BC reduz juros básicos da economia para 2% ao ano
Em meio à crise econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus, o Banco Central (BC) diminuiu os juros básicos da economia pela nona vez seguida. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic para 2% ao ano, com corte de 0,25 ponto percentual. A decisão era esperada pelos analistas financeiros. Com a decisão desta quarta-feira (5), a Selic está no menor nível desde o início da série histórica do Banco Central, em 1986. De outubro de 2012 a abril de 2013, a taxa foi mantida em 7,25% ao ano e passou a ser reajustada gradualmente até alcançar 14,25% ao ano em julho de 2015. Em outubro de 2016, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018, só voltando a ser reduzida em julho do ano passado.
Segundo o comunicado público, os membros do comitê afirmaram que a pandemia da Covid-19 continua provocando a maior retração econômica global desde a Grande Depressão. "Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores recentes sugerem uma recuperação parcial. Os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos, apesar da recomposição da renda gerada pelos programas de governo. Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais", detalha o documento.
O Copom avaliou que diversas medidas de inflação permanecem abaixo dos níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária, porém, permanecem fatores de risco. "Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança por precaução. Por outro lado, políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. Adicionalmente, os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos. Esse conjunto de fatores implica, potencialmente, uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária", prevê o Copom.
O Copom entendeu, de acordo com o relato enviado pelo BC, que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, "mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno." Ou seja, eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva. Por isso o BC afirma que não antecipa reduções no grau de estímulo monetário, a menos que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estejam suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária, que atualmente inclui o ano-calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022.
Repercussões
"Um novo corte dependerá da retomada da atividade econômica e da inflação, embora o Banco Central tenha outras formas de injetar liquidez na economia ou outros mecanismos de política monetária", acredita o economista da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti. E, se depender ao nível de atividade econômica, retomada do consumo e dos índices inflacionários, pode até haver espaço para novas quedas da Selic, porém, a princípio, o possível corte residual pode ser o último neste semestre, pois, o mercado diminuiu pela segunda semana consecutiva as estimativas de alta deste ano, de 1,67% para 1,63%.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia como positivo o novo corte. Na avaliação da CNI, a baixa taxa de inflação permite a manutenção de uma política de redução de juros e aumento da liquidez como forma de estimular o consumo e o investimento. "A continuidade do afrouxamento monetário deve contribuir para a queda no custo do crédito. Neste momento, de intensa necessidade de financiamento por parte das empresas, para a manutenção dos empregos e para o pagamento de despesas fixas, o crédito pode ser determinante entre uma empresa abrir ou fechar suas portas nos próximos meses", afirmou Robson Braga de Andrade, presidente da entidade, em nota.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) avaliou que a redução é mais um esforço para auxiliar na retomada econômica do Brasil. "Passada a tormenta causada pela pandemia nos meses de abril e maio, ainda é preciso ter cautela com a recuperação da atividade, que não tem retomado em todas as regiões e setores. Não podemos esquecer que o país já vinha em um lento processo de retomada do crescimento antes do coronavírus", declarou Gilberto Petry, presidente da entidade, também através de nota. Na visão de Petry, o novo corte auxilia a recuperação, especialmente considerando o desafio fiscal que se desenha para os próximos anos. As federações de indústrias do Paraná (Fiep) e de Santa Catarina (Fiesc) não se manifestaram sobre a decisão do Banco Central.
Comentários: