Mudanças na política dominam painel entre governadores eleitos do Sul
Os governadores eleitos da região Sul compartilharam suas prioridades de governo e visões sobre o futuro do Brasil que emergiu das urnas em outubro deste ano nesta terça-feira (20), na sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre. Esta é a primeira vez que Ratinho Junior (PSD), Carlos Moisés (PSL) e Eduardo Leite (PSDB) se encontram publicamente depois das eleições. Leite e Ratinho são os governadores eleitos mais jovens do país. Moisés terá o primeiro cargo público em sua biografia. O debate, que reuniu 450 pessoas, antecedeu a cerimônia de premiação das empresas vencedoras do ranking GRANDES & LÍDERES – 500 MAIORES DO SUL 2018. O evento – promovido pela Revista AMANHÃ e PwC Brasil – é o maior encontro de líderes dos três Estados do Sul e laureou as maiores empresas da região, além das maiores por Estado e os destaques setoriais.
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Leite abriu seu pronunciamento lembrando da radicalização durante o processo eleitoral pelo qual o Brasil passou recentemente. “O debate radical é fruto da desilusão dos eleitores com o sistema político que não entregou resultados demandados pela população. E não nos iludamos: se não entregarmos resultados, o povo novamente vai buscar outros caminhos – ou pior ainda: tentativas autoritárias pouco democráticas”, alertou. Porém, ele também recordou que o momento, agora, é de construir pontes e cicatrizar feridas. “O atual momento vai demandar muito diálogo, pois a agenda não caberá apenas aos partidos, mas também entre os poderes executivo, legislativo e judiciário, além dos órgãos de controle, iniciativa privada e poder público”, previu. O futuro governador gaúcho afirmou que a crise fiscal é apenas uma das questões que devem ser resolvidas. Para Leite, incrementar a atividade econômica será essencial para que o país – e os estados – voltem a crescer. Com tantos problemas para serem enfrentados, o político do PSDB lembrou que, durante a campanha, perguntaram como era possível ter coragem. “Imagino que meus colegas do Paraná e de Santa Catarina devem ter ouvido o mesmo questionamento. Eu sempre respondia que precisava, sim, ter uma parcela de coragem, mas não maior que a dos senhores que, na iniciativa privada, são obrigados a conviver em um ambiente hostil cuja burocracia desconfia do empreendedor e onde ele tem de provar sua honestidade. Temos de inverter essa lógica, pois somos vocacionados para o crescimento – e a prova está aqui neste evento de premiação – e devemos prestigiar o empreendedorismo”, destacou.
Além de vencer a burocracia, Leite afirmou que é necessário dar maior apoio para concessões público-privadas em vários modais de transporte e trabalhar pela redução da carga tributaria. Mas, antes disso, para evitar o inchaço da máquina pública será preciso que sejam aprovadas reformas como a da previdência. Ele citou o judiciário, que tem se utilizado de tecnologia para fazer com que os processos avancem, como um exemplo do que os governos terão de colocar em prática no futuro, principalmente pelo fato de a TI evitar a admissão de muitos funcionários públicos. Para demonstrar que cada decisão de um agente público terá repercussão para as gerações futuras, Leite citou a obrigação com que as prefeituras terão para universalizar o ensino infantil até 2025. “Isso fará com que contratemos mais professores, que dentro de 15 anos poderão se tornar ociosos. Porém, eles levarão o dobro desse tempo , talvez, necessitando da previdência”, exemplificou. “Por essa razão, temos de construir juntos as soluções”, reafirmou.
Ao começar seu pronunciamento, Moisés fez referência a Leite, afirmando que concordava com as ideias do governador gaúcho em relação ao cenário político após as eleições de outubro. “Os eleitores estão mudando seu jeito de entender a política brasileira. Há um grande sinal de transformação no país”, afirmou. O futuro governador também ressaltou que um sinal dessa mudança pode se traduzido com a sua eleição para o governo de Santa Catarina. “No primeiro turno, muitas pessoas entenderam que não havia chance de vitória. Mas, com um único partido na chapa, fomos eleitos com quase 71% no segundo turno. Pode-se dizer que é um desejo de renovação alguém que é desconhecido, que não estava na imprensa, ser alçado ao governo. Mais que isso: é um sinal de desejo de mudança”, analisou.
