Brasil poderá ter fundo nacional para desenvolvimento do setor vinícola

A 27ª Avaliação Nacional de Vinhos – Safra 2019, organizada pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), neste sábado (28), em Bento Gonçalves (RS), foi repleta de mensagens cifradas envolvendo a recente crise no setor. Regina Vanderlinde, que desde...
Brasil poderá ter fundo nacional para desenvolvimento do setor vinícola

A 27ª Avaliação Nacional de Vinhos – Safra 2019, organizada pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), neste sábado (28), em Bento Gonçalves (RS), foi repleta de mensagens cifradas envolvendo a recente crise no setor. Regina Vanderlinde, que desde 2018 ocupa o cargo de presidente da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), e Guilherme Pasin, prefeito da cidade, destacaram o período delicado pela qual passa a cadeia vinícola brasileira, mas não entraram em detalhes. Pasin até mesmo defendeu que a bebida seja considerada alimento pelo governo gaúcho. Porém, durante a gestão de Germano Rigotto, a tentativa caiu por terra, entre outros motivos, por uma forte campanha patrocinada pelo Sindicato Médico do estado.

Como o Portal AMANHÃ antecipou, a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), com sede no Rio Grande do Sul, passará a gerir os recursos do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura (Fundovitis), ainda que outras associações tenham tentado se apropriar da linha de fomento (lembre aqui). O valor, que totaliza cerca de R$ 12 milhões, está travado na conta do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), entidade que não pode utilizar o dinheiro em função de questionamentos e alegações de improbidade apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) em relação à prestação de contas do período 2012-2016. No dia 21 de agosto, AMANHÃ adiantou com exclusividade os bastidores da crise do Instituto (clique aqui para ler a reportagem). Na quinta-feira (26) e na sexta-feira (27) todo o quadro de funcionários do Ibravin foi dispensado. Como o órgão não pode movimentar sua conta bancária, os acordos trabalhistas foram quitados por outras entidades do setor e, segundo AMANHÃ apurou, até mesmo por pessoas físicas. A atual diretoria da Uvibra, que deverá assinar o termo de fomento na próxima semana, também deve contratar um diretor executivo muito em breve. 

Ao discursar na ANV, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (foto), comentou que um acordo de cooperação vem sendo firmado entre União, por intermédio da Casa Civil da Presidência da República, do Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Economia, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com o setor vitivinícola. O acordo prevê edição de uma medida provisória ou projeto de lei de isenção de IPI para vinhos e espumantes. Os recursos oriundos do benefício têm por objetivo a geração de investimentos por meio de um fundo nacional direcionado ao desenvolvimento do setor. Como AMANHÃ divulgou na quarta-feira (25), produtores de Santa Catarina e de São Paulo defendem essa iniciativa em contraposição ao plano da Uvibra de apenas destacar o vinho produzido no Rio Grande do Sul em suas campanhas de marketing já que o fundo é fruto de impostos recolhidos pelas vinícolas com sede no estado (veja mais detalhes aqui). “Com esta medida o vinho brasileiro vai poder enfrentar de frente o mercado europeu, conquistando a Europa e mostrando ao mundo a sua qualidade”, ressaltou Onyx. AMANHÃ apurou que o texto apresentado precisará ser melhor trabalhado, pois Onyx é exigente com detalhes. Se o IPI cair, por exemplo, o acordo deve permanecer em igual volume de recursos sobre o imposto que o sucederá. Segundo uma fonte que acompanhou a reunião que tratou de alguns detalhes, o Planalto também faz questão que seja definido um modo de escolha dos membros do comitê que gerirá o fundo. No pronunciamento, Onyx prometeu enviar o projeto de lei ao Congresso até o final do ano. 

