Carta aberta para Pedro Bial

Prezado Bial,  Tempo desses pensei em te escrever e me arrependo de não tê-lo feito. Além de nos reapresentarmos – pois da vez que conversamos certa tarde no restaurante Rodeio, de São Paulo, não deu para fixar lembranças muito perenes –, queria te d...
Carta aberta para Pedro Bial

Prezado Bial, 

Tempo desses pensei em te escrever e me arrependo de não tê-lo feito. Além de nos reapresentarmos – pois da vez que conversamos certa tarde no restaurante Rodeio, de São Paulo, não deu para fixar lembranças muito perenes –, queria te dar uma sugestão de pauta meio estapafúrdia, como é de meu feitio. Pois sendo você nascido em 29 de março de 1958, e eu também, fiquei tentado a te propor que sua produção chamasse mais alguém nascido na mesma data, para que tivéssemos uma conversa franca sobre como encaramos nossa condição de nativos de Áries. 

É claro, não sou cara de muita astrologia, e imagino que você também não, embora seja difícil de escapar disso quando se é da zona sul do Rio de Janeiro como você, onde astrólogos, videntes e quiromantes fizeram alguma fama em nossa juventude. Acreditando ou não na ciência dos astros, a você tampouco deve ter passado despercebido um certo estupor das mulheres ao saber que nós éramos nascidos nessa data que, imagino, você preze tanto quanto eu. Muitas delas devem ter torcido o nariz e predito dias sombrios para uma parceria. Nem por isso se recusaram a beber dessa água, acredito. 

Seja como for, seria uma ocasião para acorrermos em defesa do 29 de março. Se os astros dizem que somos impetuosos e enérgicos, admitamos que eles têm certa razão, mas isso tampouco representa um desserviço à humanidade, pelo contrário. Em tempos em que as pessoas se apequenam diante de uma dose salutar de assertividade, não há porque nos envergonharmos de alguma frontalidade e desassombro. Dizem também que somos sonhadores e adoramos embarcar em aventuras. Ora, se hoje começo a ver mérito no pensamento conservador, é o épico que continua me embalando. 

Por fim, é voz corrente que somos de convívio difícil por conta dos arroubos de temperamento e da tendência a ter a cabeça nas nuvens, sempre enredadas em sonhos mal calibrados vis-à-vis à realidade. Isso é de candente injustiça, convenhamos. É claro que não somos querubins e desconfiamos, cá no fundo, que nosso receituário não é de todo ruim. Quanto ao quilate dos projetos, circunstâncias de sorte à parte, fizemos bem em alimentar nossos devaneios. Graças a eles, ainda estamos aqui e até que bem motivados para continuar nossa navegação de cabotagem.

Isso dito, cara, feliz aniversário, e guarde a pauta para o 29 de março de 2020. Daqui até lá eu vou ver se perco uns quilos para sair melhor na telinha, já que não tenho seu charme para magnetizar o Brasil. Fica aqui um abraço.

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Quinta, 21 Novembro 2024

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