícios de margens, lutaram para manter a exportação – como, por exemplo, a indústria moveleira do Sul – vão se beneficiar dessa fase e vão poder exportar com maior margem. Além disso, durante esses últimos anos, muita coisa passou a ser importada porque era muito barata. Agora, estão caras novamente. Então, existe essa oportunidade de voltar a produzir no Brasil alguns componentes. E isso é algo que já está começando a acontecer.
E as empresas estão preparadas para fazer isso no curto prazo?
Em alguns segmentos, sim. Mas tem outros, como o de autopeças que, devido à importação barata, deixou de produzir aqui. Aí eles têm de recomeçar de novo esse processo. Então acho que só vamos observar uma melhora significativa neste sentido em um ano e meio, dois anos.
Quando a economia brasileira voltará a crescer?
Em 2017. A nossa percepção é que, no ano que vem, o PIB será negativo. É uma batalha longa, mas é viável. Você pode passar por este período com mais ou menos dificuldade, a depender da capacidade de planejamento e de antecipar as tendências. A empresa tem de estar preparada para ajustar os planos o mais rápido possível.
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