A brasileira com que sonha Raul
Semana passada, quando ainda estava em Portugal, um desses novos amigos que mais parecem conhecer-me há décadas, perguntou se a mulher brasileira constitui um todo mais ou menos uniforme, ou se havia diferenças marcantes de acordo com a região. "Sabes o tipo de brasileira que me agrada, ó Fernando? Uma mulher assim como a Juliana Paes. Onde se encontra esse tipo? E digo mais: não me apetecem mulheres excessivamente emancipadas, que tomam as iniciativas, estás a perceber? Prefiro as mais conservadoras, se é que ainda existe."
A pergunta genérica foi fácil de responder. "As brasileiras são tão diferentes quanto podem ser russas da Sibéria ou moscovitas. E portuguesas de Lisboa ou transmontanas. Ou bascas aqui no país vizinho e andaluzas. Entendo o que queres dizer. Mas há sim um impacto no jeitão de ser de acordo com a região e, é claro, dos temperamentos individuais – que nem sempre são ditados pelo meio. Quanto à tua musa (que é o oposto radical de meu tipo, apesar de vistosa), acho que é do Rio. Mas poderia ser de várias regiões. Respondi?" Fiquei com a impressão de que ele queria mais.
O que mais dizer ao amigo, se foram poucas minhas experiências nesse domínio? Se ao menos ele perguntasse sobre mulheres de outras nacionalidades, eu ficaria mais livre até para inventar um pouco, e a mentira passaria despercebida. Mas falar da própria casa é bem diferente. O mais interessante que arranjei para dizer foi que tive namoradas nos três estados do Sul – uma feliz coincidência. Ajudado pelo clima frio, pela vida cultural de Porto Alegre, Caxias do Sul, Joinville e Curitiba, fui sim bastante feliz. Mas o que ressaltar de características marcantes?
"Veja bem, amigo, achei as gaúchas muito divertidas em seu bairrismo assumido. São informais, diretas, boas de copo e há de se sondar direitinho se são gremistas ou coloradas para não queimar a largada. Achei as catarinenses mais refinadas e um pouco contidas. Como é corriqueiro na região, podem ter várias origens étnicas, o que resulta em rostos lindos, e isso é agradável. Foi no Paraná que tive relações mais longas e profundas. Namorar em Curitiba já é um plus com relação a qualquer outro lugar do Brasil. Como não sou grande esportista, a vida intimista é boa pedida".
Mas meu amigo não estava satisfeito. "E Rio, São Paulo, onde ficam elas neste quesito?" Ora, no Sudeste temos não somente a síntese do Brasil, mas a síntese do mundo. "Se eu fosse jovem como tu, tentaria um relacionamento com uma oriental. São Paulo facilitaria a tarefa. As mulheres cariocas são tidas por engraçadas e mordazes. Nunca namorei com capixabas, mas para compensar, conheci mulheres de diferentes regiões de Minas Gerais e de Goiás. Muitas vezes tens uma mistura de sangue português e sírio-libanês, o que resulta muito original." Mas ele permaneceu indiferente.
"E o que dizes de tuas conterrâneas do Norte-Nordeste?" Eis a parte mais difícil. "Não sei o que te dizer. Nunca conheci a fundo uma mulher do Norte, do Amazonas. Tampouco da Bahia, Alagoas, Ceará ou Rio Grande do Norte. O que posso dizer é que as pernambucanas costumavam ser afáveis. São por certo opinativas e têm temperamento forte. Mas acho que o gelo derrete com teu sotaque lusitano", disse para animá-lo. Ainda não convencido, ele admitiu a razão da pesquisa. "Gostei de uma certa Carla, do Pará." E, sorrindo triste, apontou a fachada da propriedade da família.
Só então percebi o letreiro discretíssimo : "A caminho de Belém". Ô Raul, por que não falaste logo, rapaz? Por que me fazer começar lá pelo Sul, quando teu interesse estava a mais de 3 mil quilômetros de distância? "É que estava gostando das descrições do Fernando. Mas perdi o rastro da Carla, pá".
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