PIB agropecuário do RS deve crescer 7,5% em 2020
O preço da carne se tornou o vilão da inflação em novembro, mas isso passa longe da ideia de que o produtor da proteína esteja enchendo os bolsos graças à elevação do valor. É o que defende a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul). A representante do setor justifica: no auge da operação Carne Fraca e da delação da JBS, o preço pago para o pecuarista caiu 18,3%, enquanto o preço nas gôndolas não baixou para os consumidores. Por outro lado, com o aumento repentino de demanda, devido às importações chinesas e a entressafra brasileira, fez o valor da arroba bovina saltar de mais de 34% no mês passado, atingindo recorde histórico na casa dos R$ 230. “Temos aumento no abate, de 0,5%, e do Valor Bruto da Produção, de mais de 10%. A gente entende o consumidor, que não teve redução na baixa, mas agora na alta, está pagando mais”, comenta Antônio da Luz, economista-chefe da entidade. Esse foi um dos assuntos que mais debatidos na apresentação do relatório econômico do ano e perspectivas para 2020, realizado nesta terça-feira (10), em Porto Alegre (RS).
A verdade é que o preço só deve cair a partir do segundo trimestre de 2020, com o fim da entressafra e consequente aumento da oferta. Por outro lado, a demanda chinesa deve se estabilizar também, especialmente por conta das políticas locais de incentivo para a produção de proteínas que demandem menos tempo para ficarem prontas para o abate, como frango e peixes. “Para 2020, estimamos que o preço fique por volta dos R$ 200 por arroba do boi gordo”, projeta o economista. Tanto nas carnes quanto nos grãos, a expectativa é de um bom ano, especialmente pela alta cotação da moeda norte-americana – benéfica às exportações.
O Rio Grande do Sul deve ter em 2020 recorde no Valor Bruto de Produção (VBP) da colheita de grãos, alcançando R$ 36, 1 bilhões, alta de R$ 4 bilhões em relação a 2019, segundo projeção da entidade. O aumento de 7,5% projetado para o PIB do setor primário no próximo ano envolve, além da pecuária de corte, o aumento da área plantada e de produção. Em 2019, as lavouras já haviam sido expandidas em 1,9%, especialmente na Metade Sul do estado. O destaque da produção ficou para a soja e para as culturas de inverno, como trigo, aveia e cevada. Além disso, quem também performou bem foi o milho, que registrou alta de 25,7%. A Farsul vislumbra uma colheita de 35,4 milhões de toneladas.
Por outro lado, a safra de arroz padeceu sob a enchente que inundou os campos da Campanha e Fronteira Oeste no início do ano. A redução na produção foi de 14,6% e impulsionou uma redução ainda maior das áreas destinadas para o cultivo do grão. “O consumo de arroz tem caído nos últimos anos por conta da crise. Entrou em 2019 com baixos estoques, veio a enchente, se plantou menos área. Entraremos em 2020 sem estoques. Existe o risco de aumentar o preço, mas é importante que se lembre de todo esse histórico”, ressalta Luz.
Se a alta do dólar contribui para os exportadores, também acende um alerta em relação aos insumos importados. Mesmo que regiões dos Estados Unidos tenham sofrido com chuvas torrenciais e inundações sobre áreas já plantadas – o que fez com que sacas de fertilizantes acabassem vindo para o mercado brasileiro com preço mais baixos –, boa parte dos produtores não tem caixa ou capacidade para comprar e fazer grandes estoques agora. “Vale a pena estocar para a safra de 2021, mas nem todos os produtores conseguirão. Acaba que o dólar elevará custos da próxima safra e nem todos eles o produtor consegue repassar ao comprador. Isso vai exigir atenção em 2020”, ressalta o economista.
Em meio a isso, a Farsul vê como insuficiente a política de crédito e seguros para o campo. Só no ano passado, caiu em 8% o número de produtores que acessam o crédito rural. “A inflação em queda e, até recentemente, os produtores pagavam juros altos, superiores à Selic. Não temos mais subsídios, como em anos anteriores. Se for para dar algum subsídio, que seja para o seguro rural”, exclama Gedeão Pereira, presidente do Sistema Farsul. Para o líder, a entrada de bancos privados na disponibilização de crédito e a possibilidade as Cédulas do Produtor Rural (CPR) possam ser referenciadas em moeda estrangeira – certificados com lastro em dólar ou euro, por exemplo – são ganhos para o setor, além de atraírem recursos de fora do país.
O presidente também ressalta como positiva a suspensão da vacina contra febre aftosa no rebanho gaúcho. “O Sul é uma área interessante para testar a suspensão, seria como um experimento para a América Latina. Santa Catarina já não vacina há tempos. Por outro lado, teríamos os estados do Mato Grosso do Sul e São Paulo vacinando, o que geraria uma barreira para a circulação do vírus. Teríamos de cuidar dos portos e aeroportos, mas é uma região tranquila”, argumenta Gedeão. Ele também assinalou que quem tomará a decisão sobre a suspensão ou não serão os sindicatos rurais. Em outubro, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, autorizou a suspensão da vacinação no Paraná a partir de novembro. Já os catarinenses estão há 26 anos sem focos da doença. Atualmente, o Rio Grande do Sul, que é considerado zona livre de aftosa com vacinação, busca evoluir seu status sanitário.
Veja mais notícias sobre Agronegócio.
Comentários: