Conversa com o Embaixador
Semana passada, tivemos a honra de receber o Embaixador Rubens Barbosa para conversar sobre uma agenda internacional mínima para o Brasil. Antigo ocupante de alguns dos postos mais prestigiosos de nossa diplomacia de Estado, e detentor hoje de um repertório que só faz crescer – dadas as inúmeras atribuições que assumiu desde que aportou na iniciativa provada –, o Embaixador não mediu palavras para diagnosticar alguns dos problemas que teremos pela frente, qualquer que seja o cenário político-eleitoral. Selecionei alguns de seus comentários que, se examinarmos bem, integram as três linhas mestras de sua formulação. Estas passam por defasagem tecnológica, reindustrialização, proatividade e até política imigratória.
a) Somos reféns de uma flagrante defasagem tecnológica. Enquanto a revolução no campo demanda cada vez mais capacitação, temos regiões rurais no Rio Grande do Sul, a pouca distância de Porto Alegre, que ainda não têm sequer acesso à Internet. É possível até que o Uruguai e a Argentina se tornem mais competitivos do que somos. Ademais, se é palpável nossa vantagem competitiva no campo, ainda é baixa a agregação de valor no agronegócio. Conforme ele disse, não sem ironia, sequer um sorvete com sabor de café temos a oferecer. Nesse ponto, continuamos a ser exportadores de commodities e, à distância, vemos os clientes venderem nossos produtos com as margens que, na nossa ponta, não soubemos agregar. São duas reflexões que confluem numa só;
b) Nesse contexto, ele acha que ficou para trás o estágio em que saíamos em busca de mercados de exportação para a manufatura tradicional. Mais do que isso, temos de atrair cérebros e agregar massa cinzenta a nossos produtos. Temos de pensar em biotecnologia, robótica, informática, inteligência artificial e nanotecnologia. Só assim, o agronegócio, a indústria e os serviços voltarão a ser competitivos a longo prazo. E foi além: se crescermos apenas um pouco mais do que o projetado, estaremos expostos ao risco de um novo apagão de mão de obra. E tal fenômeno vai atingir frontalmente as áreas técnicas onde somos carentes de ensino profissionalizante que, a seu turno, está em descompasso com as demandas do mundo. Para tanto, defende uma agressiva política imigratória que traga cérebros para o Brasil;
c) É fundamental perseguirmos uma política de reindustrialização. A indústria encolheu drasticamente em nossa pauta exportadora e isso tem castigado sobremodo o emprego, consequentemente a renda. Se nenhuma política promocional se impõe em reforço aos setores tradicionais – que, teoricamente, conhecem os caminhos a trilhar, precisando tão somente se reequipar em termos de vanguarda –, certo é que a chamada "doença holandesa" nos atingiu prematuramente, em função das expectativas criadas pelo pré-sal. A valorização da moeda e a facilidade para importar, quando configurado o quadro, aceleram o sucateamento da indústria. Assim sendo, tivemos o efeito colateral da "maldição do petróleo", antes mesmo de termos extraído o óleo cru do fundo do mar;
d) Por fim, o Brasil e seus principais entes federativos, precisam formular políticas agressivas para ir ao encontro do mundo, sem esperar que nossos caminhos sejam ditados de fora para dentro. Seja por clientes, seja por políticas de terceiros que, no momento, não priorizam a América Latina. Nesse contexto, não podemos nos contentar em vender automóveis estritamente para a Argentina e o México. Assim sendo, sugeriu que Estados de maior envergadura -– poderíamos listar oito deles –, fomentem o envio de delegações ao mundo com propósitos específicos. E, no caso de São Paulo, defendeu a abertura de dois escritórios de negócios em pontos estratégicos, tocados por profissionais que enfeixem as características de formulação do setor privado.
Em linhas gerais, estes foram os pontos a que o Embaixador aduziu com sua costumeira clarividência.
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