Amostras
Para o presidente da ABE, enólogo Daniel Salvador, o grande dia do vinho brasileiro se dá na ANV. “Nenhum outro evento no mundo consegue reunir tanta gente diferente que tem em comum o gosto pelo vinho, independente de marca. Há 27 anos, promovemos o vinho brasileiro compartilhando na taça o resultado de cada safra. Movidos por uma vontade incontrolável em levar para os quatro cantos do mundo o vinho brasileiro, nós, enólogos do Brasil, criamos um movimento que não para de crescer e enchemos o peito sempre que falamos da Avaliação”, ressalta.

O terroir da Serra Gaúcha, dos Campos de Cima da Serra, da Campanha Gaúcha e do Vale do São Francisco esteve representado nas 16 amostras degustadas, mostrando que o Brasil tem vinhos de qualidade em diversas regiões do país. Para se chegar a este resultado, um grupo de 120 enólogos avaliou às cegas as 337 amostras inscritas por 47 vinícolas. Deste total, 105 se classificaram entre as 30% mais representativas. Os 16 vinhos degustados foram selecionados entre este universo seguindo normas internacionais e o regulamento da Avaliação (veja no final da reportagem a relação das vinícolas vencedoras).

O evento exibiu a diversidade de variedades de uvas cada vez mais utilizadas pelas vinícolas, comportamento que responde a demanda dos consumidores em busca de novidades. Das 105 amostras classificadas entre os 30% mais representativas da Safra 2019 estão 13 variedades tintas (Alicante Bouschet, Ancellotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec, Marselan, Merlot, Petit Verdot, Pinot Noir, Shiraz, Tannat, Teroldego e Touriga Nacional) e 11 brancas (Chardonnay, Gewurztraminer, Malvasia de Cândia, Moscato Giallo, Moscato R2, Pinot Gris, Prosecco, Riesling Itálico, Sauvignon Blanc, Verdejo e Viogner). Entretanto, por outro lado, castas tradicionais como as tintas Merlot e Cabernet Sauvignon e a branca Chardonnay continuam liderando a quantidade de amostras. A turismóloga Ivane Fávero e o enólogo Lucindo Copat foram os homenageados deste ano com o Troféu Vitis Amigo do Vinho Brasileiro 2019 e Destaque Enológico 2019, respectivamente. A distinção é o reconhecimento prestado pela ABE a pessoas que em sua trajetória pessoal e profissional contribuem para a promoção do vinho brasileiro.

AS 16 AMOSTRAS
CATEGORIA VINHO BASE ESPUMANTE

Chardonnay – Vinícola Salton – Bento Gonçalves (RS)
Chardonnay – Domno do Brasil – Garibaldi (RS)
Chardonnay / Pinot Noir – Chandon do Brasil – Garibaldi (RS)

CATEGORIA BRANCO FINO SECO NÃO AROMÁTICO
Verdejo – Vinícola Terranova – Casa Nova (BA)
Chardonnay – Casa Valduga – Bento Gonçalves (RS)
Chardonnay – Vinícola Almadén – Santana do Livramento (RS)

CATEGORIA BRANCO FINO SECO AROMÁTICO
Sauvignon Blanc – Vinícola Campestre - Campestre da Serra (RS)
Moscato Giallo – Sociedade de Bebidas Panizzon – Flores da Cunha (RS)

CATEGORIA VINHO TINTO FINO SECO JOVEM
Merlot – Guatambu – Dom Pedrito (RS)

CATEGORIA TINTO FINO SECO
Merlot – Casa Perini – Farroupilha (RS)
Cabernet Franc – Estabelecimento Vinícola Valmarino – Pinto Bandeira (RS)
Ancellotta – Cooperativa Agroindustrial Nova Aliança – Flores da Cunha (RS)
Tannat – Família Bebber – Flores da Cunha (RS)
Merlot – Vinícola Miolo – Bento Gonçalves (RS)
Alicante Bouschet – Cooperativa Vinícola Aurora – Bento Gonçalves (RS)
Tannat – Vinícola Don Guerino – Alto Feliz (RS)

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Quarta, 11 Dezembro 2024

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