Assim não dá
Um senador pelo Distrito Federal emprega nada menos que 85 assessores parlamentares. É com nosso dinheiro que o gabinete gasta R$ 553 mil ao mês na farra. Anualize-se a cifra e teremos o faturamento de uma empresa média. Tudo isso para a glória de sua Excelência que, com toda naturalidade, navega sobranceiro para além do abuso, certo que está do caráter redentor de seu mandato, e a salvo de dúvidas de que exerce uma prerrogativa inerente à função, qual seja, a de ocupar todas as brechas que lhe faculta o regimento para engrossar o eleitorado, promover-se e, é evidente, reeleger-se mais adiante. É psicopatia ou mau-caratismo? Se a mesma prodigalidade não se aplica aos 80 pares, registre-se que a média é de 34 assessores por parlamentar. Quanta distorção.
Nunca vi um povo falar bem de seus políticos. A reação mais comum é de indignação, quando não de escárnio. O máximo de benevolência se traduzirá em leve indiferença e um levantar de ombros. Um finlandês dirá que os tolera, que eles são um elo de mediação, mas que precisam ser monitorados de perto. Se há rara nota de louvor, digamos naqueles Emirados ricos em energia e pródigos nas benesses, esta se deve a que para muita gente a autoridade política deriva de uma espécie de unção divina. Se está ali e comete patifarias, isso se deu com a anuência de um ser superior. Resignados, os súditos baixam a cabeça e se abrigam sob as asas poderosas. Na África, o emprego público é um abra-te-Sésamo, figura de linguagem gestada em "Ali Babá e os 40 ladrões."
Dia desses li que o presidente de Portugal ganha 78.276 euros ao ano. Ou seja, o gabinete do senador pelo DF gasta, sem contar o salário dele, algo como 17 vezes os proventos de um mandatário europeu. O dia vai chegar em que excrescências administrativas dessa ordem serão evisceradas à luz do dia. E diante da comoção geral, é possível que o povo ocupe as ruas e se organize até para que a Casa seja fechada, mandando para as calendas quaisquer pruridos democráticos. Nesse contexto, a criação de relações conspícuas em Brasília atesta o fracasso da criação da capital. Isolados do Brasil, e mancomunados por um sólido espírito de corpo, voamos em direção a um muro de concreto e será inconcebível imaginar soluções não-disruptivas para escândalos em cascata.
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