Moisés também comentou sobre as funções do estado em seu futuro governo. Após afirmar que os empresários são a “mola propulsora” da economia local, ressaltou que o estado deve atuar apenas nas áreas básicas de atendimento à população: educação, saúde e segurança pública. “O estado deve entregar à iniciativa privada o que faz mal. Quando tenta fazer gestão financeira, pavimentar, construir, acaba fazendo mal”, disse. O investimento em logística e malha rodoviária, um pedido do empresariado durante a campanha, deve ter atenção redobrada na gestão, segundo Moisés. O governador do PSL também adiantou que vai diminuir o número de secretarias, porém, não pretende se restringir apenas a essa medida. “Nosso modelo precisa passar por uma revisão da máquina: diminuir não só o número de secretarias, mas também o que tem embaixo como o número de cargos comissionados”, adiantou.
No discurso mais contundente da noite, o governador eleito do Paraná, Ratinho Junior, ressaltou a incredulidade do eleitor brasileiro em relação à política. “As urnas deram o recado para os políticos: o modelo político brasileiro faliu. Era necessário fazer uma ruptura. Os políticos que estão sendo presos na Lava-Jato já estavam assaltando o Brasil há 30 anos, na época do Sarney”, analisou. Ratinho considerou que, assim como Leite e Moisés, faz parte de uma nova geração da política. “Precisamos apresentar um novo rumo para o país”, disse o governador do PSD. Repetindo Moisés, também citou a deficiência logística como principal entrave – e desafio – para a economia paranaense. “O estado é o maior produtor de alimentos do mundo por metro quadrado e não tem planejamento logístico. Dobramos a produção do agronegócio no Paraná e não temos planejamento a médio e longo prazo”, estimou. Ratinho defendeu a flexibilização de licenças para a iniciativa privada, utilizando como exemplo a demora de um posto de combustível para obtenção das licenças ambientais, que seria de dois anos e meio. “No Paraguai, de cada 10 indústrias, 7 são do Paraná. O empresário não quer ser atrapalhado”, disse. Ao término de sua fala, o governador do PSD traçou uma analogia com a existência de dois modelos de país. “O Brasil que trabalha não precisa ter medo do Brasil que atrapalha, que não tem interesse em construir o Brasil que nós queremos. Não podemos deixar que se construa um Brasil de Venezuela ou Cuba”, finalizou.
Redes sociais
Durante o encerramento de suas falas, os futuros governadores foram perguntados como usarão as redes sociais para se comunicarem com a população de forma a fazer com que os parlamentos não fiquem intimidados em aprovar pautas impopulares. Leite declarou que, realmente, os brasileiros querem ser protagonistas e não mais simples espectadores. Ele lembrou que, ao exercer o cargo de prefeito em Pelotas, entre 2013 e 2017, utilizou aplicativos onde os moradores faziam reclamações, enviavam demandas e votavam em plebiscitos on-line. “No entanto, é necessário conciliar participação com efetividade. Não se pode ouvir demais e demorar para entregar o que foi solicitado. Tem de ser uma entrega genuína, com efetividade – caso contrário gerará mais frustração”, ensinou.
Moisés, que tinha mil seguidores no Facebook e atualmente soma mais de 84 mil, declarou estar crente que as assembleias legislativas acompanharão os anseios da população. “Nós três aqui temos um capital político que começará a ser consumido ao assumirmos. Será preciso fazer cortes, tomar medidas duras e se o povo entender, os deputados devem acompanhar as demandas. As redes sociais se tornaram uma via de transformação do estado brasileiro”, reiterou, anunciando que também se utilizará dos canais de imprensa habituais para fazer com que as informações cheguem aos catarinenses.
O fato dos brasileiros comentarem mais a Operação Lava Jato do que a Copa do Mundo da Rússia foi um exemplo contado por Ratinho Junior para demonstrar como a relação do cidadão com os políticos está se tornando mais pessoal. “Os próximos gestores do país terão de governar usando conceitos, explicando o que querem entregar para a sociedade. Propostas demagógicas não são mais aceitas facilmente, pois o eleitor conhece a necessidade do corte de gastos, como as mordomias. A relação com o parlamento, que é a caixa de ressonância da sociedade, terá de ser ainda mais transparente. O uso das redes sociais ajuda a ganhar a opinião pública e faz com que o parlamentar tenha adesão a um projeto”, acredita.
*Com reportagem de Italo Bertão Filho e Marcos Graciani.
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